ÁGUIA PEQUENA
Era uma vez, uma exuberante floresta por trás das colinas,
Um lar de grandes árvores seculares e belíssimas cachoeiras,
Lá habitava uma tribo de guerreiros ancestrais,
Onde nascera o Águia Pequena...
Segundo os anciãos, o pequeno indiozinho, seria um grande guerreiro,
Mas antes para isso, teria que enfrentar a Mãe Natureza e os seus mistérios...
Certa noite, Águia Pequena é deixado dormindo no centro da floresta,
E quando acorda, já se encontrara sozinho...
Começa a caminhar sobre a escuridão da mata,
E logo é surpreendido por uma onça pintada que lhe fala:
- Onde pensa que vai indiozinho?
O mesmo indaga: Sabia que isso não são modos de receber um guerreiro?
- Estou pronto para enfrentar a Mãe Natureza...
E a onça sorrindo, se aproxima de Águia Pequena e diz:
- A Natureza não se enfrenta criança, ela se domina...
Tudo nela sempre nos parecerá ofensivo, se não a conhecemos de verdade,
Cada ser em si, defende a sua própria existência e às vezes até, precisa defender-se contra si mesmo...O pensamento conduz a ação, mas nem toda ação praticada é devidamente medida, amiguinho. Olhe a sua volta, tudo que existe aqui é vida, as árvores, os pássaros, os animais e as plantas. Enfrentar a Natureza, é dominá-la e dominar-se, respeitando-a em sua trajetória e em seu grandioso conteúdo. Todos precisam compreender que a máquina da vida necessita de todas as suas engrenagens, aqui, e em todos os lugares, agora e para todo o sempre....Portanto, segue amiguinho, e domine o mundo a sua volta; quando nesse estágio chegar, poderás então se considerar um grande guerreiro...
E a partir daquela noite, Águia Pequena inicia sua jornada de auto-conhecimento...
(Sandro de Menezes Azevedo -GES)
A PEQUENA GAIVOTA
Uma pequena gaivota cortava os céus, cheia de contentamento, quando percorria às largas extensões dos oceanos, e deslumbrava às belas paisagens esculpidas nas florestas...
Um belo dia, em um de seus passeios, ela encontra uma velha águia que a observa de um galho de uma Oliveira. Ao perceber aquela ave ali parada apenas a lhe observar, a pequena gaivota resolve se aproximar.
- Bom dia Srª Águia! O que fazes aqui parada, enquanto tu mesmo poderias estar planando por essas extensas maravilhas?
A velha Águia sorri para a pequena gaivota, e responde:
- Apenas observo.
Sem compreender sua resposta, a infante gaivota, indaga:
- Observas o que? Poderias me dizer? Se tudo que existe na imensidão, não podes daqui alcançar, pendurada neste galho.
E mais uma vez a velha Águia sorri, agora dizendo:
- Querida irmã, o infinito habita dentro de nós...Tu és jovem e cheia de vida, imaginas que em teus vôos audaciosos tudo podes conhecer, mas tu se enganas...
Podes percorrer milhas, mas se não tiveres a percepção do que as mesmas te representam, trilharás sempre por caminhos desconhecidos, e jamais compreenderás o sentido da beleza que te convida...
Por outro lado, se constantemente se recolhes em um galho para observar, refletirás sobre tudo aquilo que estás a contemplar, e claramente, seu pensamento mais veloz se tornará, e até mesmo a força de suas asas, ele superará....
O Vôo é necessário, eu sei, mas importante se faz, que antes saibamos lhe dar uma razão para existir...
O PORQUINHO
Já era tarde...
Perto das seis horas,
Um lindo porquinho caminhava solitário...
Lembrava do papai antes daquele jantar de formatura,
E da mamãe, antes daquela ceia de Natal,
As últimas palavras, os últimos conselhos,
Que lhe vinham à tona em uma suave brisa que naquele instante passava...
Onde será que eles estão? Indagava o porquinho.
E naquela noite estrelada, resolveu conversar com os astros...
Perguntou para a lua: Dona lua, a Senhora sempre está aí, porque nunca vai embora? A lua ternamente lhe responde:
- Me colocaram aqui porquinho, tenho uma missão a cumprir...
Daí o porquinho vê uma linda estrela brilhante e pergunta: Porque as estrelas brilham? A estrela responde: Quando nascemos, não brilhamos, precisamos de milhões de anos para isso...
O porquinho não compreende a estrela, mas continua a admirar aquela imensidão...
Daí, ele avista um cometa que passa velozmente cortando o céu...
E curiosamente pergunta: Porque o senhor está sempre com pressa?
O cometa lhe responde: Lindo porquinho, por aqui estou apenas de passagem, e tenho meu tempo determinado...
O pequeno animalzinho, ainda sem entender, avista um anjo, que dele calmamente se aproxima e diz: criança, assim como são os astros, são as criaturas da terra...Observe a lua, ali ela exerce o seu papel, e consagra a sua existência...Veja as estrelas, elas brilham intensamente, mas um dia deverão se apagar, para que outras tomem seus lugares...Está vendo aquele cometa? Ele está passando, assim como a vida lhes passará...Assim como já passaram sua mamãe e seu papai...
O céu não é lindo? Sim! E é lá onde todos deverão se encontrar, onde você também, porquinho, um dia encontrará seu lugar...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
O URSINHO COALA
Há muitos e muitos anos,
Numa perdida ilha do Pacífico,
Vivia um Pequeno Urso Coala...
Em seu mundo solitário, refletia,
E todos os dias conversava com as árvores,
Com as plantas e com as flores...
Pois era o único animalzinho que ali existia...
Um certo dia, quando o sol mais uma vez acordava,
O nosso amiguinho é surpreendido por um misterioso ruído na mata...
Levantando-se então, corre em direção à origem daquele alarme.
Chegando lá, encontra uma linda Gaivota machucada...
Imediatamente lhe toma em seus braços e lhe oferece os seus cuidados.
Após uma semana, a ave já estava completamente restabelecida,
E sentindo-se melhor, fala para o Coala:
- Agradeço por toda a atenção e todo o amor que me dispensastes, no entanto, fico a me questionar como um ursinho tão pequeno e tão indefeso, consegue viver só numa ilha tão grande e tão perigosa?
Com olhar gracioso e sorriso terno, o urso coala responde à curiosa Gaivota:
- Querida amiguinha...Você está vendo àquele rio? É nele que todos os dias eu me banho, e apesar de nele não existirem peixes, é nele que me refresco e me recomponho; Observe aquele tronco, é nele que sempre repouso e descanso, e apesar dele não possuir mais vida, é sobre ele, que encontro os meus sonhos...Olhe em sua volta, quantas árvores não? Elas me oferecem seus frutos, e deles eu me alimento...Está vendo que lindas flores existem ali? Como às admiraria se eu não estivesse aqui? Seria mais uma beleza perdida entre tantas e tantas outras desconhecidas...Por fim, foi nesse pequeno e indefeso urso solitário, que encontrastes o socorro preciso para prosseguires em sua viagem...Portanto, voa amiguinha, e para onde tuas asas te levarem, espalha carinhosamente, que em algum lugar do pacífico, existe uma ilha perdida e um urso solitário, mas que também lá, existe o Amor de Deus representado...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
O PALHAÇO TRISTE
Em uma cidadezinha do interior,
Preparava-se para mais um espetáculo,
“O Grande Circo Sorriso”...
Nele trabalhava um simples palhaço,
Que a todos alegrava...
Amigo, companheiro sem igual,
Sempre pronto a colaborar...
Durante o dia, reunia crianças em um orfanato,
E à noite trabalhava no circo...
O que mais impressionava seus companheiros,
É que o mesmo, era muito triste,
E não compreendiam como ele conseguia fazer uma platéia sorrir,
Era o palhaço mais conhecido da região...E isso lhes causava inveja.
Um belo dia, sobre o picadeiro,
Seus colegas de trabalho se reuníram,
E chamaram-lhe atenção:
Ô palhaço, você pode vir aqui um instante?
E com um tom irônico, um deles pergunta:
- Não vai chorar hoje não?
Lá de trás, sobre muitas risadas, alguém zomba:
- Ele só gosta de chorar escondido...
E em meio àquela gozação desmedida,
Um outro ainda diz:
- Fale alguma coisa chorão!
E com um semblante terno e pacífico,
O palhaço ajoelha-se sobre seus companheiros, e diz:
- Sou um palhaço triste de muitas lembranças,
Nenhum de vocês conhece o pranto quanto eu...
Porque faço sorrir, isso não me impede de chorar...
Ninguém merece compartilhar uma lágrima triste,
Tudo que sou, é por conta do que existe...
Enquanto vejo a alegria transbordar nas faces dentro de um circo,
Enxergo também a solidão das crianças órfãs que não conhecem o sorriso...
Portanto, alegro a todos em contra-partida,
Pois prometi à mim mesmo, comprometer-me com a alegria dos outros,
E carrego comigo a tristeza daqueles exclusos,
Hoje, e por toda a minha vida,
Enquanto existir se quer uma lágrima...
Depois desse lindo depoimento,
Um a um, foi se retirando do picadeiro...
E àquele palhaço triste,
Sorrindo, diz prá ele mesmo:
- Obrigado Sorriso...
(Sandro de Menezes Azevedo- GES)
O REI DAS FORMIGAS
Em meio a uma turbulenta tempestade,
Uma formiga operária é arrastada pela força das águas...
Sem chances de competir com a feroz correnteza,
É levada impiedosamente, para bem longe de seu habitat...
Ao perceber que lentamente as águas se abrandaram,
A pequenina consegue finalmente sair de um córrego estreito,
Com certa dificuldade...
Olha para os lados, e tudo lhe parece estranho,
As árvores, as plantas, e até mesmo as flores...
O vento soprava leve, e o sol brilhava em um lindo céu de azul turquesa...
Mesmo cansada, põe-se a caminhar...
Ao longe, avista um enorme formigueiro, e resolve aproximar-se.
Fica maravilhada ao ver que belas cortinas brancas realçavam a sua entrada...
Intrigada com todo aquele sonho enigmático, resolve enfim, adentrar-lhe...
Uma luz contagiante envolvia um imenso salão prateado,
Lindos candelabros, emitiam chamas de inusitadas cores...
Lentamente, dela se aproxima uma majestosa Rainha de vestidos longos,
De semblante terno e sorriso agraciador...
Ao chegar frente à frágil formiga, diz com emoção:
A natureza é grandiosa, e infinitas são as formas de perceber-lhe com clareza,
Nada se faz impreciso, tão pouco, desnecessário para que ela avance incondicionalmente...
Os animais e as plantas, as águas e os ventos, os céus e as constelações,
Todos necessitam moldar-se ao seu preciso crescimento...
A vida é um infinito processo de transformação, que hora nos mantém limitados ao destino e a sorte, e hora nos convida, a compartilhar novas dimensões...
Sua passagem, através da velocidade das águas que aqui lhe trouxeram, não foi mais que um mérito por ti adquirido...Horas atrás, eras uma simples formiga, no esforço do trabalho edificante, cumprindo deveres e avançando... Bendita aqui sejas tu, sofrida operária, entrego-lhe nesse momento, à posição de Rei da Esperança. Apenas continuas honrando o teu dever, e verás que muitos dos seus companheiros que lá ficaram, nesse exato momento, necessitam de você...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
O PEQUENO SOBREVIVENTE
Perdido no meio dos escombros de uma cidade recém-devastada por um tornado, um garotinho, une múltiplos esforços na procura de outros sobreviventes. Após dias de buscas sem sucesso, conforma-se em ser o único a sobreviver àquela catástrofe. Com frio e fome, procura abrigo, e encontra uma pequena casinha que resistira à tamanha força da Natureza, e ali resolve ficar. Meses se passaram e nenhum sinal de respiração ou movimento. Um belo dia, nosso amiguinho resolve sair e contemplar o Céu...E vê que as nuvens ainda estão lá, o Sol com excelência permanece a brilhar, e ao cair da noite, a lua e as estrelas tomam mais uma vez o seu lugar...
Olha pela última vez para os destroços do que tivera sido sua cidade natal, e voltando-se para a imensidão do firmamento reflete...
Onde antes eu pensava ver tudo, hoje nada vejo; Onde acreditava tudo possuir, hoje nada tenho; Onde imaginava existir a alegria para viver, hoje percebo apenas o vazio...
Entretanto, quando elevo-me em pensamento, e meus olhos conseguem deslumbrar a beleza do infinito, através do Sol, que sempre ilumina e vitaliza; através das nuvens, que com suavidade demonstram a sutileza das formas e a grandeza do vento; através da Lua, que meio a escuridão da noite nos observa, e nos faz companhia; através das estrelas enfim, que nos apontam um novo sentido para a vida e um novo despertar para a eternidade, compreendo que somente hoje sou capaz de perceber a essência do que sou, e a razão para o que hoje contemplo...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
O PEQUENO URSO
Uma enorme floresta cercava as encostas de um estreito rio...
Nela vivia um pequeno urso, que ainda sob os cuidados de seus pais, descobria a inevitável lei da sobrevivência. Com dedicação, foi aprendendo a arte da pesca, até que um belo dia, em uma das margens de um rio, ele avista um lindo peixinho azul, que livremente nadava...Impressionado com a coloração diferenciada daquele ser que se movimentava sobre as límpidas águas daquele córrego, o pequeno urso corre velozmente em sua direção, num incansável esforço para capturá-lo. Após algumas tentativas frustrantes, consegue finalmente abocanhá-lo; mas na curiosidade de apreciar o que deveria ser a sua próxima refeição, leva-o para fora do rio e solta-o sobre a areia. É quando, sem esperar tem a maior lição da sua vida...
O peixinho o fala com ternura:
- Querido ursinho, estou muito feliz por ter me achado, sei que desejas devorar-me, mas antes gostaria de te dizer que estou perdido à muitos dias, e que sou órfão de pai e mãe, eles foram devorados a um mês, e desse dia para cá, estou sozinho, pois não consigo fazer amizade com os outros peixes. Eles não me aceitam porque sou diferente, aliás, acho que sou o último peixinho azul dessas águas...
Queria muito conversar, ter um amigo, fazer da minha existência, um motivo de vida para todas as outras espécies. Minha sobrevivência desde então, tem sido a minha própria vontade de viver, e mesmo na solidão, aprendi que cada peixinho tem um lindo motivo, e percorre um livre destino, contribuindo com a vida em sua mais sublime essência. Você me encontrou, e nesse momento, você é o meu destino...
Com lágrimas nos olhos, o pequeno urso devolve cuidadosamente o peixinho ao rio, dizendo-lhe:
- Milhões de peixes existem nessa imensidão. Não são azuis, e nem todos trazem a sua História...A sobrevivência das espécies, jamais deverá justificar a extinção de outras remanescentes da mesma terra...Agora exatamente peixinho, você é quem passa a ser o meu destino...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
O PEIXINHO
Era uma vez um peixinho,
Que não conhecia o mar,
Sonhava com as conchas, e com os golfinhos,
Com os corais, e outros amiguinhos...
Um dia resolveu descer o rio,
Se despediu de todos que ali viviam,
E assim ele partiu,
Rumo ao desconhecido...
Atravessou correntezas bravias,
Desviou-se das redes e dos anzois,
Enfrentou tudo sozinho,
Para chegar ao seu mar das maravilhas...
Já cansadinho, no mar ele chegou,
Fechando os olhos, Deus ele avistou,
E com ele um lindo arco-íris,
Que mergulhava no azul...
Foi recebido por lindas baleias brancas,
Que o acolheram com carinho,
O sol lhe sorria, e o céu cintilava...
Ao rio, o peixinho não mais voltara,
Pois o seu corpinho, na Terra ficara..
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
ÉRAMOS TRÊS
Existia um lindo bosque por trás das montanhas...
E entre os seus habitantes, havia um Leão, uma Raposa e um Coelho...
Certo dia, a tranqüilidade desse lugar é invadido pelo fogo, e um grande incêndio é desencadeado...
Desesperados, todos correram para salvarem suas vidas. O Leão foi para o Sul, A Raposa para o Norte e o Coelho para o Leste. Em poucas horas, já não havia alma viva no bosque...
Os anos se passaram, e os três animais não mais se encontraram, até que numa bela manhã de primavera, eles resolvem retornar à terra natal. Chegando lá, logo vem a surpresa do reencontro...
O Coelho pergunta ao Leão:
- O Rei da Selva por acaso sabe dizer para onde foram todos?
O Leão ainda confuso, responde:
- Desde àquele incêndio, nunca mais vi ninguém. Suponho que por algum motivo tenham ido para o Oeste.
A Raposa, por sua vez, se comporta com a maior naturalidade, causando um certo desconforto nos dois amigos que indagam:
- Parece-nos que não vês nada de estranho por aqui Srtª Raposa!
A mesma sabiamente, fala para os seus companheiros:
Não há realmente nada de estranho com a Natureza. Ela se transforma à medida em que se transformam os seres que nela vivem, e mantém-se somente enquanto encontra o seu equilíbrio. Éramos as três peças-chaves desse pequeno bosque...
Você Leão, era a Coragem que se deslocou para o Sul,
Tu Coelho, era a Astúcia que se transportou para o Leste,
E eu a Sabedoria, que migrou para o norte...
Sem a nossa presença, todos os outros sentiram-se indefesos, portanto, fugiram para o Oeste, na esperança de retomarem o equilíbrio aqui perdido...
Nunca se esqueçam meus amigos, a fortaleza de um rebanho, está na força de quem o guia...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
O GRANDE COGUMELO
Em um extenso bosque no centro-sul da Floresta Africana, existia um lindo cogumelo, que ultrapassa as árvores. De cores alegres e de uma irradiação sem igual, causava inveja à essas companheiras, que não se conformavam em dividir a altura do bosque com aquele ser que aos poucos se transformava no centro das atenções...
Um certo dia, às árvores resolveram conspirar contra o Cogumelo, para que o mesmo deixasse aquele lugar. Começaram interrogando os macacos, que por sua vez, concordaram que ele saísse dali, pois o mesmo não possuia galhos, e isso atrapalhava os seus trajetos...Depois questionaram aos morcegos, e estes, também às apoiaram, alegando que precisavam somente delas, para que entre as folhas, pudessem se esconder da luz do sol; Pediram também a opinião das formigas, que disseram não ter nenhum interesse em construir colônias náquele tronco liso e úmido, e que preferiam que o espaço fosse desocupado...Resolveram por fim, consultar a sábia Coruja, que rapidamente formaliza seu discurso:
- Minhas queridas irmãs, sois a grande parte colonizadora deste imenso bosque, tendes o domínio das largas extensões, meu dever é questioná-las em que na realidade implicam as cores e o tamanho do nosso amigo solitário? Saibam que a Beleza não se mede nem pela sua extensão e nem pelo seu domínio, mas sim, pela simplicidade na qual se revela, e pela razão ao qual a mesma objetiva. Se reivindicam a Beleza, sejais como ele, que nada diz, nada pede e nada reclama, simplesmente cumpre o seu papel, diante da tarefa que lhe foi confiada. Entendam que todas vocês são belas e graciosas, mas que este Cogumelo, que aqui nascera, é a Luz que todas vocês precisam para que compreendam a essência da Divina Beleza...
E ainda vos digo,
Sem galhos para os Macacos, ele lhes oferece sombra e descanso...
Sem folhas para os Morcegos, ele lhes protege da chuva e alimenta-os...
Sem troncos apropriados para as formigas, mesmo assim, ele lhes oferece o terreno propício para multiplicarem-se...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
A BALEIA BRANCA
Vivia sobre às águas profundas da Costa Africana,
Uma linda Baleia Branca...
Apreensiva em ser capturada e morta, jamais chegara a superfície,
E escondida no fundo do Oceano, vivia a lamentar...
Um certo dia, quando dormia, uma voz lhe aparece em sonho:
- Tendes medo do Destino? Aqui, tudo lhe é limitado, as águas são escuras e silenciosas,
Os poucos seres que aqui habitam, se escondem sobre as pedras, e se calam...
Você precisa sentir a luz do Sol, e compreender que os seus raios, nascem à uma distância quase incalculável, para nutrir o planeta em que vives...
Precisa deslumbrar as estrelas, e entender que as mesmas nunca se escondem, e por isso nunca se apagam...
Você tem o poder de olhar às nuvens, e com elas, viajar na velocidade dos ventos,
Você é parte do céu que está lá fora, completando o limite dos Oceanos...
Encantada com aquela voz, a linda Baleia Branca resolve partir para desvendar a superfície...
Ao chegar lá, fica maravilhada ao ver tanta beleza...
Repentinamente um Arpão cruza o seu caminho, tirando-lhe a vida.
Como despertando de um sono profundo, ouve mais uma vez a linda voz que lhe visitara em sonhos:
- Querida Irmã, subistes de posto...
Ofereço-lhe agora um novo oceano, muito mais profundo...
Ele é seu, para que o explore rumo ao Infinito que agora lhe pertence...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
O CARANGUEJO
Numa linda manhã de outono,
Uma criança, feliz brinca sobre a areia da praia...
Se encanta com a beleza das conchas, o cantarolar dos ventos,
O rolar das ondas...
E em meio a essa bucólica paisagem, começa a pensar no homem,
O porquê do sofrimento, o porquê da maldade, o porquê das guerras...
E ao longe percebe a presença de um pequeno caranguejo, que silencioso passeia sobre a paisagem. Dele se aproximando, a criança começa a observá-lo curiosa...
Nota que seus olhos antenados, mantén-se sempre firmes e atentos, que seu movimento é delicado, e o mais interessante, que seu deslocamento é sempre para os lados e para trás...
Sentindo que a sua presença não assustava o crustáceo, a criança resolve pegá-lo em suas mãos. E olhando-o de perto diz:
- Já venho te observando a algum tempo, sabia? A poucos instantes estava pensando no homem, e de repente, você me apareceu... Daí, me veio uma ligeira comparação entre esses dois seres...Percebi apenas uma pequena diferença, que os caranguejos não andam para a frente não é?
E sabiamente o caranguejo responde para o pequenino:
- O caminho da vida é extenso para uns e curto para outros. Para se caminhar com segurança, é preciso que antes se conheça verdadeiramente o caminho...Quando o homem, repleto de inquietações, inseguranças e traumas, opta por uma jornada, caminha à frente, tropeça e logo cai; Quando o mesmo é ainda, prisioneiro das paixões ilusórias, dos apegos, e dos sentimentos impuros, escolhe um objeto para seus desejos, caminha nessa direção, e encontra o sofrimento; Quando arraigado ao mal, transfere o mesmo de si para o mundo exterior, excitando às armas, os conflitos e consequentemente, às guerras à sua frente...
Nós caranguejos somos diferentes por natureza...
Nos movemos para os lados, explorando e descobrindo novos atalhos para o avanço,
Nos movemos para trás, recuando e nos defendendo de possíveis ameaças do caminho,
E não nos movemos para à frente, pelo simples motivo de que lá está o homem ainda despreparado, destruindo tudo aquilo que encontra em seu caminho...
Se nos movêssemos como os homens, certamente já estaríamos extintos...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
A ÁRVORE DOS SONHOS
Nas profundezas de uma densa floresta escura, existia uma árvore cujas folhagens refletiam a luz do sol, e cuja beleza, dava vida à toda aquela escuridão...
Havia uma pequena raposa, que todos os dias repousava sobre a sombra dessa árvore iluminada e nela depositava seus sonhos...
Um certo dia, um caçador implacável adentra àquela floresta. Animais das mais variadas espécies são acoados e mortos por sua maldade...
Em uma linda manhã de primavera, enquanto a brisa calma da manhã acariciava as folhas e o caridoso sol anunciava mais um dia para as árvores daquele recanto, a pequena raposa em paz, sobre a sombra daquela Árvore frondosa, sonhava com os pássaros, com os castores que corriam sobre os troncos, com os frutos que balançavam sobre o impulsionar do vento, com uma linda luz que lhe cobria, através de uma voz tranquila que lhe falava: Amiga raposa, seus sonhos estão vivos, pois vives esta mesma Paz dentro de si mesma... Em ti o mal não encontra morada, nem pode ameaçar-te, pois a força do Amor reúne todas as forças da Natureza, e essa fortaleza sempre será tua, quando precisares...
Quando menos se espera, àquele caçador, avista a pequena raposa. Mira a sua espingarda em direção àquele ser indefeso, quando prestes a apertar o gatilho, tem a maior experiência da sua vida...
As folhas daquela árvore começam a cair aceleradamente como lágrimas de piedade, a luz do sol invade-lhe os olhos, tirando-lhe a visão...e um vento brusco derruba-lhe, fazendo ecoar sobre as outras árvores uma voz que lhe diz: Homem! Jamais verás a luz do dia novamente, pois os olhos que lhe foram dados para veres a luz, jogastes na escuridão...Ide pois para o vale do sofrimento, lá aprenderás a amar as criaturas de Deus...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
A CORUJA E O GAVIÃO
Há muitos e muitos anos, existiam dois amigos, que com o passar do tempo se afastaram, pois escolheram caminhos distintos. O Gavião, passava a maior parte do dia caçando, e à noite recolhia-se no tronco de uma árvore, quando satisfeita a sua fome. A Coruja, descansava algumas poucas horas do dia, e ao cair da tarde se preparava para reunir à noite, alguns convidados da floresta para falar de Deus, da Natureza e da Vida. O Gavião não concordava com o comportamento da amiga, e sempre dizia que a mesma estava envelhecendo, e que deveria melhor aproveitar o seu tempo.
A Coruja, por sua vez, relevava seus questionamentos:
- Amigo Gavião, temos a oportunidade de optar por nossos destinos, cada um de nós tem o seu senso de razão e de entendimento, longe de mim, querer que transportes sua crença para algo em que ainda não acreditas. Um dia, entretanto, terás o seu momento.
E assim, os dois amigos permaneciam distantes em suas idéias...
Um belo dia, em uma de suas reuniões, a Coruja percebe que naquela aglomeração de bichos, lá atrás, estava o Gavião tentando esconder-se para não ser visto. Feliz, pela presença do amigo, a Sábia Coruja profere nesta noite, um ensinamento especial:
- Amigos da Floresta, que o Senhor de Tudo, nos conceda sabedoria para compreendermos seus ensinamentos...
...Havia um homem que trabalhava dia e noite, para obter o seu sustento, no entanto, esquecia ele dos seus filhos que em casa precisavam da sua atenção e do seu amor. Havia não muito longe, um outro, que dividia suas tarefas para garantir a sua sobrevivência, e a sobrevivência de seus tutelados, não esquecendo de manter-se sempre presente na orientação daqueles que no futuro seriam os novos propagadores dos ensinamentos da Vida... Meus queridos irmãos, a Vida é o maior ensinamento, e através dela aprendemos a dividir o pouco que temos com os que nada tem; Que o Pai a uns dá força, e a outros sabedoria; a uns agilidade e a outros proeza; a uns a busca e a outros a Verdade...
Que sejamos felizes, pela simpres razão de existirmos...E que nossa passagem por este Planeta nos reserve grandes alicerdes de reflexão e de bondade, para que as nossas futuras gerações encontrem Deus a partir da própria respiração e do próprio olfato, e que sejamos merecedores de uma Rica floresta, onde todos possam considerar-se irmãos...
Com os olhos cheios de lágrimas, o amigo Gavião, reserva-se ao encontro daquele ser grandioso, que lhe tinha como irmão e diz:
- Amiga, tens toda razão...Eu fui um tolo, mas agora desejo estar junto a ti, auxiliando os fracos e aprendendo um pouco mais daquilo que hoje aceito...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
A CAVERNA
Durante uma forte tempestade, uma andorinha resolve proteger-se em uma escura caverna...Depois de algumas horas, resolve sair, e para sua surpresa descobre que se perdera dentro daquela escuridão...Desesperada, começa a voar para todos os lados, e o cansaço lhe envolve após repetidos esforços sem sucesso. Indefeza naquele ambiente sombrio, vê-se molestada pelas ameaças dos morcegos:
- Olha só, que coisinha linda veio nos visitar!
- Coitadinha!
Mesmo amedrontado, o pequeno pássaro diz:
- Olá amigos! Estou aqui por um simples engano, vocês poderiam me ajudar a sair?
Um dos morcegos ironicamente responde:
- Ajudar a sair? KKKKKKKKKK
A Andorinha, respira fundo e diz:
- Bem, já que não vamos sair daqui, devemos esclarecer algumas coisas...
Todos que ali estavam, ficaram perplexos, e resolveram então, ouvir o que aquele pássaro tinha a lhes dizer:
- Sou da Luz, e não será a escuridão momentânea que vocês estão me impondo, que fará com que eu dela me afaste. Saibam que a Luz, meus amigos, que habita dentro de cada um, é uma conquista impenetravel...Uma vez que o ser se ilumina, facilmente dissipa qualquer escuridão...
Olhem para vocês... Deste ambiente se alimentam, nele vivem e a ele se projetam. Quando um dia, finalmente conseguirem enxergar a Luz, verão que essa escuridão apenas comprometera seus sonhos e suas liberdades...
...De repente, um raio incandescente invade aquele local, afugentando os morcegos, e mostrando mais uma vez, que a Luz sempre encontra seus eleitos...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)
O PINGUIM IMPERADOR
Na imensidão da Artártida, existia uma colônia de Pinguins Imperadores. O mais novo deles, recém chegado ao mundo gelado, vivia a se questionar o porquê de ter nascido naquele lugar, longe de tudo...
Era um fiel observador, e se destacava, pois se recolhia todas as noites em um pequeno iceberg. Em uma dessas noites, a pequena ave começa a refletir:
Os Icebergs são blocos estéreis de gelo flutuando em águas frígidas e sem vida, mas ocultam sempre seu maior volume debaixo d'água. O que mais eles podem estar escondendo? Na verdade, eles geram ecossistemas próprios. A vida nele e em torno dele prospera. Peixes jovens e de pequeno porte se escondem nas fendas do gelo para escapar dos predadores. Acredito que a "Vida" se compara a essa massa de gelo, que às vezes se forma solitária, e esconde dos olhos, a sua verdadeira grandeza...
Somos capazes de compreender que tudo precisa de uma razão para existir... Veja eu, um simples pinguin, meio a um milhão de outros da mesma espécie, vivendo em grupo, mas pensando sozinho...Buscando me convencer de que sou "a ponta de um gigantesco iceberg", e que de mim partem questionamentos, idéias e concepções que comprometem a todos ao meu redor...
Se eu sonho, todos podem fazer parte deste mesmo sonho;
Se eu acredito que a Vida não é um simples "Sobreviver", ou mesmo um largo "Competir", mas um contínuo "Superar", todos também podem um dia nisso acreditar...
Se eu, apesar de não poder percorrer o Céu, posso admirar as asas que proporcionam o Vôo de tantas outras aves magestosas, sou capaz de nadar veloz percorrendo o Oceano, testemunhando e fazendo parte de uma mesma imensidão que se converge...
A experiência adquirida dos grandes anciãos, às vezes desconhece as experiências que afloram nas mentes jovens...E a segurança que todos nós buscamos, é a mesma, que às vezes nós mesmos escondemos...
E encantado com o brilho das estrelas que cintilavam no Céu, o pequeno pinguim, percebe que para ele, um daqueles corpos celestes brilhava com mais intensidade, e então, chega à precisa conclusão de que o seu pequeno iceberg, também era um ponto de Luz que partia da terra e se destacava aos olhos das Estrelas que o contemplavam...
(Sandro de Menezes Azevedo - GES)