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NO MURAL DE RECADOS!

 

 

 

Fiéis são as Luzes que cintilam,

Eriçadas para o belo indefinível...

Agradáveis são os sons, que suavemente,

Propagam a Harmonia...

Terna é a brandura, que em paz solene,

Cumpre o equilíbrio...

 

(Sandro de Menezes Azevedo -GES)

  

 

Quando nascemos, recebemos uma Vida,

Divina em Essência, grandiosa em Ação, justa em Resultados...

Configuramos o despertar para o ilimitado conhecimento,

e nos dispomos para a elevação de nossas próprias flores íntimas...

Nos limites de um extenso jardim Reformador,

estas impulsionam o ventre da terra,

educando os germes decompositores,

para a germinação das boas sementes

que hão de brotar no Coração dos Homens...

 

(Sandro de Menezes Azevedo -GES)

 

 

 

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PRÁTICA ESPÍRITA

              Toda a prática espírita é gratuita, dentro do princípio do Evangelho: “Daí de graça o que de graça recebeste”.

  •  A prática Espírita é realizada sem nenhum culto exterior, dentro do princípio cristão de que Deus deve ser adorado em espírito e verdade.
  •  O Espiritismo não tem corpo sacerdotal e não adota e nem usa em suas reuniões e em suas práticas: altares, imagens, andores, velas, procissões, sacramentos, bebidas alcoólicas ou alucinógenas, incenso, fumo, talismãs, amuletos, horóscopos, cartomancia, pirâmides, cristais, búzios ou quaisquer outros objetos, rituais ou formas de culto exterior.
  •  O espiritismo não impõe os seus princípios. Convida os interessados em conhece-los a submeter os seus ensinos ao crivo da razão, antes de aceita-los.
  •  A mediunidade, que permite a comunicação dos Espíritos com os homens, é  uma faculdade que muitas pessoas trazem consigo ao nascer, independentemente da religião ou da diretriz doutrinária de vida que adote.
  •  Prática mediúnica só o é aquela que é exercida com base nos princípios da Doutrina Espírita e dentro da moral cristã.
  •  O espiritismo respeita todas as religiões, valoriza todos os esforços para a prática do bem e trabalha pela confraternização entre todos os homens, independentemente de sua raça, cor, nacionalidade, crença, nível cultural ou social. Reconhece, ainda, que “o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza”.
  •  “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei”.
  •  “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente à razão, em todas as épocas da humanidade”.
  •  “Fora da caridade não há salvação”.
  •  O estudo das obras de Allan Kardec é fundamental para o correto conhecimento da Doutrina Espírita.

 

 

         (Extraído do Reformador, março, 1997 pg; 32 ).

 

 

 

 

PRECE DO ENTENDIMENTO

 

Agradeço as bênçãos que me deste, sem que eu soubesse compreendê-las.

Roguei-te paz e me enviaste as tribulações que me tumultuaram o recanto de ação, compelindo-me a lutar, por dentro de mim, para asserenar aqueles que me cercam somente após reconhecê-los tranqüilos é que notei a paz de todos eles, habitando-me o coração.

Supliquei-te defesa e determinaste que forças contrárias ao meu reconforto me atingissem o espírito e o ambiente em que me encontro, obrigando-me a longo esforço para criar refúgio e apoio para quantos me confiaste ao amor e, apenas depois de observá-los felizes, é que reconheci comigo a alegria de todos eles em forma de segurança.

Obrigado, Senhor, porque não me doaste aquilo de que eu precisava, segundo as minhas requisições e sim de acordo com minhas necessidades.

E agradeço, ainda, porque me mostraste, sem palavras, a significação do ensino que transmite ao teu apostolo da humildade:

- "É dando que se recebe."

 

 

 

 

MEIMEI

 

 

 

"A esperança é flor vivente,

alva estrela resplendente,

que ilumina os corações,

que conduz as criaturas às almejadas venturas entre célicos clarões.

A esperança é qual lume,

ou capitoso perfume que nos alenta na dor.

A caridade é uma aurora que resplende a toda hora,

nada empana o seu fulgor." 

 

(Casimiro Cunha)

 

 

 


 

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MAHATMA GANDHI

"Não existe um caminho para a Paz.

A Paz é o caminho!"

 

 

 

"Você nem sempre terás o que desejas,
mas enquanto estiveres ajudando aos outros,
encontrarás os recursos de que precise"
CHICO XAVIER
 

 

 

 
 

MENSAGENS EDIFICANTES

Os Mensageiros
Mensagens Edificantes
Mensagens de André Luiz

 

 

"O olho é a lâmpada do corpo.

Se teu olho é bom,

todo o teu corpo se encherá de luz.

Mas se ele é mau,

todo teu corpo se encherá de escuridão.

Se a luz que há em ti está apagada,

imensa é a escuridão."

 

 

Não temas as provas de hoje.

Supera o mal com o bem.
Todos temos um amanhã.
No entanto, porque o futuro nos pertença

não menosprezes o momento de agora.
Se sofrestes desgostos não lhes conserves

os remanescentes no coração.
Esquece afrontas e ofensas.

O perdão desata quaisquer algemas

entre vítima e agressor.
O trabalho dissipa as sombras do espaço da alma.
Serve sempre.
Não cultives enfermidades imaginárias,

nem te amofines por aflições

que talvez não chegues a conhecer.

 

Dê Ânimo Firme
Pelo Espírito de: Emmanuel
Médium: Francisco Cândido Xavier

 



Não perca a esperança.
Há milhões de pessoas aguardando

os recursos de que você já dispõe.
Não perca o bom humor.
Em qualquer acesso de irritação,

há sempre um suicidiozinho

no campo de suas forças.
Não perca a tolerância.
É muita gente a tolerar você naquilo

que você tem de indesejável.
Não perca a serenidade.
O problema pode não ser assim tão difícil

quanto você pensa.
Não perca a humildade.
Além da planície, surge a montanha,

aparece o horizonte infinito.
Não perca o estudo.
A própria morte é lição.
Não perca a oportunidade

de servir ao semelhante.
Hoje ou amanhã,

você precisará de concurso alheio.
Não perca o tempo.
Os dias voltam, mas os minutos são outros.
Não perca a paciência.
Recorde a paciência inesgotável de Deus.

 

Não Perca
Pelo Espírito de: André Luiz
Médium: Francisco Cândido Xavier

 


 

 

 

 

Não te esqueças da riqueza encerrada

 

em teu auxílio no próprio corpo.

 

Reflete no tesouro da fala e ajuda

 

ao próximo com as boas palavras.
Recorda o patrimônio das mãos

 

e planta uma árvore amiga

 

ou socorre a esse ou aquele doente,

 

enquanto as horas voam,

 

em derredor de tua permanência na Terra.
Não menosprezes a fortuna dos ouvidos

 

e guarda o ensinamento útil ou dignificante,

 

esquecendo quanto seja ruinoso

 

ou sem proveito no caminho diário.
Não olvides a preciosidade dos olhos

 

e enriquece-te de luz, fixando os quadros do Bem.
Medita nos dons da inteligência e aprende

 

a raciocinar exclusivamente no melhor

 

a fazer na obra da elevação.
Não é preciso bolsa recheada

 

para atender à verdadeira fraternidade.
O amor não depende de ouro para servir.
Sem qualquer recurso monetário,

 

Jesus transformou a Terra,

 

trazendo-nos ensinamentos inolvidáveis

 

cuja grandeza cresce para nós todos no transcurso dos séculos.
Pelo amor nascemos,

 

pelo amor nos desenvolvemos,

 

através da morte, para renascer de novo,

 

até a perfeição final. Essa é a Lei.

 

(Emmanuel, de "Assim Vencerás", FCXavier)
Mensagem "Por Amor"

 

 

 

 

 

 

Feche os olhos e imagine o infinito...
Ele começa em suas próprias pulsações,
Sinta-o...
Tente penetrar na harmonia que habita em você,
Sinta a respiração, e dela se alimente...
Comece a desenhar o firmamento,
E a compor em partes a sua extensão...
Perceba que cada estrela, terá seu brilho,
Cada Astro terá sua posição...
E quando se perderes na imensidão,
Apenas contemple...
Verás que a cada instante, tudo se renova...

Planetas das mais variadas dimensões,

Cada um com sua constituição...
Tente deslumbrar o quão grandiosa é a obra de Deus...
Perceba cada detalhe, cada composição...
Tudo isso é um pouco do infinito,
Que aos poucos você conquista...
Não tente explicá-lo, apenas sinta-se parte dele...
Se Deus lhe concede o "Pensar", é por que quer que avances,
Emane vibrações no bem, deixe que o Céu lhe perceba,
E a cada segundo, plenificarás o teu Existir...

 

Sandro de Menezes Azevedo

(GES - Grupo Espírita Samaritano)

 

 

 

 

 

 

 

"Não ame pela beleza,

pois um dia ela acaba.

Não ame por admiracão,

pois um dia você se decepciona.

Ame apenas,

pois o tempo nunca pode acabar

com um amor sem explicação"

 

MADRE TEREZA DE CAUCUTÁ

 

 

"Todas as nossas palavras

serão inúteis

se não brotarem

do fundo do coração.

As palavras

 

aumentam a escuridão"

 

MADRE TEREZA DE CAUCUTÁ

 

 

 

 

Mortos? Não

 

Nós não somos

os mortos condenados

 

Aos sepulcros de treva

 e cinzas frias,

 

Tristes evocações

 das agonias,

 

Sob os dobres

dos sinos de finados...

 

 

 

Não estamos

nas lápides sombrias

 

Dos cemitérios

ermos e isolados,

 

Somos somente

amigos apartados

 

Pelo... espaço

das horas fugidias.

 

 

 

Crede que a luta é a

nossa eterna herança,

 

Com a qual marchamos

plenos da esperança

 

Que une os mundos

e os seres nos seus laços.

 

 

 

Depois da morte,

a luz de um novo dia

 

Resplende,

transbordante de harmonia

 

Pela serenidade dos espaços.

 

Antero de Quental  

por Francisco Cândido Xavier
Do livro - Lira Imortal

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Entrevistas
Entrevistas

MARÇO/2012

 

 

O médico veterinário paulista Marcel Benedetti é pioneiro no atendimento espiritual aos animais, Benedetti é um dos idealizadores da ASSEAMA (Associação Espírita Amigos dos Animais) que realiza um trabalhorelevante de conscientização. Leia entrevista exclusiva ao portal Nova Era. 

 

Nestes dois anos de trabalho, como estão sendo a repercussão e os resultados do tratamento espiritual aplicado em animais, pela ASSEAMA?

No próximo dia 26/07/09 estaremos comemorando o nosso 3º ano de trabalhos espirituais com animais, e os resultados são animadores, apesar das críticas constantes daqueles que não aceitam a ideia de que animais merecem essas atenções da Espiritualidade e se beneficiam da boa vontade dos Espíritos.

 

As pessoas que estão recorrendo ou já recorreram aos tratamentos para seus animais nos enviam mensagens de apoio e incentivo. Há casos de animais que já haviam sido recomendados para eutanásia e que se recuperaram muito bem. São vários casos assim.

 

A iniciativa sofre ou sofreu algum tipo de resistência do movimento espírita e/ou dos espíritas e espiritualistas?

Assim como toda ideia nova sofre resistência, esta não poderia ser diferente. Houve desde o início resistência dentro do movimento espírita, principalmente porque no tratamento há imposição de mãos, tal como se faz com as pessoas. As pessoas contrárias à ideia de tratar animais em centros espíritas são vítimas do sentimento de orgulho, que não admite que seres considerados, até pouco tempo, como irracionais sejam tratados como o são os humanos. Entretanto, não levam em consideração que Deus não privilegia nenhum de seus filhos, e não daria aos humanos o privilégio de uma assistência espiritual para lhes aliviar algum sofrimento em detrimento dos animais, que são nossos irmãos. Digo que são nossos irmãos porque são filhos do mesmo Pai. Quem já teve oportunidade de ler a Codificação Espírita encontrará textos que dizem que fomos criados simples e ignorantes e evoluímos desde o átomo até o arcanjo. Como evoluir do átomo ao arcanjo sem passar pela fase de animalidade? As pessoas contrárias aos tratamentos espirituais em animais não levam em consideração os resultados nem o consolo preconizado pelo Espiritismo. Pois, embora os animais não entendam integralmente o que lhes acontece, as pessoas que se preocupam com eles sentem-se aliviadas também quando o sofrimento de seus amigos animais minora. Entre os espiritualistas encontramos mais apoio do que dentro do próprio movimento espírita. Parece estranho, mas é a realidade, e é possível que aconteça algo de que talvez o movimento se arrependa depois, isto é, eu creio que outras doutrinas possam vir a acolher o tratamento espiritual aos animais enquanto algumas pessoas do movimento espírita se distraem com seu orgulho. Sabemos que não importa quem trabalhará com eles, os animais, a fim de lhes aliviar o sofrimento, mas seria interessante que o Espiritismo fizesse isso, uma vez que a iniciativa partiu de dentro do movimento espírita. Mas percebo que aos poucos a resistência está cedendo. Ha instituições que abominavam nossos livros, agindo como se fossem a Igreja de outrora. Isso me dava a impressão de que se recriaria o Index proibitorum. Exageros à parte percebo que logo as coisas devem mudar para melhor.

 

Quais são os casos e/ou sintomas dos animais que são levados à ASSEAMA? Comente, por favor.

 

Em geral, aparecem animais que são levados depois de terem passado por diversos tratamentos físicos, sem sucesso. Os mais comuns são os cânceres e problemas ortopédicos graves, em que a eutanásia já havia sido aventada pelos médicos que os tratavam. Mas surgem animais com problemas dos mais diversos, incluindo os de origem emocional, gerados por energias adversas criadas no ambiente doméstico. Estes são os mais difíceis de tratar, pois envolvem mudanças energéticas do ambiente em que as pessoas, necessariamente, precisam mudar os seus modos de pensar e agir.

 

Animal sofre a chamada obsessão?

 

Não como acontece com as pessoas, mas como uma forma indireta de atingir as pessoas do ambiente em que vive o animal, o qual, comumente, é muito querido pelas pessoas atingidas. Em geral, os espíritos de baixas vibrações contaminam o ambiente doméstico com energias muito densas, que atingem os animais como se fossem petardos que os ferem profundamente, a ponto de adoecerem. É por isso que o ideal seria que as pessoas realmente se comprometessem com o tratamento, que tem muito a ver com elas também. Algumas não aceitam que haja uma parcela de responsabilidade nos processos patológicos que acometem os animais domésticos ou próximos. Então, de modo indireto acabam por sofrer obsessões, mas não acontece como se fossem escudos protetores de seus tutores (chamamos de tutores os que antes eram chamados de donos), poupando sofrimentos. Na verdade todos sofrem, incluindo o animal, que é a mais inocente das vítimas.

 

Qual a história mais interessante, ou mais de uma, de que você se lembra, sobre o trabalho de tratamento espiritual desenvolvido pela ASSEAMA?

A mais interessante e a mais comentada é a que se refere à cadelinha Natasha, porque foi a primeira que se sobressaiu e chamou a atenção das autoridades científicas para o fato das curas espirituais. Natasha foi encontrada abandonada, com diversas enfermidades, incluindo um câncer, que, segundo um professor de uma universidade importante de São Paulo, não lhe permitiria uma sobrevida de mais de uma semana. O animal se curou do câncer (há comprovação laboratorial) em 3 meses, e viveu ainda mais um ano, quando morreu repentinamente, sem estar doente. Acho que era sua missão chamar a atenção da ciência. Assim como a história dela há inúmeras outras interessantes, como a de uma cadelinha que, também indicada para eutanásia, se recuperou da paraplegia e andou, contrariando todas as expectativas médicas. Poderíamos ficar horas relatando casos.

 

Em sua opinião, por que ainda existe um desrespeito tão grande em relação aos animais e, por parte dos espiritualistas, uma falta de compreensão maior a respeito da alma dos animais?

Apesar de o assunto não ser novo, isto é – o assunto “espiritualidade dos animais” não é novo – as pessoas o encaram dessa forma porque os animais são considerados seres de segunda categoria. Ainda assim, creio que a consciência em relação a eles, no que se refere a serem nossos irmãos, está alcançando patamares mais elevados em menos tempo do que aconteceu, por exemplo, com as mulheres, negros e escravos, que eram considerados seres de segunda categoria e, portanto, descartáveis. Em 1866, Kardec precisou publicar um artigo na Revista Espírita para explicar que as mulheres e os negros tinham alma, assim como qualquer homem branco. Os negros e as mulheres ainda eram considerados como se fossem animais, e os animais eram considerados como objetos (ainda são assim considerados legalmente). Não é triste saber disso? Entretanto, as pessoas, apesar dos pesares, começam a perceber as coisas, pois a própria ciência está demonstrando que os animais não são tão diferentes de nós como pensávamos. O DNA dos chimpanzés é apenas 1,2% a menor que o nosso. As seis barreiras que nos separavam dos animais a ponto de considerá-los irracionais se romperam, pois se sabe, hoje, que os animais pensam, sentem e são conscientes quanto ao que acontece ao seu redor. Eles transmitem cultura aos seus descendentes. Além disso, a ciência mostrou que eles captam nossos pensamentos por telepatia. Imagine o sofrimento de um animal que está prestes a ser abatido, ao ler o pensamento de seu algoz. Creio que em breve a ciência – e não a doutrina ou as doutrinas espiritualistas – promoverá os animais a ponto de considerar que eles merecem o melhor de nós, e que deveríamos cuidar deles como irmãos mais velhos que somos, e não explorá-los como mercadorias.

 

Para um público leigo, já que esta entrevista é publicada em vários meios, como você pode explicar a existência da alma dos animais, para que não exista confusão com a metempsicose?

 

O termo metempsicose se refere à possibilidade de a alma de um ser humano que morreu retomar um corpo físico em alguma categoria inferior da evolução, em um corpo de animal, por exemplo. Seria como se as águas de um rio pudessem subir contra a corrente e voltar à nascente. Isso vai contra diversas leis naturais. Seria como se um estudante de medicina que fosse reprovado em Fisiologia tivesse que voltar ao curso primário, para começar tudo outra vez até aprender Fisiologia. Seria perda de tempo. O ideal seria repetir apenas a matéria de Fisiologia e estacionar no curso, temporariamente. 
A alma do animal é semelhante a qualquer outra, de qualquer outro ser do Universo. Nada nos diferencia desses espíritos, que hoje estagiam na fase de animalidade, exceto pelo fato de que temos consciência de Deus e eles ainda não a têm. Mas somos todos espíritos em evolução. Poderíamos fazer uma comparação com os estudantes: nós somos aqueles que estão no curso superior (no meio do curso, pois ainda falta muito para nos formarmos), enquanto esses outros espíritos – hoje na fase de animais – estão talvez no curso médio. Os vegetais, talvez no curso básico; e os minerais, no “prezinho”. Um dia seremos arcanjos, e os outros seguirão os mesmos caminhos que nós. Se os auxiliarmos, estaremos não somente ajudando-os a evoluir, mas também a nós, pois estaremos pondo em prática o que aprendemos sobre caridade e amor ao próximo. Jesus disse para amarmos o nosso próximo, e os animais são nossos irmãos (filhos do mesmo Pai), e Gandhi disse que tudo o que vive é nosso irmão.

 

 

FEVEREIRO/2012

 

 

Entrevista realizada pelo terapeuta e médium Wanderley Oliveira com o médico Presidente da Associação Médico-espírita de Minas Gerais, Andrei Moreira  

 

Andrei Moreira é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Integra, desde 2005, uma equipe do Programa de Saúde da Família, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Especializado em Homeopatia.

 

Preceptor do Internato em Atenção Integral à Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Alfenas, campus BH, desde 2008.

 

Participa ativamente do movimento espírita nacional e internacional, proferindo palestras e seminários. Integra equipes de atendimento a pacientes com a metodologia médico-espírita na Amemg. Presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, desde 2007. Autor do livro: "Cura e autocura – uma visão médico espírita" – AME Editora, 2010 . ammsouza@hotmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. -  www.amemg.com.br


 

Segundo o relatório Kinsey, extensa pesquisa sobre o comportamento sexual humano realizada nos EUA na década de 60 do século XX, pelo biólogo Alfred Kinsey, tanto a homossexualidade como a heterossexualidade absoluta são condições raras em nossa sociedade.

Andrei Moreira

(Cartaz do filme "Minhas mães e meu pai")

 

Wanderley Oliveira -   Homossexualidade é ou não uma doença à luz do Espírito imortal? 

Andrei Moreira - “Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria. Em 1975 a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento, deixando de considerar a homossexualidade como doença. No Brasil, em 1985, o Conselho Federal de Psicologia deixa de considerar a homossexualidade como um desvio sexual e, em 1999, estabelece regras para a atuação dos psicólogos em relação à questões de orientação sexual, declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade. No dia 17 de Maio de 1990 a Assembléia-geral da Organização Mundial de Saúde (sigla OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação internacional de doenças (sigla CID). Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passa a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos” - Wikypedia

 

A Homossexualidade, segundo a ciência, é uma orientação afetivo-sexual normal. Sob o ponto de vista espírita, tem sido catalogada por muitos escritores espíritas como doença ou distúrbio da sexualidade, em franco desrespeito ao conhecimento científico atual. Não há base no conhecimento espírita para se afirmar tal coisa. Não há uma visão que seja consenso sobre o assunto no movimento espírita, mas há excelentes textos dos espíritos André Luiz e Emmanuel nos direcionando o pensamento e a reflexão para o respeito, acolhimento e inclusão da pessoa homossexual, entendendo a homossexualidade como uma condição evolutiva natural (e o termo “natural” como sinônimo de “presente na natureza”), decorrente de múltiplos fatores, sempre individuais para cada espírito, construída ou escolhida pelo espírito, em função de tarefas específicas ou provas redentoras, incluindo aí as condições expiativas e reeducativas devidas a abusos afetivo-sexuais no passado, que parecem ser a causa determinante da maior parte das condições homossexuais, segundo a literatura espírita.

 

Leia também:

Homossexualidade e outros pecados... 
2009-01-04 22:16:30

[ Rubem Alves]  A verdade divina está fora do tempo. Aquilo que Deus comandava há 3.000 anos é válido para hoje e para todos os tempos futuros.


Uma visão espírita do homossexualismo sem o dissimulado purismo cristão

2007-04-13 09:25:22

As múltiplas experiências humanas pela reencarnação e os repetidos contatos com ambos os sexos proporcionam ao espírito as tendências sexuais na feminilidade ou masculinidade e este reencarna com ambas as polaridades e se junge, às vezes, contrariado aos impositivos da anatomia genital e ao da educação sexual que acolhe em seu ambiente cultural.

 

 

 

Wanderley Oliveira -  Qual a diferença entre orientação e escolha sexual? 

Andrei Moreira -  Orientação sexual representa o desejo e o interesse afetivo-sexual (note bem: não somente sexual, mas também afetivo) do indivíduo, decorrente de múltiplos fatores, os quais determinam com qual sexo ele se sente realizado para uma parceria íntima.  A orientação sexual é fruto da história pessoal do indivíduo, presente e passada; é influenciada pela cultura e pelas identificações psicológicas, porém não controlada ou determinada conscientemente pelo indivíduo. Nasce-se com ela. Escolha é fruto da decisão consciente de se viver ou não a orientação, aceitá-la ou reprimi-la, de acordo com as idealizações e a pressão familiar-social-cultural do meio em que o indivíduo se encontra reencarnado. 

Wanderley Oliveira -  O homem homossexual se sente uma mulher? A mulher homossexual se sente um homem?

Andrei Moreira -  De forma alguma. Identidade e orientação sexual são coisas distintas. Identidade é como o indivíduo se sente, a qual sexo pertence, com qual sexo se identifica psicologicamente. A orientação homossexual representa exclusivamente o direcionamento do afeto e do interesse sexual para indivíduos do mesmo sexo. O homem homossexual tem a sua identidade masculina, sente-se homem, embora possa ou não ter trejeitos afeminados, conforme sua história e identificação psicológica. Igualmente, a mulher homossexual tem a identidade feminina, embora possa ter ou não trejeitos masculinizados. Quando o indivíduo está em um corpo de um sexo, e sua identidade é a do sexo oposto, dizemos que ele é transexual, que é diferente do homossexual.

Wanderley Oliveira -  Em todos os casos, o espírito já renasce homossexual? É possível reverter essa orientação?

Andrei Moreira -  Há uma diferença entre comportamento homossexual e identidade afetivo-sexual homossexual. Observamos comportamentos homossexuais em indivíduos com doenças psiquiátricas, entre presidiários e soldados em guerra; nessas condições, na ausência da figura feminina, a prática sexual entre iguais praticada por muitos como campo de liberação das tensões sexuais e da busca do prazer. Isso não quer dizer que eles sejam homossexuais. O indivíduo com identidade homossexual é aquele que se sente atraído afetiva e sexualmente por pessoa do mesmo sexo, o que pode ser percebido ou descoberto em diferentes fases da vida do indivíduo. Não podemos afirmar que todos os homossexuais tenham nascido com essa orientação, pois a variedade de manifestações nessa área nos remete a múltiplas causas, embora a literatura mediúnica espírita nos informe de que em boa parte dos casos as pessoas homossexuais trazem de seu passado espiritual a fonte de sua orientação presente.  

 



Abstinência não representa educação do desejo e da prática sexual. Contudo, pode ser uma etapa necessária em certos casos, para a disciplina dos impulsos íntimos, de heterossexuais e homossexuais, quando se percebam necessitados de controle do desejo e da prática sem limites.

Andrei Moreira

(Cartaz do filme "MilK")

 

Não sendo, em si, uma condição maléfica para o indivíduo, mas neutra, podendo ser positiva ou não, dependendo da forma como for vivenciada, não há necessidade de reverter essa condição. A orientação da ciência médica e psicológica atual é de que o indivíduo homossexual que não se aceita e sofre com isso deve ser classificado como portador de transtorno egodistônico, e os esforços devem se direcionar no sentido de auxiliá-lo a se aceitar e se amar tal qual é, sentindo-se digno de amor e respeito, buscando relações que lhe fortaleçam o autoamor e nas quais possa ser natural, espontâneo e verdadeiro, em busca de sua felicidade e de seu progresso.

 

Há religiosos e profissionais fundamentalistas que oferecem terapia e assistência espiritual, sobretudo em igrejas evangélicas, para que o indivíduo se “cure” da homossexualidade. Não há registros de casos bem sucedidos. O que frequentemente se observa são indivíduos bissexuais alterando o direcionamento do seu afeto para indivíduos do mesmo sexo, porém muitos deles têm relações sexuais clandestinas com pessoas do mesmo sexo e nos procuram nos consultórios cheios de culpa, medo e vergonha por não se sentirem “curados”. Além disso, há os indivíduos homossexuais que decidem vestir a máscara de heterossexuais e por algum tempo formam famílias; frequentemente, saem de casa após algum tempo para viverem o que sentem como sua real atração afetivo-sexual. 

Wanderley Oliveira -  Existem casos de homossexualidade desenvolvida exclusivamente pela educação na infância? Em caso afirmativo, é possível reverter o processo?

Andrei Moreira -  
Segundo Freud, sim, o que não significa que seja passível de reversão ou que haja necessidade disso. Segundo o Conselho Federal de Psicologia a identidade e a orientação sexual estruturadas na infância não são passíveis de reversão, e a homossexualidade não é uma condição que necessite reversão, já que não é uma doença e muito menos um desvio moral. Porém, na visão espírita, os benfeitores espirituais nos informam que o espírito, ao reencarnar, já escolhe a natureza de suas provas e as condições familiares sociais e pessoais necessárias ao seu progresso, conforme sua consciência indique a necessidade de reparação dos equívocos do passado e de melhoramento pessoal. Em outras situações, quando o espírito não se encontra maduro para definir suas provas, elas são estabelecidas por orientadores evolutivos, mas, ainda assim, são definidas previamente à reencarnação. Assim, a família, o corpo que a pessoa tem e os principais pontos da existência já estão definidos para patrocinar as condições necessárias ao progresso do indivíduo. Além disso, o espírito traz impressos em si o fruto de suas escolhas, o resultado de suas experiências passadas, em seu psiquismo e no corpo espiritual, a determinar a identidade e a orientação sexual da presente encarnação. 


Wanderley Oliveira - Muitos consideram que a abstinência é uma recomendação educativa no caso de homossexualidade. O que você acha?

Andrei Moreira -  
Abstinência não representa educação do desejo e da prática sexual. Contudo, pode ser uma etapa necessária em certos casos, para a disciplina dos impulsos íntimos, de heterossexuais e homossexuais, quando se percebam necessitados de controle do desejo e da prática sem limites. Também pode acontecer que tenham a condição de abstinência imposta pela misericórdia divina como recurso emergencial de salvação perante circunstâncias de abusos reiterados nessa área.

 

Diz Ermance Dufaux, no livro Unidos para o Amor: “Abstinência nem sempre é solução e pode ser apenas uma medida disciplinar sem que, necessariamente, signifique um ato educativo. Por educar devemos entender, sobretudo, a desenvoltura de qualidades íntimas capazes de nos habilitar ao trato moral seguro e proveitoso com a vida. (...) A questão da sexualidade é pessoal, intransferível, consciencial e a ética nesse campo passa por muitas e muitas adequações.”

 

O Espiritismo recomenda a todas as criaturas a conscientização a respeito da sacralidade do corpo físico e da sexualidade, como fonte criativa e criadora, destinada a ser fonte de prazer físico e espiritual, sobretudo de realização íntima para o ser humano, em todas as suas formas de expressão.

 

Sintetiza Emmanuel, na introdução do livro Vida e Sexo: “(...) em torno do sexo, será justo sintetizarmos todas as digressões nas normas seguintes: Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade (grifos nossos). Fora disso, é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra da sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um”.

Wanderley Oliveira - O homossexual não consegue de forma alguma ter atração por pessoa do sexo oposto ou isso pode acontecer de forma natural?

Andrei Moreira -  Segundo o relatório Kinsey, extensa pesquisa sobre o comportamento sexual humano realizada nos EUA na década de 60 do século XX, pelo biólogo Alfred Kinsey, tanto a homossexualidade como a heterossexualidade absoluta são condições raras em nossa sociedade. A grande maioria das pessoas tem uma condição de desejo predominante, em graus variáveis. Por exemplo, uma pessoa pode ser 80% heterossexual e 20% homossexual ou vice-versa. É natural, portanto, que uma atração heterossexual possa ocorrer na vida de um indivíduo homossexual, o que muitas vezes é entendido pelo leigo como “cura” da homossexualidade.

 

 

 

Ser homossexual não é sinônimo de ser promíscuo, inferior, afeminado (para homens) ou masculinizado (para mulheres). Simplesmente atesta que o indivíduo se realiza sexual e afetivamente no encontro entre iguais.

Andrei Moreira

(Cartaz do filme "Meninos não choram")

 

Emmanuel nos esclarece a respeito dessa realidade no livro Vida e Sexo, cap.21: “através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas. O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta.”

 

Podemos compreender assim que todos os indivíduos trazem em sua intimidade a possibilidade de se sentirem atraídos e se apaixonarem por alguém do mesmo sexo (afinal de contas, a pessoa se apaixona por um indivíduo completo, e não pelo seu corpo apenas). Isso não significa que vá ou necessite viver essa situação.  O psiquismo atende e responde ao impulso do espírito, que é assexuado, mas que cumpre programas específicos em um ou outro sexo, conforme definição anterior e necessidade evolutiva, inserido em um contexto sociocultural que o limita na percepção e expressão do que vai em sua intimidade profunda.

 

Wanderley Oliveira - Homem ou mulher que tenham fantasias com pessoas do mesmo sexo podem ser considerados homossexuais?

Andrei Moreira -  Na adolescência as experiências homossexuais são naturais, definidas pela psicologia como experiências de experimentação de uma identidade sexual em formação; não atestam, necessariamente, a orientação homossexual. Já no adulto a fantasia é uma das formas de expressão do desejo e da atração homoafetiva e atestam a intimidade da criatura, mesmo que não sejam aceitas pela personalidade consciente.

Wanderley Oliveira -  Qual sua avaliação sobre como a comunidade espírita trata a homossexualidade?

Andrei Moreira -  Em geral, observamos uma abordagem superficial e discriminatória por parte da comunidade espírita com os homossexuais e a homossexualidade. É compreensível que seja assim, pois todo meio religioso lida com idealizações e preconceitos seculares. Todavia, tal postura pode ser modificada por meio do que recomenda Allan Kardec: estudo sério e aprofundado de um tema para que se possa opinar sobre ele. É lamentável que nós, adeptos de uma fé raciocinada, nos permitamos o mesmo comportamento dos religiosos fundamentalistas.

 

Observa-se muita opinião pessoal sem fundamento tomada como regra e lei. Tais opiniões costumam ser destituídas de compaixão e amorosidade terminam por isolar o indivíduo homossexual, tachando-o de doente, perturbado, promíscuo e/ou obsediado. Às vezes ele é até mesmo afastado das atividades espíritas habituais, como se fosse portador de grave moléstia que devesse receber reprovação e crítica por parte da parcela heterossexual “normal” da sociedade. Tais posturas são frequentemente embasadas no tradicional preconceito judaico-cristão-ocidental de que a única e exclusiva função da sexualidade é a procriação humana, tomando a parte pelo todo.

 

O Espiritismo é uma doutrina livre e libertária, compromissada com o entendimento da natureza íntima do ser humano e o progresso espiritual. Nos dá bases muito ricas de entendimento do psiquismo e da sexualidade do espírito imortal, como instrumentos divinos dados por Deus ao homem para seu aprimoramento e felicidade. Além disso, nos oferece esclarecimento a respeito das condições e situações determinadas pela liberdade do homem, que desvia esses instrumentos superiores de suas funções sagradas. 

É imprescindível que se extinga em nosso movimento o preconceito e que os homossexuais tenham campo de trabalho, se dediquem ao estudo e à prática da doutrina espírita, com a mesma naturalidade de heterossexuais. Isso, para que compreendam o papel de sua condição em seu momento evolutivo e a utilizem com respeito e dignidade com vistas ao equacionamento dos dramas internos, ao cumprimento dos planos de trabalho específicos em sua proposta encarnatória e ao seu progresso pessoal, da família e da sociedade da qual faz parte, da mesma maneira como deve fazer o heterossexual. 

 

A homossexualidade, independentemente da forma como se haja estruturado como condição evolutiva momentânea do indivíduo, pode ser vivenciada com dignidade e ser um rico campo de experimentação do afeto e construção do amor.

Andrei Moreira

(Cartaz do filme "O segredo de Brokeback Mountain)

 

Wanderley Oliveira -  Como devem se comportar os pais espíritas de um indivíduo que se descubra homossexual?

Andrei Moreira -  Aos pais de uma pessoa homossexual cabe o acolhimento integral e amoroso do indivíduo, com aceitação de sua condição, que nada mais é que uma das características da personalidade. Ser homossexual não é sinônimo de ser promíscuo, inferior, afeminado (para homens) ou masculinizado (para mulheres). Simplesmente atesta que o indivíduo se realiza sexual e afetivamente no encontro entre iguais. A pessoa homossexual deve receber a mesma instrução e educação a respeito da sexualidade que os heterossexuais, a fim de bem direcionar as suas energias e esforços no sentido da construção do afeto com quem eleja como parceiro (a). A postura na vivência da sexualidade, para homossexuais, deve ser a mesma aconselhada pelos espíritos a heterossexuais: dignidade, respeito a si mesmo e ao outro,  valorização da família, da parceria afetiva profunda no casamento e dedicação da energia sexual criativa em benefício da comunidade em que está  inserido. 


O acolhimento amoroso da família é fundamental para que o indivíduo homossexual possa se aceitar, se compreender, entendendo o papel dessa condição em sua vida atual, e para que se sinta digno e responsável perante suas escolhas. A luta, para aqueles que vivem essa condição, é grande, a fim de afirmar a sua autoestima em uma sociedade que banaliza a condição sexual e vulgariza a diferença. A família é o núcleo onde se encontram corações compromissados em projetos reencarnatórios comuns, com vínculos pessoais de cada um com o passado daqueles que com eles convivem, devendo ser cada membro dessa célula da sociedade, um esteio para que o melhor do outro venha à tona, por meio da experiência amorosa. 

Os pais de homossexuais poderão ler e compartilhar interessantes experiências de outros pais no site e nos livros de Edith Modesto: https://www.gph.org.br e Livros em: https://www.gph.org.br/publica.asp 

Wanderley Oliveira -  Gostaria de acrescentar algo?

Andrei Moreira -  Romanos 14:14 “Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nada é de si mesmo imundo a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo.”

Todas as experiências evolutivas onde estejam presentes o autorrespeito, a autoconsideração, a autovalorização e o autoamor são experiências evolutivas promotoras de progresso e evolução, pois aquele que se oferece essas condições naturalmente as estende ao outro na vida. A homossexualidade, independentemente da forma como se haja estruturado como condição evolutiva momentânea do indivíduo, pode ser vivenciada com dignidade e ser um rico campo de experimentação do afeto e construção do amor, desde que aqueles que a vivam se lembrem de que são espíritos imortais e de que a vida na matéria é tempo de plantio para a eternidade, no terreno do sentimento e das conquistas evolutivas propiciadas pelo amor, em qualquer de suas infinitas manifestações. 

Diz-nos Emmanuel no livro "Vida e Sexo", lição 21 – Homossexualidade, ed. Feb: 
“A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinqüência.”

 

E complementa André Luiz, no livro Sexo e destino –  Cap. 5,  pág 155 - ed. Feb:
“(...) no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignidade humana, reparando-se as injustiças achacadas, há séculos, contra aqueles que renascem sofrendo particularidades anômalas, porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade humana lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir incessantemente para viver, sob o sol que a Bondade Divina acendeu em benefício de todos.”
Para saber mais: 
Indico, entre outros, os seguintes livros espíritas, com abordagens responsáveis e bem fundamentadas sobre o assunto:

1- Vida e sexo, Emmanuel/Chico Xavier, em especial cap. 21 - ed. Feb
2- Sexo e destino  e Ação e reação - ambos de André Luiz/Chico Xavier - ed. feb
3- Além do Rosa e do Azul - Gibson Bastos - Ed. Celd
4- O Preço de ser Diferente (romance) - Ed. Vida e Consciência
5- Quem Perdoa, Liberta – José Mário/Wanderley Oliveira – Capítulo: "Homoafetividade e Mediunidade"

* Wanderley Oliveira é Terapeuta Master e Practitioner em PNL, médium e palestrante espírita de Belo Horizonte. Visite o seu trabalho no site: www.wanderleyoliveira.com.br ou escreva paracoachenergetico@wanderleyoliveira.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

 

Entrevista publicada originalmente em : https://www.wanderleyoliveira.blog.br/

 

 

 

JANEIRO/2012

 

 

Em uma época de Espiritismo invadindo as mídias, Marcelo Henrique Pereira é uma das mais lúcidas vozes do que se convencionou chamar de movimento espírita. Não somente o movimento capitaneado pela FEB, com fortes matizes religiosos, mas também por outras organizações representativas, como CEI, CEPA, além de tendências e segmentos menores arraigados no Brasil e no mundo.

 

Com certeza, esta descentralização da filosofia codificada por Allan Kardec estremece dirigentes e espíritas ainda apegados à letra, a uma "religião espírita formal”, cada vez mais convencional.

 

Mestre em Ciência Jurídica, doutorando em Direito, assessor administrativo da ABRADE, Marcelo Henrique é consciente do que significa o mundo em rede e este momento de propagação desenfreada do Espiritismo. Prefere, sim, o protagonismo da disseminação contra a centralização.

 

Ele explica:

 

"Que tal, então, imaginarmos que cada um de nós é parte integrante e responsável pela disseminação do conhecimento? Que tal envolver as pessoas, diretamente, na tarefa de perpetuação das informações de natureza espiritual?"

 

Marcelo é assim – procura não se intimidar com as perguntas, mesmo as desta entrevista, com provocações sadias sobre temas polêmicos, em busca de ângulos refrigerados sobre antigos temas, como o aborto:

 

"Quando um espírita se dispõe a ‘conversar’ sobre aborto, limita-se aos conceitos relativos ao ‘dom da vida’ ou similares, e utiliza alguns trechos das obras básicas para dizer ‘sim’ ou ‘não’. Não se permite avançar na discussão de situações."

 

Posição laica do Espiritismo:

 

"Ao abandonar a postura de ‘seita’ ou ‘crença’, entendem os laicos estarem abertos aos diálogos sociais e com todas as filosofias, desprovidos de preconceitos".

 

Ou, ainda, sobre Jesus: "o chamo carinhosamente de ‘Magrão’. Um guia, um modelo, mas não o único".

 

Nesta entrevista exclusiva, Marcelo responde pacientemente as nossas questões sem em nenhum momento esquecer do verdadeiro papel de Allan Kardec, pouco compreendido dentro e fora do movimento.

 

"O Codificador jamais pretendeu ‘institucionalizar’ a Doutrina; jamais advogou a limitação ao livre-pensar espírita, dando completa liberdade aos adeptos de entenderem os princípios espíritas de acordo com sua condição evolutiva, sem saltos."

 

Acompanhe a entrevista na íntegra.

 

Manoel Fernandes Neto - O que você achou da questão do aborto ser incluido no debate eleitoral presidencial, como dogma religioso, inclusive com posicionamento do Papa e mesmo da FEB, no calor da campanha?

 

Marcelo Henrique Pereira - O aborto é um tema de relevância social e de natureza pública e deve estar incluído na “ordem do dia” da modernidade brasileira. Não como mero “tópico” de um debate eleitoral, mas como política governamental, perpassando não só as prescrições legais e a normatização criminal (ou descriminalização, conforme o caso), mas alcançando elementos relacionados à saúde (física e psicológica), à assistência e à promoção da qualidade de vida para os cidadãos brasileiros. Entendo, particularmente, como jurista espírita, que o debate até o momento é pífio e lamentavelmente vinculado a questões de natureza essencialmente religiosa, quando possui outros contornos e caracteres que não podem estar subsumidos aos conceitos religiosos num Estado laico.

Os componentes de religiosidade, é bem verdade, são importantes e estão intrinsecamente ligados aos posicionamentos dos indivíduos, inclusive aqueles que têm responsabilidades e obrigações sociais como juízes, legisladores, advogados, especialistas em saúde pública, etc. Faço críticas ao movimento espírita que quando se dispõe a “conversar” sobre o aborto, limita-se aos conceitos relativos ao “dom da vida” ou similares e utiliza alguns trechos das obras básicas (e, sobretudo, respostas dos Espíritos, isoladamente consideradas), para dizer “sim” ou “não”. Não se permite avançar na discussão de situações, questões e contornos que não existiam ou não foram objeto de questionamento por parte do Codificador ou não foram suficientemente respondidos pelos Espíritos.

Falando em “respostas dos Espíritos” muita gente acha que eles, os Espíritos, tiveram ou têm de responder todas as indagações humanas, como se prescrevessem a forma como devêssemos atuar na vida. A criação divina e o contexto espiritual-reencarnatório nos legaram um elemento fundamental, no contingente espiritual, que é o livre-arbítrio (e a responsabilidade dele decorrente) para que cada um de nós pudesse viver por si mesmo e evoluir. Há muitos espíritas “esperando” orientações espirituais para pautar os atos de sua vida e outros, lamentavelmente, que se posicionam como títeres, como se os Espíritos “administrassem” nossas vidas. Muito embora eles influam decisiva e marcantemente em nossa existência (corporal), ainda sim, é por sintonia espiritual e por vontade nossa que a eles nos ligamos, todos os dias.

Manoel Fernandes Neto -  Na questão da defesa da vida que nos traz o Espiritismo, como incluir as milhares de mulheres de baixa renda que morrem anualmente no Brasil, vitimas de abortos clandestinos?

Marcelo Henrique Pereira - Eis aí um componente que não pode ser afastado do exame espírita do tema “aborto”. As pessoas se prendem à questão do ato em si e da “prescrição” do não matar como regra que remonta aos regramentos religiosos da antiguidade, entre os quais o decálogo mosaico. Outras filosofias e religiões do passado, igualmente, prescreviam a natureza ilícita do assassinato, em termos espirituais. Não podemos fechar os olhos para a realidade (brasileira e mundial) que não protege, ampara ou atende satisfatoriamente centenas de milhares de vítimas dos abortos clandestinos, muitos dos quais, além de ceifar a vida dos nascituros (que estão no ventre materno), dizimam mulheres, a grande maioria atendida em clínicas clandestinas sem o mínimo de condições de higiene e saúde.

O trabalho espírita, na Sociedade, precisa considerar todas as vertentes e contingências envolvidas e deve sair do “intra-muros” com a participação efetiva dos espíritas em movimentos e instâncias sociais, entre as quais os conselhos (municipais, estaduais e federais) de saúde e assistência social, por exemplo. Vejo muita gente até imbuída de bons propósitos, repetindo chavões e trechos de obras espíritas, mas que não realizam nada em favor da real conscientização e completa problematização do aborto. Em contrapartida, alguns arregaçam as mangas e, ao invés de tratar o tema como de natureza “religiosa”, procuram engajar-se em movimentos que estão do lado da vida, mas que não hostilizam, discriminam ou, principalmente, julgam quem quer que seja.

Manoel Fernandes Neto -  Muitas casas espiritas ainda desenvolvem dogmas e costumes advindos de atavismos de outras religiões, tais como proibição de livros contendo análise critica do movimento espirita, endeusamento de dirigentes e mediuns e uma administração vertical de departamentos, entre outros. Qual o caminho para mantermos uma casa espirita sintonizada com Kardec, acima de tudo?

Marcelo Henrique Pereira - As situações trazidas na pergunta são realmente realidade e consistem em alguns exemplos das distorções cometidas “em nome” do Espiritismo ou tendo Kardec como “referência”, nos discursos. São equívocos. Primeiro, porque o Codificador jamais pretendeu “institucionalizar” a Doutrina; segundo, porque jamais advogou a limitação ao livre-pensar espírita, dando completa liberdade aos adeptos de entenderem os princípios espíritas de acordo com sua condição evolutiva, sem saltos; terceiro, porque estabeleceu critérios de validação das comunicações mediúnicas que foram esquecidos pelos praticantes da filosofia espírita, mesmo que, com o passar do tempo, as premissas de análise pudessem ser aprimoradas e desenvolvidas – o que, também, não ocorreu.

Então, em face da grande presença católica em nosso país e,de outra sorte, considerando o sincretismo afro-brasileiro, o Espiritismo enquanto movimento sofreu e sofre constantemente a influência de ambos, resultando daí a “dogmatização” de determinados ensinamentos, a “ritualização” nas instituições, a “hierarquização” de médiuns/dirigentes, mitificando-os e endeusando-os e, o que é pior, a atuação de órgãos federativos como “censores” ou “prescritores” de condutas, abonando ou desencorajando, validando ou descredenciando pessoas, obras, movimentos. Isto tudo é lamentável, mas decorre da nossa condição de espíritos errantes, aplicando ao movimento e às instituições nossas visões ainda acanhadas e nossas interpretações parciais.

Uma casa espírita sintonizada com Kardec é uma instituição onde as pessoas se conhecem, se respeitam, procuram conviver em harmonia e entender que as diferenças interpretativas não devem ser abominadas ou afastadas, do contrário, fomentadas. Evidentemente, em termos administrativos, haverão diretrizes a serem respeitadas, em prol do coletivo. Mas que as decisões e deliberações sejam coletivas, democráticas e que se prime pelo respeito ao pensamento do Codificador e suas balizas no trabalho e na ação espírita. Aliás, o próprio Kardec nos legou oportunos exemplos. Vide o capítulo “Constituição do Espiritismo” (em “Obras Póstumas”), o opúsculo “Instruções práticas sobre as manifestações espíritas” e diversos outros tópicos em “O que é o espiritismo”, obra, aliás, pouco valorizada pelos espíritas mas que, na própria conceituação de Kardec, deveria ser uma das primeiras a serem lidas e, depois, constantemente consultadas.

Manoel Fernandes Neto - Na sua opinião, como está o chamado "legado" de Kardec no âmbito da FEB?

Marcelo Henrique Pereira - A expressão “legado” tem um componente cultural e filosófico fortíssimo: significa que alguém recebeu de outrem a incumbência de preservação da memória, dos fundamentos, dos ensinamentos. Em linhas gerais, todo e qualquer estudioso espírita é um legatário da obra de Kardec, porquanto está firmemente interessado na continuidade e na progressividade do conhecimento espírita. Prefiro não “vincular” o “legado” a esta ou qualquer instituição, porque em nome delas, muito já foi feito em prejuízo da humanidade e do conhecimento espiritual ou transcedental: cruzadas, inquisições e outras intolerâncias. Sempre que se dá uma importância descomunal a uma entidade ou movimento, em função da imperfeição dos homens que as integram/constituem, é possível a ocorrência de abusos, incoerências, incompreensões.

Que tal, então, imaginarmos que cada um de nós é parte integrante e responsável pela disseminação do conhecimento? Que tal envolver as pessoas, diretamente, na tarefa de perpetuação das informações de natureza espiritual (não somente as que foram trazidas em face do trabalho pioneiro e meritório de Rivail, mas a continuidade das comunicações mediúnicas e a respeitabilidade advinda da condição de verdade, segundo determinadas premissas de análise)? O “legado” de Kardec perpassa a ação consciente e dedicada de todo aquele estudioso que compreende os efeitos da mensagem espírita em si e busca disseminá-lo, para que outras pessoas possam ter acesso a ele, modificando-se e buscando a felicidade.

Entendo, ainda, que FEB, CEPA, CEI e tantas outras instituições brasileiras ou mundiais, que arregimentam seguidores da filosofia espírita e realizam trabalhos específicos em prol da divulgação do Espiritismo têm o seu valor e importância. São constituídos, seguramente, por pessoas abnegadas e voluntárias, que amam o que fazem e que estão convencidas de estarem fazendo o melhor ao seu alcance. Isto é fundamental: dar oportunidade aos que desejam trabalhar e conviver, lado a lado, movimentos que se arregimentam em função das características pessoais dos indivíduos, sendo que cada um possa buscar o melhor lugar para trabalhar e conviver.

Manoel Fernandes Neto - Qual o real papel de Jesus no espiritismo?

Marcelo Henrique Pereira - Um papel considerável, como o dos demais avatares presentes na História da Humanidade. Há personagens com grandes lições e exemplos, não necessariamente vinculados a movimentos ditos religiosos. Recentemente fui convidado para uma “palestra especial” na maior instituição espírita da Grande Florianópolis, justamente para falar de Jesus, em pleno mês de dezembro. Com a liberdade que me foi dada para enquadrar o tema e atendendo à solicitação dos dirigentes que não queriam uma palestra “sobre o Natal” ou o nascimento de Jesus, preparei minha exposição e lhe dei o seguinte título/enquadramento: “Jesus: Deus ou Homem? Mito ou Verdade? Humano ou Agênere? Espírito Puro ou Superior?”, justamente para compreender as principais confusões que existem no movimento espírita (e, lamentavelmente, entre dirigentes e palestrantes) sobre a condição espiritual de Jesus e sua missão em nosso planeta.

Jesus é um homem formidável. Eu o alcunho, carinhosamente, de “Magrão”, buscando uma proximidade, como a que temos com um irmão mais velho, um tio ou um amigo mais velho. Gosto muito das descrições bastante realistas e “humanas” contidas na obra de J.J. Benítez (“Operação Cavalo de Tróia” e Margaret George (“Madalena”) que apresentam uma visão de Jesus como homem com gostos e preferências, atitudes comuns aos homens de seu tempo e virtudes e atitudes compatíveis com um espírito ainda não totalmente perfeito, evoluído completamente, ou, como constaria da “Escala Espírita”, Espírito “puro”. Este Jesus é que deveria ser o Jesus espírita, o das parábolas e exortações ao progresso pessoal e à superação de si mesmo, como nas frases a ele atribuídas: “Vós sois deuses, brilhe a vossa luz” ou “Tudo o que faço, vós também podeis fazer”, entre outras.

Considerar Jesus como um dos guias e modelos para a Humanidade, mas não o único, já que a tradução “usual” e conhecida da resposta à questão 625, de “O livro dos espíritos” está errada na maioria das edições. Fico com Herculano Pires que assim traduziu: “Vede Jesus”, permitindo que tenhamos a clara ideia de que muitos foram, são e serão os missionários a apresentar “dicas”, apontar “caminhos” e distribuir “conselhos” para todos os que estão “a caminho”. Este Jesus é quem eu conheço e com quem dialogo em pensamento.

 

DEZEMBRO/2011

 

Este mês trazemos uma das vozes mais atuantes do estudo e divulgação do Espiritismo, o médium e palestrante de Belo Horizonte, Wanderley Soares de Oliveira, tem seu foco direcionado para a estudada reforma íntima no Espiritismo. Com mais de 20 livros publicados junto com a autora espiritual Ermance Dufaux, Wanderley surpreende os menos avisados ao desenhar um mundo de conflitos para aqueles que, em tese, não teriam motivos para isto: os próprios espíritas. São vários os episódios de seus livros que descrevem um desencarne dolorido para o espírita ao chegar ao chamado "outro lado".

 

Esta franqueza em expor pontos de vista com certeza não é unanimidade. Registram-se notícias de que seus livros não estão nas estantes de casas espíritas não "antenadas com o século XXI", em que a Doutrina Espírita é acessada por todos em livros, na TV, cinema, internet. "As organizações vão passar, o Wanderley Oliveira vai passar. Por isso, estou sempre examinando o que verdadeiramente me pertence em todo esse conjunto de experiências", afirma o autor. Ou ainda, em sua definição da frase que deu título a esta entrevista: "A Doutrina veio para a multidão".

 

Terapeuta Master & Practitioner em PNL, Wanderley Soares tem uma programação ampla na região, com palestras em Blumenau e Gaspar, e o lançamento de seu novo livro com Ermance Dufaux - "Diferenças não são defeitos", na sexta-feira, dia 15/4, na S.E. Nova Era. Veja a programação.

 

Com uma atuação marcante na Internet, com site profissional em www.wanderleyoliveira.com.br e o blogwww.wanderleyoliveira.blog.br, o palestrante é um entusiasta quando o assunto é a rede, principalmente em virtude de sua diversidade: "A internet é um lugar para gente e não para gurus ou monopolizadores da verdade", diz.

 

Nesta entrevista exclusiva, Wanderley fala desses assuntos e de sua expectativa de estar em Blumenau: "Estou sendo recebido com muitas manifestações de carinho e apreciação nas redes sociais e por e-mail, vindas de Santa Catarina."

 

Manoel Fernandes Neto - Nos Livros de Ermance Dufaux psicografados por você e em suas palestras, são apresentados recursos para conquista da reforma intima. Como estas ferramentas são recebidas, pelo público espírita e pelo movimento espírita federativo?

 

Wanderley Soares de Oliveira - As notícias positivas em relação à receptividade das obras de Ermance Dufaux e de nosso trabalho de exposição doutrinária são significativamente saudáveis e positivas.

 

Em relação à natural rejeição de alguns grupos ou pessoas eu, em particular, nunca guardei expectativa de agradar a todos e creio não ser esta a intenção da autora espiritual. Nem nosso Mestre conseguiu isso. Procuro sempre me fixar no lado bom do trabalho, com o qual procuro me motivar.

 

Cheguei a uma percepção que me parece bem razoável e verdadeira quanto às pessoas que relutam em aceitar os ensinos espirituais de Ermance Dufaux: no fundo elas não estão em conflito com os livros, mas consigo mesmas.

As lições de Ermance são espelhos que refletem com muita lucidez a nossa realidade espiritual. Mesmo usando de fraternidade e inteligência com os assuntos abordados em seus livros, de fato, não é fácil aceitar que, nós espíritas, não estamos com nossos assuntos conscienciais e espirituais resolvidos apenas em função de cargos e encargos, tempo de Espiritismo ou outras referências que costumam ser adotadas como indicadores de progresso espiritual individual, em nossa comunidade. Isso incomoda pra valer!

Todo trabalho público é criticado e aplaudido. Procuro nas críticas e nos aplausos somente o que for bom para minha melhoria, ciente de que o que estou fazendo é o melhor que posso, embora não guarde nenhuma intenção de que seja o melhor trabalho que esta sendo realizado no momento. Não faço comparações.

As organizações vão passar, o Wanderley Oliveira vai passar. Por isso, estou sempre examinando o que verdadeiramente me pertence em todo esse conjunto de experiências. Nesse sentido, quem convive comigo e me conhece sabe como estou em paz e com disposição espiritual renovada.

Manoel Fernandes Neto - Que critérios orientam as casas espíritas que não condizem com a codificação trazida por Allan Kardec?

Wanderley Soares de Oliveira - Cada grupo tem seu jeito, cada casa tem sua forma. Só mesmo quem se adoeceu na arrogância pode sair por ai ditando o que é certo e o que é errado em assuntos do Espiritismo.

A doutrina não precisa mais disso. O Espiritismo precisa mesmo é de pessoas fraternas, que saibam respeitar os diferentes e suas diferenças e que não permitam intoxicar seu senso de responsabilidade com o orgulho que incha a mente de soberba. 
Eu fico com a fala sábia e universalista de Allan Kardec no item 348 de O Livro dos Médiuns:

“Os grupos que se ocupam exclusivamente com as manifestações inteligentes e os que se entregam ao estudo das manifestações físicas têm cada um a sua missão. Nem uns, nem outros se achariam possuídos do verdadeiro espírito do Espiritismo, desde que não se olhassem com bons olhos; e aquele que atirasse pedras em outro provaria, por esse simples fato, a má influência que o domina. Todos devem concorrer, AINDA QUE POR VIAS DIFERENTES (o gripo é meu), para o objetivo comum, que é a pesquisa e a propaganda da verdade. Os antagonismos, que não são mais do que efeito de orgulho superexcitado, fornecendo armas aos detratores, só poderão prejudicar a causa, que uns e outros pretendem defender.”


Manoel Fernandes Neto - Quais as maiores dificuldades para a edificação de uma verdadeira reforma íntima?

Wanderley Soares de Oliveira - Acredito que seja o conflito interior que surge quando tomamos conhecimento de que não somos quem gostaríamos de ser e temos que aceitar quem realmente somos.

Como não fomos educados para saber como gerenciar esse conflito, assumimos uma postura de inimizade conosco mesmo.

Esse processo é a origem do martírio, isto é, as dores que adicionamos ao nosso processo de crescimento espiritual. Renovar já é muito difícil. Com martírio, pior ainda.

Manoel Fernandes Neto -  Fale-nos um pouco, se possível, sobre educação emocional.

Wanderley Soares de Oliveira - Volto à resposta da pergunta anterior. Uma das iniciativas para favorecer uma reforma íntima mais consciente é preparar as nossas casas espíritas, para ajudar a desenvolver emocionalmente o homem que busca o Espiritismo como fonte de libertação.

Sem preparação e treinamento, a renovação das atitudes se torna mais dolorosa.

Nesse sentido, o foco mais emergente a investir nas agremiações do Espiritismo é colocar evangelho e doutrina espírita em afinidade com educação emocional.

Quando apenas estudamos Espiritismo com foco em conteúdos, corremos o risco de congestionar o cérebro com um farto conhecimento sobre a vida e suas leis, e não sabermos como usar essa bagagem em favor da edificação da paz e da harmonia íntima que tanto buscamos. Dessa forma, amealhamos muita informação, sem operar a transformação.

Além de cursos sistematizados de Espiritismo, estamos necessitando de cursos sistematizados de autoconhecimento à luz do Espiritismo. Do contrário, podemos ter vastas noções sobre doutrina e continuarmos sem saber nada ou quase nada sobre as causas profundas de nossas dores e mazelas. Não é por outra razão que lamentavelmente, muitos espíritas estão desencarnando e experimentando muitas aflições e angustias na vida espiritual. E a ferramenta mais eficaz que conhecemos para todo este processo, legada por Jesus, é o evangelho, pois ele trabalha diretamente nossos sentimentos.


Manoel Fernandes Neto -  Você tem um trabalho marcante na internet, como você analisa as redes para benefício do aprimoramento do ser?

Wanderley Soares de Oliveira - As redes sociais, na minha modesta opinião de internauta, é a porta que se abriu na humanidade para uma mudança na linguagem nas relações humanas.

Essa mudança de linguagem implica numa nova forma de expressão da pessoa como ser humano que ela é. 
Ao mesmo tempo em que as redes são um reflexo da linguagem das gerações de espíritos que renasceram recentemente, ela também molda a postura de quem não está adequado à forma de se comunicar dos tempos novos.

Alguns pontos claros dessa linguagem são: desejo sincero de manifestar sua opinião sem esperar louvores ou reverências; compartilhamento de conhecimento sem os exageros da idolatria; cooperação e interesse altruísta em ver sua comunidade da rede satisfeita; coragem para a proximidade, mostrando seu lado humano e falível.

As redes são um lugar para relacionamentos. Pessoas acostumadas a comandar massas e inaptas a conviver com o ser humano, terão muita dificuldade no formato das redes sociais. A internet é um lugar para gente e não para gurus ou monopolizadores da verdade.

As redes estão horizontalizando as relações humanas, colaborando intensamente no desenvolvimento de uma mentalidade de cooperação e participação, sem os frágeis e desgastados papéis verticais de controle e falsidade.


Manoel Fernandes Neto -  Qual a sua opinião sobre os temas e livros espíritas levados para as telas do cinema e teledramaturgia? Existem riscos de uma exposição em massa da doutrina?

São excelentes iniciativas. É muito saudável que as pessoas saiam do cinema com seus pontos de vista pessoais. Com suas dúvidas particulares. Os filmes e teatros estão possibilitando a discussão.

A doutrina veio para a multidão. Esse receio de exposição em massa só pode surgir na cabeça de quem acha que ela tem que passar por um “controle de qualidade”. Parabéns às entidades que participaram dessa iniciativa, incluindo a honrosa FEB – Federação Espírita Brasileira.

A tarefa do centro, da doutrina e do espírita para com as massas pode ser resumida assim: consolar a dor de quem pede ajuda, esclarecer e preparar o homem para ser responsável pela sua existência, deixar claro que só o amor liberta e oferecer-lhes preciosas reflexões sobre como vencer o materialismo. A casa espírita que não oferece essas condições para que o homem seja alguém melhor e mais feliz, não está antenada com o século XXI, e pode, distraidamente, fugir dos propósitos superiores das organizações que se propõem a educar espiritualmente a humanidade.

Manoel Fernandes Neto - Quais são as suas expectativas em relação às palestras em Blumenau?

Wanderley Soares de Oliveira - Minha única expectativa nas atividades de comunicação do Espiritismo é ser útil a quem vai me ouvir. Estou sendo recebido com muitas manifestações de carinho e apreciação nas redes sociais e por email, vindos de Santa Catarina.

Isso me deixa muito à vontade. Blumenau é um local que visito pela primeira vez e isso torna este encontro ainda mais especial. Falarei a um público novo e desejo ser útil aos que estarão presentes. Espero poder contribuir positivamente para a divulgação da doutrina e fazer bons amigos nesta belíssima cidade que me recebe.

 

 

NOVEMBRO/2011

 

 

Casa-Irmã da S.E. Nova Era, a Sociedade Espírita Encontro Fraterno completa 20 anos de existência no dia 21 de novembro. Duas décadas de trabalho incessante em prol da Doutrina dos Espíritos. A data será comemorada com palestras e seminários, reafirmando que um dos objetivos da Casa é a disseminação do conhecimento. Nesta entrevista, Madalena Parisi Duarte, atual presidente, fala do trabalho que vem sendo realizado, faz um balanço da atuação, e reafirma sua convicção em dois pilares inovadores no Movimento Espírita – o respeito aos animais e ao meio ambiente.

 

S.E. Nova Era - 20 anos de fundação. Quais foram os ensinamentos e lições dessa caminhada de duas décadas?

 

Madalena - Nestes 20 anos de existência da Sociedade Espírita Encontro Fraterno, pudemos colecionar ensinamentos a mancheias, extraídos da Doutrina Espírita, assim como lições que a vivência prática costuma nos oferecer. Entre elas, a importância da reflexão, da humildade e da flexibilidade diante de situações de difícil ou delicada solução. A Doutrina Espírita, fundamentada nas verdades de Jesus, na razão e no bom senso, sempre nos serve de parâmetro seguro, auxiliando-nos a vencermos as dificuldades que eventualmente se apresentem no caminho.

 

S.E. Nova Era - Pode nos falar um pouco sobre a mudança de foco da Escola de Educação Infantil Meimei, em 2012?

 

Madalena - A criação do Recanto de Educação Infantil Meimei foi motivada por um compromisso e também por um ideal: oferecer gratuitamente, em período integral, um ambiente saudável e boa formação em nível pré-escolar a crianças de 4 e 5 anos, oriundas de famílias de baixa renda financeira. Entretanto, das 20 vagas oferecidas, apenas seis foram preenchidas no decorrer do ano letivo de 2011, tendo restado evidentes dois fatores principais: falta de demanda para o nível pré-escolar e, infelizmente, preconceito religioso, visto tratar-se de escola mantida por uma sociedade espírita.

 

Diante dessa evidência, e considerando os custos de manutenção, optamos por redirecionar o foco inicial. Assim, firmamos uma parceria com o Grupo de Escoteiros Theophilo Bernardo Zadrozny, que instalará um grupo de “lobinhos”, utilizando como sede as dependências do Recanto de Educação Infantil Meimei. Além dessa atividade, que preconiza o aprimoramento do caráter das crianças e sua educação como cidadãs por meio do “aprender fazendo”, estamos elaborando projetos para oferecer, a partir de março de 2012, em bases mensais, minicursos para a comunidade, com custos de inscrição simbólicos. Entre eles, Educação para o lar; Culinária saudável; Preparação para o primeiro emprego; Pintura em tecido, etc., além de palestras sobre temas multidisciplinares, a serem ministrados por profissionais voluntários, de várias áreas do conhecimento.

 

S.E. Nova Era - O que agregou de experiência até agora ao Encontro Fraterno essa iniciativa educacional?

 

Madalena - Por um lado, o encerramento das atividades da pré-escola nos trouxe certa frustração, visto ter sido criado por objetivos nobres. Por outro lado, entretanto, alegrou-nos perceber que não há demanda, o que nos leva a acreditar que o município esteja caminhando bem no que tange à educação infantil. Preferimos, contudo, vislumbrar a experiência vivida como um atalho que nos levou a uma estrada maior, a ser palmilhada por crianças – os lobinhos – e por adultos, que poderão usufruir os minicursos e palestras a serem oferecidos.

 

S.E. Nova Era - O Encontro Fraterno, além de estudo e palestras doutrinárias, tem um foco bastante esclarecedor em relação ao respeito aos animais e ao meio ambiente; como foi se desenhando essa atuação nesses 20 anos?

 

Madalena - Três aspectos, em especial, levaram-nos, ao lado dos demais dirigentes da SEEF, a destacar a questão espiritual dos animais: respeito aos animais; coerência para com os ensinamentos da Doutrina Espírita; e coerência para com os ensinamentos de Jesus, que pregou o amor e a misericórdia incondicionais. Embora para muitos adeptos do Espiritismo o assunto ainda esteja ligado ao campo do tabu, não podemos fazer vistas grossas aos ensinamentos contidos em O Livro dos Espíritos, parte 2ª, cap. X – Dos Três Reinos – “Os Animais e o Homem” e em outras obras subsidiárias da Doutrina Espírita, como “A Reencarnação”, de Gabriel Delanne (cap. V); “Revista Espírita” de março de 1860, de Allan Kardec; “O Consolador”, do espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier; em conhecidas obras de André Luiz e de Humberto de Campos, também psicografadas pelo citado médium, entre outras tantas, da autoria de escritores espíritas brasileiros, encarnados.

 

Em especial, nos alicerçamos, na abordagem que procuramos fazer sobre o assunto e no espaço que reservamos à questão animal, nas palavras de Emmanuel, contidas no livro do mesmo nome, psicografado por Francisco Cândido Xavier (cap. XVII – À sombra dos princípios): “[...] E, como o objetivo desta palestra é o estudo dos animais, nossos irmãos inferiores, sinto-me à vontade para declarar que todos nós já nos debatemos no seu acanhado círculo evolutivo. São eles os nossos parentes próximos, apesar da teimosia de quantos persistem em o não reconhecer.” Cabe-nos, ainda, destacar a frase de Abraham Lincoln, ex-presidente americano de reconhecida sabedoria: “Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhorem nem levem em consideração as condições dos animais.” Para nossa satisfação, na Doutrina Espírita os animais são levados em consideração, como nos comprovam as obras citadas e muitas outras que vêm surgindo dia a dia nesse campo.

 

S.E. Nova Era - Como você vê a consciência do ser encarnado na Terra em relação ao respeito ao meio ambiente e aos animais? Em que estágio nós estamos e o que ainda precisamos conquistar?

 

Madalena - Aprendemos, na Doutrina Espírita, que “a Natureza não dá saltos”, e que somos espíritos em evolução, ou seja, imperfeitos, em busca da plenitude moral e espiritual. Assim, embora com profunda tristeza, acompanhamos os desmandos do ser humano em relação ao meio ambiente e os maus-tratos infligidos aos animais, sem contar que a vida de milhões deles é ceifada, diariamente, para que sua carne sirva de alimento ao ser humano, não obstante os incontáveis recursos orgânicos hoje disponíveis. Percebemos, portanto, que permanecemos ainda em estágio bem inferior em termos de sensibilidade, fraternidade, misericórdia. Infelizmente, serão necessários séculos ou mesmo milênios para que o ser humano passe a ver no animal um “parente próximo” em evolução...

 

S.E. Nova Era - Qual a sua expectativa em relação à programação dos dias 24, 26 e 27? Como foram definidos os palestrantes e eventos?

 

Madalena - Aguardamos com sincera emoção a realização dos eventos programados em comemoração aos 20 anos da SEEF. Um dos palestrantes e médium de psicopictografia, Florencio Anton, do Grupo Espírita Scheilla, de Salvador-BA, é quase um membro de nossa Casa Espírita, alegrando-nos com sua presença uma ou duas vezes por ano, desde 2006. E, para corroborar o espaço que a SEEF reserva com carinho para a questão dos animais, convidamos Gilberto de Azevedo Marques - o Irmão Gilberto -, do Grupo Fraternal Francisco de Assis, de São Bernardo do Campo-SP, para ministrar o minisseminário “Nossos irmãos menores animais e sua não-humanização”. Além da presença desses queridos irmãos espíritas, programamos também um Festival de Música Espírita, com irmãos de ideal de nossa própria instituição e de outras coirmãs.

 

S.E. Nova Era - Qual a sua visão do movimento espírita catarinense e brasileiro?

 

Madalena - Constatamos com alegria a marcha do Movimento Espírita Brasileiro, no visível crescimento do número de adeptos e na exposição que vem tendo em vários veículos de comunicação, com destaque, nos últimos anos, para a série de filmes produzidos e que mereceram ótima aceitação do público espírita e dos simpatizantes da Doutrina. Em relação ao Movimento Espírita Catarinense, alegra-nos perceber sua modernização, acompanhada da realização de importantes eventos, no Estado, que contribuem para a ampliação do conhecimento doutrinário, bem como para estreitar os laços de união entre as diferentes instituições espíritas e fortalecer o movimento de unificação, ou seja, o estudo, a prática e a divulgação da Doutrina Espírita de acordo com as obras de Allan Kardec.

 

 

 

OUTUBRO/2011

 

 

Neste mês trazemos entrevista exclusiva com Richard Simonetti, funcionário aposentado do Banco do Brasil, residente em Bauru, SP. É orador, jornalista e escritor espírita, ocupando atualmente o cargo de presidente do Centro Espírita "Amor e Caridade". Livros publicados: "Quem Tem Medo da Morte?", "Uma Razão Para Viver", "Atravessando a Rua", entre outros.

 

P: - Por que grassam mo Brasil a corrupção e o desejo de tirar vantagem?
R: - Essas “virtudes” não constituem exclusividade brasileira. Exprimem uma condição do Espírito Humano, no estágio de evolução em que nos encontramos. Tanto que o profeta Isaias proclama: taxativamente: “Todo homem é mentiroso”.

 

P: - Mas essas mazelas não são mais evidentes em nosso país?
R: - É que a sociedade brasileira não conseguiu ainda desenvolver mecanismos de contenção, como ocorre em países mais desenvolvidos. Por outro lado, a recessão, a inflação, o desemprego a insegurança, que têm caracterizado a vida nacional, estimulam esse comportamento, num autêntico “salvem-se que puder”.

 

P: - Culpa dos políticos?
R: - Os políticos refletem as tendências das coletividades que os elegem. A afirmativa “casa povo tem o governo que merece” não se relaciona apenas com a escolha do voto. Se são raros os indivíduos legitimamente honestos e incorruptíveis, há uma tendência para sermos governados pelos seus antípodas.

 

P: - Não seria decisivo, na mudança de mentalidade do brasileiro, que tivéssemos, nos altos postos da nação, homens probos, que criassem condições para uma mudança de mentalidade, principalmente com investimentos na área da educação?
R: - Sem dúvida. Não esperemos, entretanto, por governos messiânicos, de salvação nacional. Nossas melhores possibilidades de crescimento como nação e como povo estão na iniciativa individual, no respeito às instituições, no empenho do trabalho, na consciência do dever.

 

P: - Que dizer das campanhas em favor da moralização da sociedade, justamente a partir desse esforço de cada brasileiro?
R: - O caminho é esse. Imagino que grandes progressos faríamos se todos assumíssemos, para começar, o compromisso de não mentir.

 

P: - Por que isso é tão importante?
R: - Porque é quase impossível sustentar o mal sem a mentira. Sem ela não teremos o adultério. Como trair o cônjuge sem mentir para ele? Não teremos estelionatos. Como lesar alguém sem iludi-lo? Não teremos assaltos. Como vender o produto do roubo sem “maquiar” a procedência?

 

P: -  O assunto é interessante. Você poderia citar outros exemplos?
R: - O assunto envolve todas as relações humanas. Atrevo-me a dizer que sem a mentira seria muito mais fácil eliminar o dragão da inflação. Não teríamos industriais e comerciantes que proclamam vender com um lucro mínimo que está muito acima do razoável. Sem a mentira não teríamos os políticos corruptos que prometem tudo e não cumprem nada. Sem a mentira haveria maior confiança entre as pessoas, produto tão escasso hoje em dia, sem o qual a vida fica complicada, principalmente no lar. Um lar sem confiança entre os cônjuges está sujeito a toda sorte de desajustes.

 

P: - Qual a contribuição do Espiritismo nesse particular?
R: - A Doutrina Espírita é a trombeta do Céu, como está na apresentação de “O Evangelho Segundo O Espiritismo”, alertando-nos sobre a continuidade da existência no Plano Espiritual, onde nos pedirão contas de todos os prejuízos causados ao semelhante, desde algumas gramas sonegadas na balança de nossas ações, às falcatruas cometidas contra a coletividade.

 

 

SETEMBRO/2011

 

Nossa entrevista este mês, traz um brilhante exemplo de devoção e divulgação espírita. A convivência com Herculano Pires e a leitura constante de suas obras, despertaram-na para a idéia da Pedagogia Espírita. Foi, ainda, ao influxo de Herculano que enveredou por uma visão critica do movimento espírita, procurando sempre manter fidelidade ao pensamento de Kardec. Estudando na Europa teve acesso a um dos maiores pedagogos de todos os tempos, Pestalozzi, não por acaso, mestre de Kardec.

 

De profissão jornalista, escritora de nascença, educadora por vocação, mestre e doutorada em Educação pela USP, Dora Incontri está fazendo tese sobre Pedagogia espírita. Espírita desde criança, de família, médium psicografa desde os 11 e de psicofonia desde os 15. É poeta nas horas vagas.

Obras já publicadas:
-  Chamas de Paz – Poesias minhas, 1982.
- Imortais da Poesia – Poesias psicografadas, 1983 – Correio Fraterno.
- Educação da Nova Era – Ensaio, 1984, reedição revisada e rescrita, 1998, Editora Comenius.
- Estação Terra – comunicação no Tempo e no Espaço – Paradidático, 1991, Editora Moderna.
- Pestalozzi, Educação e Érica, 1996, Editora Scipione.
- A Educação segundo o Espiritismo, 1997, Edições Feesp.
- Textos Pedagógicos – Tradução de textos inéditos de Kardec, em português, 1997, Editora Comenius.
- Conforto Espírita – Mensagens Psicografadas 1997, IDEBA.
- Francisco, o pobre rico de Assis – Infantil, 1998, Editora Comenius.

 

P: – O seu envolvimento com a Educação teve a influência de Herculano Pires? Você o conheceu?
R: – O envolvimento com a Educação teve várias origens: a primeira, provavelmente reencarnatória, deve ser um assunto com que já mexi em outras vidas, mas, agora, tive influência de minha mãe, a quem acompanhava desde pequena em seu trabalho pedagógico numa favela de São Paulo. Foi também minha mãe que me deu uma educação libertária, diferente, com ampla liberdade de expressão e igualdade de relações na família. Depois, a convivência, desde 2 anos de idade com Herculano Pires e a leitura constante de suas obras, despertaram-me para a idéia da Pedagogia Espírita. As estadias de vários anos na Alemanha também foram determinantes. Lá, tive a oportunidade de estudar nas 5ª. E 6ª. Série e depois no 1º. Ano do ensino médio, em escolas avançadas pedagogicamente, o que me sensibilizou para a necessidade de uma mudança radical na Pedagogia. O aprendizado da língua alemã, além do francês, inglês, italiano, foi providencial, pois me abriu o acesso para um dos maiores pedagogos de todos os tempos, Pestalozzi, não por acaso, mestre de Kardec e inspiração de meus trabalhos atuais.

 

Herculano Pires exerceu influência decisiva em minha vida, não só pela afinidade afetiva que sempre tivemos, mas pelas idéias espíritas e filosóficas. Foi ao seu influxo que enveredei por uma visão crítica do movimento espírita, procurando sempre manter fidelidade ao pensamento de Kardec. Também a proposta em que estamos trabalhando no Instituto Espírita de Estudo Pedagógico e na Editora Comenius tem inspiração em Herculano, pois trata-se de resgatar o Espiritismo em seu aspecto cultural e pedagógico.

 

P: – O que é Educação Espírita? Por que Pedagogia Espírita?
R: – A resposta a essa pergunta cabe em livros e cursos inteiros. Mas tentando resumir algumas idéias, posso dizer que a Educação Espírita deve ser uma nova forma de educar o homem, encarando-o como um ser reencarnado, herdeiro de si mesmo, um ser integral e divino, pleno de potencialidades. Essa educação não pode ser coercitiva, modeladora, impositiva de fora para dentro, mas promover um despertar do Espírito, para que ele construa a si mesmo, num processo de auto-educação permanente. A Pedagogia Espírita é a formulação teórica e a aplicação prática desta Educação. É a disciplina que estuda e orienta um processo educacional que leve em conta os dados fornecidos pela Doutrina Espírita.

 

É bom frisar que a Educação Espírita, como desenvolvi no meu livro “A Educação segundo o Espiritismo” não é mera catequese de Espiritismo. Aliás, pode-se praticar esta Educação com alunos espíritas e não-Espíritas, pois trata-se de uma postura pedagógica e não de uma doutrinação. O ensino do conteúdo espírita deve ser feito para aqueles que assim o desejarem, porque já dizia Kardec devemos respeitar a liberdade de consciência e o Espiritismo não faz proselitismo.

 

P: – Como se pode levar a Pedagogia Espírita às Universidades? Conte-nos a sua experiência profissional no campo da Educação.
R: – Em parte, já estou realizando este trabalho, com minha tese na USP (Universidade de São Paulo), cujo título é “A Pedagogia Espírita, um projeto brasileiro e suas raízes históricas”. Mas também como atual coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade Ítalo-Brasileira, estou praticando – sem fazer proselitismo – uma pedagogia espírita. Acho que mais à frente poderemos estabelecer em várias faculdades – e já tenho propostas neste sentido – cursos de extensão universitária e pós-graduação, que constituam uma especialização na área da Pedagogia Espírita.

 

P: – Qual é a proposta do Instituto Espírita de Estudos Pedagógicos, do qual você é uma das fundadoras e coordenadoras?
R: – A proposta é justamente pesquisar, debater e propagar a idéia da Pedagogia Espírita, congregando pedagogos, pesquisadores, interessados em geral, espíritas ou não-espíritas. Promovemos cursos, grupos de estudos e também estamos começando a atuar na prática, em trabalhos experimentais, como o projeto FEPASA, num bairro carente em Jundiaí. Outra proposta nossa em andamento é a formulação de um grande projeto pedagógico chamado Colônia Pestalozzi.

 

P: – Poderia adiantar para os leitores sobre este projeto?
R: - Pouco, para não perdermos a impacto da surpresa e porque ainda estamos no meio da discussão. Posso dizer que se trata de um projeto ousado, com escola para crianças, adolescentes e um curso superior de Educação. Temos um grupo com cerca de 30 pessoas, de diversas profissões e estamos formulando minuciosamente o projeto desde setembro de 98. Deve ficar pronto nos próximos meses. Queremos fazer algo com bastante planejamento e consistência, pois já passou a época dos projetos nascidos ao acaso, sem previsão ou fundamento.

 

P: - Considerando que o Espiritismo desemboca no social, devem as sociedades espíritas incentivar, apoiar e participar de eventos promovidos por políticos, por exemplo, a instituição e posterior comemoração do Dia dos Espíritos, do Dia de Allan Kardec, etc.?
R: - O Espírita deve atuar espiritamente no lar, na escola, no trabalho, sem necessidade de fazer proselitismo. Todos deveriam perceber à sua volta a qualidade ética e cultural de suas produções individuais e coletivas, o que indicaria claramente a influência do Espiritismo. Mas é preciso tomar certo cuidado em relação a eventos promovidos por políticos para que o centro ou a instituição espírita não se tornem joguetes de manipulação na busca desenfreada de votos. Infelizmente, ainda no plano político, as boas intenções aparecem muito obscurecidas por interesses escusos e ambições pessoais. Não podemos cair na armadilha em que caem certas denominações religiosas, de angarias partidários e votos através das próprias instituições. A política, como ramos do conhecimento humano, pode e deve ser discutida nas instituições espíritas. Mas as instituições devem ficar acima da politicagem, dos jogos partidários e das disputas mesquinhas de poder.

 

 

AGOSTO/2011

 

O baiano José Medrado é um dos mais conhecidos e carismáticos expositores espíritas da atualidade. Médium, escritor, apresentador de programas de TV, Medrado possui uma maneira contagiante de transmitir a mensagem espírita, sempre com muita alegria e entusiasmo.
Nos dias 07 e 08 de maio de 2005, Medrado esteve em Fortaleza para ministrar o seminário A Arte de Ser Feliz, nesta ocasião a equipe da Terra Espiritual teve oportunidade de entrevistá-lo e abaixo reproduzimos o teor da conversa.

TE – Como o senhor descobriu a Doutrina Espírita?

JM – Eu descobri a Doutrina Espírita aos 15 anos. Na época eu era aluno do colégio da Polícia Militar lá em Salvador e já sentia, digamos assim, a ação da mediunidade e não entendia. Um professor meu de português, certa vez falava com um outro colega meu sobre sintomas da mediunidade e aí eu fui vendo que tudo o que ele dizia era o que eu tinha, então, ali mesmo, ele disse que iria me levar a um centro e eu fui, e já comecei a trabalhar mediunicamente aos 15 anos e com 17 anos eu, esse professor e um grupo de amigos fundamos o centro que eu estou dirigindo até hoje.

TE – Quais os desafios e oportunidades que a mediunidade trouxe par ao senhor?

JM – Eu vejo a mediunidade com bastante naturalidade. Não acho que o médium seja melhor do que ninguém ou que tenha uma missão por desenvolver. Eu acho que é uma tarefa que pode se diferenciar das demais, mesmo com aquela concepção kardequiana de que todos somos médiuns, mas há aqueles que se diferenciam pela peculiaridade da tarefa que tem a desenvolver e, naturalmente, tem me dado muitas alegrias o trato com a mediunidade e a convivência com os espíritos, inclusive aqueles menos esclarecidos, porque nós temos a oportunidade de fazer florescer a esperança naqueles corações que ainda não conseguiram vislumbrar a luz. 

TE – Qual a reação de sua família quando o senhor abraçou o Espiritismo?

JM - Minha família é muito católica. Meu pai era carregador de andor, era da irmandade da Conceição da Praia que é a irmandade católica mais antiga do Brasil, então eu sofri um revés muito grande no primeiro momento. Já minha mãe não, minha mãe sempre me apoiou. Mas com o passar do tempo meu nome foi se tornando conhecido e hoje meu pai, meus irmão vão ao centro. Hoje falam de mim com muito orgulho. Meu pai me criou muitas dificuldades, mas hoje quando alguém pergunta ele diz: “não, eu sempre apoiei, sempre apoiei porque sabia que este era o caminho dele.” (risos).

TE – O senhor tem uma agenda muito cheia. Como o senhor lida com a grande disponibilidade de tempo que tem que dedicar aos outros? Isto não pesa, não causa transtornos?

JM – Olha, é verdade, causa. Eu não gosto daquelas opiniões santificadoras, superiores. Eu sou um espírito muito comum. Eu tenho as mesmas qualidades e defeitos que 99% da população do mundo possui. Por exemplo, eu não gosto de viajar. Gosto de estar nos lugares, mas o trajeto em si me cansa.

Eu moro numa casa, eu gosto de cuidar do meu jardim. Eu tenho 4 cachorros, então para mim, ficar afastado deste meu ambiente domestico é um pouco custoso sim, mas eu gosto. Gosto de estar entre amigos, gosto de fazer novos amigos, então eu você se acostuma com o processo e você sente que tem alguma coisa para oferecer. Eu, particularmente, que tenho este trabalho diferenciado dentro do movimento porque trabalho muito a alegria, trabalho muito estar de bem, naquele sentido das pessoas se soltarem. Uso muito a música, então eu termino me integrando aquilo que eu peço que as pessoas façam eu faço também, então me dá um bem-estar muito grande e isto termina compensando este aparente transtorno das viagens.

TE – O senhor veio a Fortaleza para ministrar um seminário sobre felicidade. Por que as pessoas têm tanta dificuldade para sentir felicidade?

JM – É como eu tenho dito aqui: “ É porque as pessoas têm conceitos equivocados, ou melhor, elas não dão atenção ao seus próprios conceitos de felicidade e elegem modelos e referências que, muitas vezes, são referências falsas de felicidade.” As pessoas elegem alguém e esse alguém pode passar marca de felicidade mas, ali por dentro, pode estar uma alma em conflito, uma alma em desespero. Então, as pessoas precisam entender que a felicidade está circunstanciada às suas necessidades. Toda vez que nós satisfazemos uma necessidade nesta luta humana por se buscar felicidade, estamos criando oportunidade de alegria, oportunidade de bem-estar. A felicidade vai ser sempre isto: momentos. E nós sabemos, pela Doutrina Espírita, que não existe a felicidade plena, mas nos podemos usufruir e aproveitar bastante desta felicidade relativa que nos encanta. Eu falei há pouco de estar em casa, cuidando de plantas. Eu adoro mexer em jardins. Eu adoro ficar rolando na grama de minha casa com meus cachorros, eu tenho 4 cachorros. Quer dizer, são momentos de felicidade. Quando estou com meu público também, quando estou fazendo o meu público sorrir, cantar, são momentos de felicidade. Mas eu sei que ao lado disso vou ter que enfrentar resistências de militantes mais ortodoxos, conservadores, que não compreendem esta minha forma de pregação e é isso que eu procuro anular, neutralizar dentro de mim, porque senão me deixaria infeliz. A felicidade é em síntese: saber o que você está necessitando. Ir em busca desta satisfação Lícita (ênfase) e, ao mesmo tempo, neutralizar aquilo que por ventura possa trazer no seu bojo alguma forma de infelicidade ao seu coração. 

TE – Como é que este sentimento de felicidade contribui com a saúde e com a transformação do homem para melhor?

JM – Ah, Mas muito! Você sabe, foi realizada uma pesquisa em Nova Iorque, pelo Dr. John Thompsom, onde se comprovou que 10 minutos de sorriso diários levam as pessoas a ter um sistema imunológico mais forte. Foi feita também uma pesquisa na universidade da Virginia, com o sistema límbico profundo, onde se colocaram 10 mulheres para mentalizarem uma coisa alegre, uma passagem alegre de suas vidas, uma triste e uma neutra e se verificou que o sistema límbico profundo esfriava quando da passagem alegre gerando mais endorfina no cérebro que é o hormônio do prazer, como a dopamina também e a serotonina. Quando elas vibravam com a coisa triste, aqueciam esse sistema límbico, que é uma espécie de noz que temos no centro do cérebro, e queimava o que tinha ali armazenado de endorfina, dopamina e serotonina. E quando o pensamento era neutro não mexia nada, quer dizer; comprovou-se efetivamente que a movimentação da alegria pelo corpo gera um bem-estar e uma saúde mais apurada, sem sombra de dúvidas.

TE – Como deve ser a relação entre a razão e a emoção? 

JM – Deve ser uma relação de equilíbrio. Normalmente as pessoas infelizes, elas se incomodam com a felicidade das outras. Normalmente as pessoas tristes, elas se sentem agredidas com a alegria das outras. Isso é um fato, você vai ver isso no dia-a-dia da sua casa.então nós precisamos é exatamente aprender a pautar as nossas emoções com razão e a nossa razão com doses de emoção, porque só assim nós conseguiremos realmente viver uma vida, aproveitando os seus momentos de satisfação, de prazer, tirando lições daqueles momentos de dor e aflição e seguindo intimoratamente na direção das nossas propostas evoutivas. Eu acho que é o equilíbrio o grande desafio, que é muito complicado, mas nada que não seja perfeitamente plausível.

TE – O que a Doutrina Espírita trouxe para sua vida?

JM – A Doutrina Espírita trouxe entendimento, trouxe alegria, trouxe felicidade. Tudo dentro do processo relativo. Nem sempre estar no movimento espírita é prazeroso, nem sempre estar no movimento espírita implica em felicidade em razão exatamente das almas em conflito que a gente tem que encontrar ao longo da nossa caminhada. Mas eu acho que tudo isso faz parte desse processo desafiador de nós sempre sermos mais e mais felizes, porque sabemos que o movimento é feito pelos homens e a Doutrina não, ela está ali, perfeita, pura. Então quando eu uso o sorriso, quando eu uso a música, eu não vejo em nenhuma das obras de Allan Kardec nenhuma citação negativa a esses princípios, então a gente consegue compreender que as pessoas que não entendem ou buscam outros caminhos estão vivendo também os seus processos de entendimento pessoal. A Doutrina trouxe isso. Trouxe-me como boa nova, trouxe-me em especial a esperança de estar sempre, a cada dia, melhor.

TE – Quais são seus projetos para o futuro?

JM – Eu sou de uma índole muito irrequieta, eu sempre estou querendo inovar, eu sempre estou querendo empreender. A Cidade da Luz,a instituição que engloba alguns departamentos, nós temos 4 prédios na Cidade da Luz mais um prédio fora e nós sempre estamos criando. Eu estou pensando agora em ver um centro de cultura, colocar um centro de cultura que resgate a tradição do nosso povo, do povo lá da Bahia. Então sempre estou vislumbrando o movimentar, o gerar realmente dinamismo para que as pessoas se sintam motivadas. Eu acho que nós estamos necessitando permanentemente de motivação, porque o marasmo termina criando poeira, dá bolor, ma mofo. Eu acho que a gente tem que estar sempre se movimentando para continuar vivendo bem.

TE – O que foi que transformou uma idéia, um sonho, nesta realidade concreta que é a Cidade da Luz?Foi o otimismo?

JM - Muito pelo contrário, interessante esta pergunta, muito pelo contrário. Foi a miséria que eu passei na minha infância. Eu tive uma infância onde passei fome, tive muitas dificuldades. Minha mãe era pernambucana, órfã. Casou em Belo Horizonte e foi para a Bahia. Meu pai se afastou um pouco da família, constituiu outra família fora. Passamos muitas dificuldades sem médico, os médicos que tínhamos era do antigo INPS que hoje é o SUS, então eu sofri muito por conta disso, minha mãe também. Morávamos numa região de prostituição lá na Ladeira da Preguiça em Salvador, perto da Conceição da Praia. Isso tudo foi gerando em mim uma vontade de ajudar mais as pessoas para que elas não passassem pelo que passei, crianças não sentissem a fome que senti. Isso que foi, em verdade, o meu mote para ajudar a construção da Cidade da Luz e no ano de 2004 a Cidade da Luz realizou mais de 150.000 atendimentos sociais. Isto para mim foi uma conquista muito grande e com muita alegria.

TE – Pediríamos que o senhor deixasse sua mensagem final aos nossos leitores.

JM – Eu penso o seguinte: Eu acho que está na hora, ou talvez já tenha passado da hora de nós nos concentrarmos nos nossos objetivos de felicidade nesta vida. Sei que a vida é difícil, a vida é dolorosa, há momentos em que choramos, mas precisamos nos concentrar nos momento em que sorrimos, nos momentos de alegria para fazermos com que o fardo se torne um pouco mais leve. Além do mais, confiar que “Se o Senhor é meu pastor nada me faltará”, nunca (ênfase). É essa confiança que anima a alma a ter mais força para vencer os desafios. 
TE – Obrigado.

 

 

JULHO/2011

 

Clóvis Sousa Nunes é professor, projetista técnico, parapsicólogo, pesquisador de fenômenos paranormais, escritor e conferencista espírita, especialista em Transcomunicação Instrumental. Membro da Sociedade Suíça de Parapsicologia em Zurique; Membro da Metascience Foundation Inc. em Miami, EUA; Membro-representante, no Brasil, do CELT - Círculo de Transcomunicação em Luxemburgo - Europa. Autor de conferências proferidas na maioria dos estados brasileiros e no exterior, como: Inglaterra, França, Espanha, Alemanha, Índia, Japão, Estados Unidos, dentre outros. Consultor de programas sobre assuntos paranormais da Rede Globo de Televisão, tendo sido entrevistado mais de 50 vezes em diversos programas de TV como Fantástico, Globo Repórter, Sem Censura, Jô Soares, Silvia Popovic, Márcia Peltier. Concedeu também mais de 400 entrevistas sobre paranormalidade em jornais, revistas e rádios do Brasil e exterior.

 
"Duvidar hoje do espírito não é mais uma questão de crer ou não crer nessas coisas. É simplesmente uma questão de você estar bem ou mal informado”.

Por Milena Melo

 

O entrevistado Clóvis Nunes

Estabelecer comunicação com aqueles que já passaram desta para uma melhor... É isso o que proporciona a Transcomunicação Instrumental (TCI), também conhecida como fenômeno das vozes eletrônicas. Fenômeno esse que vem despertando polêmica tanto no meio científico como no meio religioso. Há quem acredite que essa comunicação não passa de farsa, ilusionismo ou produto da mente de quem vê, lê ou ouve. Mas também há os que afirmam manter contato com o além e, ainda, aqueles que se dedicam a estudar o fenômeno seriamente, destacando o seu aspecto científico, e se propõem a divulgá-lo.

Em visita a João Pessoa, o parapsicólogo e pesquisador baiano Clóvis Souza Nunes, especialista no assunto, nos concedeu uma entrevista e procurou esclarecer algumas dúvidas sobre a TCI. Além de contar como conseguiu trazer para o Brasil as primeiras imagens paranormais, explicar o fenômeno e como ele se dá, Clóvis Nunes nos fala a respeito de como a mídia brasileira lida com as questões do além, da edição do seu debate com o Padre Quevedo e seus projetos futuros. Tentamos editar minimamente a entrevista para que você não perca nenhum detalhe. Nossa conversa foi longa, mas vale a pena ser lida...

 

 

ALTERNATIVOX: Como surgiu o seu interesse em pesquisar a Transcomunicação Instrumental?

CLÓVIS NUNES: O meu interesse pela Transcomunicação Instrumental surgiu através da parapsicologia e da psicobiofísica. Eu ouvi falar pela primeira vez nos fenômenos das vozes eletrônicas, ou EVP (Eletronic Voice Phenomenon), no final dos anos 70 e começo dos 80, através do Henrique Rodrigues, um amigo parapsicólogo que hoje vive em Belo Horizonte e tem mais de 80 anos de idade. Ele percorreu vários países e teve contato com os pioneiros da transcomunicação no mundo. E tive acesso ao primeiro livro de transcomunicação estrangeiro publicado em Português chamado Telefone para o Além, Editora Época, de Friedrich Jürgenson, primeiro homem a gravar vozes humanas entremeando cantos de pássaros. Nesse livro ele relata a história do seu primeiro contato com o fenômeno das vozes eletrônicas. E também tive acesso ao primeiro livro sobre o assunto na Europa, em Alemão, Vozes do Universo, que causou uma grande repercussão. E, a partir disso, eu comecei a me corresponder com pessoas que tiveram acesso a esse fenômeno.

ALTERNATIVOX: Como e há quanto tempo você começou a estudar o fenômeno?

CLÓVIS NUNES: Em 1989 eu soube do I Congresso Mundial de Transcomunicação da Europa, que aconteceu na cidade da Basiléia na Suíça de 9 a 12 de novembro. Fui o mais jovem dos congressistas e primeiro brasileiro presente, isso há 13 anos atrás. O congresso tinha 850 participantes e eu estive em companhia de dois amigos que chegaram depois. Nós éramos os únicos sul-americanos. Todos conferencistas eram pesquisadores, escritores, autores de trabalhos. E a transcomunicação estava numa fase avançada. Nesse ano já tinham sido capturadas as primeiras imagens do além e muitas vozes já estavam sendo estudadas em laboratório. Também já existiam textos recebidos por computadores e vozes captadas através da telefonia (e de secretárias telefônicas). Lá eu conheci o presidente oficial do congresso, Dr. George William Meek, autor do Spiricom (Spirit + Communication), que era uma máquina americana para falar com os espíritos. Ele era um cientista muito conceituado e respeitado nos Estados Unidos. Ele investiu, de seus recursos pessoais, 500 mil dólares em equipamentos para fazer contato bidimensional com o espiritual. E aconteceu um fato interessante: ele havia escrito um livro que foi traduzido para 32 idiomas, chamado Cura dos Paranormais, juntamente com outros pesquisadores, físicos, biólogos e médicos. O livro, resultado de 12 anos de pesquisa, chega à conclusão de que nenhum paranormal havia se auto-cirurgiado. Mas eu conhecia um médium, João de Abadiânia, que havia feito uma cirurgia nele mesmo (por causa de um pré-enfarto) e, a meu pedido, cedeu as fotos da operação para eu levar a esse congresso.

Eu consegui marcar um encontro com o Dr. George Meek no terceiro dia, através de indicação do Dr. Hernani de Guimarães Andrade, um grande pesquisador brasileiro que tinha o conhecia. Ele me atendeu durante um jantar com sua secretária que falava espanhol e fui direto ao assunto: disse que conhecia um fato no Brasil que contrariava a sua tese, contei a história e mostrei as fotos. Quando ele viu as fotos ele se impressionou, porque o homem, quando está comprometido com a verdade, tem um comportamento diferente do religioso, que está comprometido com a crença. Ele se apaixonou pela hipótese e a entrevista que deveria durar meia hora, durou quase duas horas e meia. Depois disso, ficamos amigos e eu pedi que ele me apresentasse aos principais congressistas porque eu queria trazer material para os jornais do Brasil. Ele marcou (até hoje eu não sei se ele fez isso de propósito ou por falha na comunicação) as entrevistas nos países onde os pesquisadores viviam. E havia um pesquisador, o Ernest Senkowski, físico e engenheiro alemão (entre muitas outras coisas!), que está para a Transcomunicação na Europa como Chico Xavier está para o Espiritismo no Brasil.

O Dr. George Meek marcou com ele na Alemanha, na quarta-feira após o congresso que acabaria no domingo. Eu estava com poucos dólares, na época com muita dificuldade financeira, e um amigo meu, do Rio de Janeiro, sabendo a quantidade de dólares que eu tinha para viajar, me deu 18 pedras de Topázio Imperial com certificado de garantia - ele tinha uma mina de extração em Minas Gerais. Quando estávamos de viagem marcada, saímos vendendo pedras. Ninguém quis as nossas pedras. Andamos três dias tentando economizar, sem dinheiro para gastar com táxi ou metrô. Até que um comerciante desconfiou que nós éramos contrabandistas, nós percebemos que ele iria chamar a polícia, saímos da loja e desistimos de vender as pedras. Fomos para o hotel e nos contentamos em ver o Dr. Senkowsky, pois o dinheiro não dava para ver os outros que estavam agendados (um total de quatro países). Foi uma viagem de sacrifícios e, como não tínhamos dinheiro para o hotel, fomos à noite para dormir no trem e deixar as malas nas estações. E o Dr. Senkoswky havia apresentado um vídeo com as primeiras imagens do além, que aqui no Brasil ninguém tinha visto. Imagens belíssimas, de entidades espirituais, que ele tinha levado para mostrar aos pesquisadores. Eu vi aquilo tudo e tinha muita vontade de trazer para cá.

Se eu chegasse aqui dizendo que estava num evento de pesquisa internacional onde tinha visto espíritos se comunicando através da tela de tv e não tivesse um vídeo para mostrar, iria ser difícil de acreditar. Nós chegamos à casa dele as nove da manhã e ele nos atendeu. Eu pedia o vídeo e ele não me dava. E toda vez que eu pedia a fita de vídeo, ele me dava uma fita k-7. Eu deixava bem claro que não queria a voz, que precisava das imagens. Mas ele deu um arquivo, livros, material de pesquisa e, perto da hora de ir embora, eu pedi a fita novamente. Ele me deu a quinta fita k-7. Para trocar gentileza, eu sugeri ao meu amigo que a gente oferecesse uma daquelas pedras para que ele escolhesse. Ele não cobrou pelo material, mas se interessou muito pelas pedras. Para nossa sorte, ele era colecionador de pedras preciosas. Ele foi a uma sala cheia de gavetas, todas elas repletas de jóias, e examinou a pedra que tínhamos dado. Viu que eram verdadeiras. E ele não tinha aquelas pedras. Ficou muito agradecido e saiu ligando para todos com quem nós tínhamos entrevista agendada para nos esperar nas estações. Saiu com a filha e voltou com as passagens de trem, disse também que todos os hotéis estavam pagos pelos meus anfitriões e me deu 500 dólares. E ele acabou me dando a fita de vídeo. Esses dois fatos me colocaram no circuito da transcomunicação e me fizeram começar a trabalhar para disseminar a transcomunicação no Brasil: o contato com o Dr. George Meek e o contato com o Dr. Ernest Senkowsky.

ALTERNATIVOX: Como se dá esse processo de comunicação? O que é necessário para manter comunicação com os mortos?

CLÓVIS NUNES: Olha, os primeiros contatos se deram através de rádio e gravadores. Aconteciam de maneira involuntária, sem que os pesquisadores envolvidos desejassem que isso acontecesse. A tentativa de falar com os espíritos por aparelhos é uma coisa antiga e envolveu grandes nomes como Thomas Alva Edison, que tentou durante sete anos contato através de um aparelho que ele tinha construído na época e foi o precursor dos gravadores atuais. Thomas Edison usou produtos químicos, como o permanganato de potássio na tentativa de ouvir vozes do além. Morreu sem lograr êxito, porque a ciência do seu tempo não lhe ofereceu suporte para isso. Ele declara suas experiências num material que eu trouxe da Biblioteca Nacional de Washington. Eu estive lá por três dias pesquisando isso, coloquei no meu livro esse material, é a primeira vez que alguém publica essa informação sobre Thomas Edison. Nenhum biógrafo jamais falou sobre isso. Nesse documento ele revela o interesse do homem que foi considerado o cérebro mais útil das Américas, o inventor da lâmpada elétrica, da bateria alcalina e muitas outras coisas, que tem mais de 1.500 patentes registradas, que se ocupou durante esse período para tentar falar com os espíritos através do aparelho eletrônico.

E Thomas Edison dá notícia de outros pesquisadores que também tentaram e não conseguiram. Todos esses pesquisadores estavam na época em que a ciência era toda eletromecânica. Somente mais tarde, quando a ciência tornou-se eletroeletrônica, que nós desenvolvemos os transistors e começamos a dominar a matéria radiante, as ondas de rádio ficaram em evidência nas relações humanas e os espíritos conseguiram, através de Friedrich Jürgenson, na Suécia, em 1959, fazer os primeiros contatos. Os pesquisadores receberam essas primeiras comunicações como uma espécie de anomalia dentro da eletrônica. Mais tarde, com uma pesquisa apurada, se descobriu que essa anomalia era fruto de uma ação inteligente. Que havia uma consciência sem corpo, de outra dimensão, atuando no campo magnético desses aparelhos. O trabalho foi descobrir que ações eram essas e de quem eram essas interferências. E depois essa pesquisa constatou que eram de pessoas que tiveram seus corpos destruídos, pessoas falecidas, a quem chamamos de espíritos. Essas comunicações marcaram, nos anos 60, muitas pesquisas. Nessas épocas estavam em desenvolvimento as vozes sintetizadas. Nos anos 70, as pesquisas já ocupavam na Europa mais de 300 postos de observação e escuta. Nos anos 80, o engenheiro George Meek, a quem eu me referi anteriormente, desenvolveu o Spiricom, com um grupo da Metascience Foundation.

ALTERNATIVOX: Como surgiu o termo "Transcomunicação Instrumental" e o que significa?

CLÓVIS NUNES: Nos anos 80, o Dr. Ernest Senkowski, físico, engenheiro e professor alemão, criou a palavra "Transcomunicação", que reúne dois neologismos trans (de transcendente) e comunicação, do verbo comunicar. O termo Transcomunicação Instrumental significa uma comunicação por espíritos, transcendental, apoiada por meios técnicos. Ou, a comunicação com o além sem a necessidade da intermediação humana, envolvendo diretamente o campo magnético de aparelhos eletrônicos. Porque já existia a comunicação mediúnica pesquisada, estudada pelo Espiritismo e por outras áreas de pesquisa que se interessaram por esses fenômenos. Mas, no caso da transcomunicação, não se trata de um neologismo para explicar o mesmo fenômeno, já existente. É uma comunicação envolvendo instrumentação eletrônica. A palavra foi bem construída, seria muito difícil achar um novo vocábulo que definisse bem o fenômeno. Acreditamos que o Dr. Ernest Senkowski foi muito feliz na terminologia.

ALTERNATIVOX: Na sua opinião, por que a maioria das pessoas reluta em aceitar a Transcomunicação Instrumental? Por que é tão grande o ceticismo em relação ao fenômeno?

CLÓVIS NUNES: É porque nós temos, aqui no ocidente, um modelo de ciência que é muito fruto dos nossos sentidos. Existe um muro de ceticismo regido na ciência oficial que se instaurou dentro do modelo mecanicista. E essa ciência, com o seu método cartesiano, a maneira de construir o paradigma do palpável, do concreto, do visível, do que tem que ser visto para ser verdadeiro, é um paradigma que está sendo derrubado aos poucos. Hoje, o estudo que convém à ciência é o estudo do essencial, do invisível, do imponderável, da física quântica viva, onde tudo que nós vemos pode ser a parte mais grosseira de tudo que nós ainda não vemos. Então existe um novo paradigma emergente. Nascendo dentro da própria estrutura da ciência surge, uma nova forma de ver a ciência. Mas isso é muito lento. A ciência acadêmica se fechou muito dentro das estruturas desse paradigma do passado. Para entrar a sobrevivência, a indestrutibilidade do homem após a morte do corpo, para ficar evidente o espírito como elemento da natureza, muita coisa tem que sair. Nós estamos falando aqui da maior descoberta do século XX, que aconteceu alcançando o século XXI. E quase ninguém está se dando conta disso. Na hora em que a ciência considerar o espírito como elemento da natureza, nós sofreremos a maior revolução cultural que já se ouviu falar em toda a história, porque terá que se fazer uma revisão dos currículos acadêmicos em todas as profissões.

Haverá que se fazer uma revisão na Medicina, na Psicologia, na Educação, nas leis do Direito, nas comunicações de uma forma geral, para admitir que o homem é dois: é corpo de massa que se move sob o chão do planeta, mais um psiquismo, uma mente indestrutível que antecipa o nascimento e sobrevive à dissolução cadavérica. Existem suspeições sobre isso na ciência, evidências de que é um fato, mas isso ainda não se tornou uma afirmação concreta, metodológica. Temas como a transcomunicação tende a legitimar esses conceitos. A resistência é muito grande, toda idéia nova sempre sofreu a rejeição e a indiferença dos contemporâneos. Isso levou o pesquisador e físico do passado chamado Isaac Newton a asseverar de uma forma soberba que "mede-se a grandeza da idéia pelo tamanho da resistência que se opõe a ela". No começo a transcomunicação recebeu muitas oposições, muita resistência e ainda não é fácil. Mas eu poderia dizer que esse grande muro do ceticismo materialista que se insurgiu no seio da ciência oficial começou a receber as primeiras rachaduras no seu alicerce. Atrás da transcomunicação não estão religiosos, não é um fenômeno produzido por espíritas, nem é também um movimento dos parapsicólogos. A transcomunicação é um movimento de pesquisadores, de gente que está ligada à informática, à eletrônica, de gente que está por trás das universidades, que está no centro das tecnologias de pesquisa. Portanto, é um fenômeno que vem mudando a forma de ver dentro da própria ciência. É um fenômeno espontâneo, que foi tido como anomalia e depois passou a ser fato.

Hoje, dentro da ciência, eu posso dizer com muita naturalidade, que o além foi descoberto. Hoje, dentro da ciência, já se sabe que o espírito existe, que a morte não nos mata, que a nossa consciência após a morte do corpo conserva a sua personalidade e o seu caráter, a nossa inteligência se preserva, os nossos parentes nos esperam, os cemitérios do mundo inteiro estão vazios. Que a nossa personalidade e o nosso caráter continuam de uma maneira absolutamente real, viva e presente em uma realidade diferenciada do mundo físico, da massa dos nossos corpos. Isso dentro da ciência é um fato. Duvidar hoje do espírito, que nós conservamos a nossa consciência após a morte do corpo, não é mais uma questão de você crer ou não crer nessas coisas, não é mais um assunto de você ser ou não ser espírita. Isso é simplesmente uma questão de você estar bem ou mal informado do que a ciência está dizendo a respeito. Se você está atualizado com a ciência, isso é um fato.

ALTERNATIVOX: Quanto tempo você acredita que irá levar para a TCI ser aceita?

CLÓVIS NUNES: Vai demorar ainda um tempo... Creio que não vai levar 250 anos, como levou Galileu Galilei para provar que o sol não gira em torno da terra, porque as velocidades hoje são outras. Hoje nós evoluímos com mais velocidade, mas creio que daqui a umas quatro décadas a humanidade vai pensar diferente do que pensa hoje em relação ao que nós estamos fazendo aqui: qual a finalidade da nossa existência, quem somos nós e o que existe de fato depois da morte. Então há muita evolução dentro da ciência, nunca se falou tanto em espiritualidade dentro da ciência como agora. Mas esse atraso é natural porque somos frutos de uma cultura milenar de ceticismo. Durante muito tempo estamos condicionados a pensar reduzidamente. Nós temos que nos afastar dos sentidos para perceber certos fenômenos da vida: o nascimento, a vida, a morte e a sobrevivência. E isso é o que está acontecendo com o fenômeno da transcomunicação que evidencia no invisível uma realidade que os nossos olhos não alcançam. Existem maravilhas ocultas nas coisas aparentes. Somente agora, com a maturidade psicológica humana avançada, nós podemos alcançar essas maravilhas ocultas, saindo da dimensão dos sentidos, saindo da dimensão da forma, da dimensão da massa. Penso que o trabalho de aceitação vai ser lento, mas pouco a pouco, vai crescendo o número de pessoas que passam a saber sobre essas informações, não com a visão religiosa, nem de crendice, mas validada dentro da experimentação de verdade científica.

ALTERNATIVOX: Existem provas científicas de que esse fenômeno é real ou não?

CLÓVIS NUNES: Hoje, na ciência, não se fala mais em prova, mas em evidência. Até porque existe um axioma que diz: nem tudo que é verdadeiro pode ser provado, nem tudo que é provado pode ser verdadeiro. A ciência hoje pensa um pouco diferente. No passado, a ciência falava mais em prova. Mas, a prova por si mesmo não convence todo mundo. O que convence é a maturidade psicológica de quem está diante da prova. Porque, se você não tem maturidade psicológica, você pode vê-la escancarada na sua frente e você nega a evidência. Quando Alexander Graham Bell provou que o fio rígido poderia transmitir a voz, todos os seus colegas céticos foram contra e disseram: "Se você estivesse desenvolvendo um aparelho para enviar a voz por um tubo vá lá, mas por um fio rígido, impossível". Ele transmitiu a primeira mensagem a 500 metros de distância, com cinqüenta testemunhas. O amigo que ouviu a mensagem disse assim: "Ouvi tudo, mas não acredito". Então a ciência hoje tem outro axioma: você tem evidências de que existe a sobrevivência e elas constituem os elementos de prova. E isso aí nós temos em quantidades extraordinárias. As imagens dos espíritos não são suposições de videntes. Elas estão filmadas, registradas, aprisionadas em fitas cassetes, guardadas em laboratórios, e têm suas origens e formação estudadas metodologicamente.

Existe uma paranormalidade no mundo eletrônico que não tem explicação plausível a não ser que estamos diante de um fenômeno paranormal que a ciência ainda não domina. E quando ela chega a esse limite de descobrir que não sabe como funciona o fenômeno e se rende à necessidade de desvendar o conhecimento que está por trás dele, isso é fazer ciência. Podemos dizer que já existem muitas evidências inquestionáveis de que existe a vida após a morte e que a dimensão física é apenas uma parte da realidade. A própria ciência já caminha para outras formas de perceber esse mundo de necessidades, onde a forma não existe sem que existia a substância. O elemento da ciência agora é o essencial, e o essencial é invisível aos olhos. Mas o que importa é que há um conjunto imenso de metodologias sendo construído, uma quantidade imensa de pesquisadores se envolvendo nessas experiências. Eu posso dizer a você com muita serenidade e confiança: uma grande parte dos melhores técnicos e cérebros do mundo estão envolvidos nessas experiências. É algo que a gente deve ouvir e estudar, com uma recepção maior, com mais maturidade de reconhecer um fato do que de negar uma hipótese.

ALTERNATIVOX: Como você acha que a mídia brasileira vem tratando esse assunto?

CLÓVIS NUNES: Ainda com muito sensacionalismo, como é natural. Esses assuntos do além sempre foram ligados a idéias de assombrações, porque nós estamos dentro da cultura do amedrontamento. Quando se fala em espírito, você tem dezesseis séculos de religião dominante (Catolicismo) que colocou a idéia no popular de que morreu, virou fantasma. Um pai ou um amigo querido que morreu, virou fantasma que volta e lhe assombra. Então a imprensa trata, com raras exceções, por padrões sensacionalistas. Na minha experiência, eu lhe digo que eu já neguei mais de vinte entrevistas por causa do tom sensacionalista. Até mesmo para a Rede Globo, no começo, nós tivemos que interceptar as entrevistas porque as pessoas iriam dar um tom sensacionalista. Infelizmente, no Brasil não existe ainda uma imprensa investigativa, uma imprensa científica. Está chegando agora, tem pouco mais de dez anos o jornalismo científico. O jornalista, de uma forma geral, não sabe entrevistar cientista. Nem sabe falar sobre ciência. E os jornais precisam vender, precisam faturar.

Nos Estados Unidos, quando a Vicking 2 foi à Marte, a sala da NASA estava repleta de jornalistas de mais de 80 nações querendo ver as imagens do planeta e saber se havia marcianos. E aí vieram, imagine você, mais de oitenta mil fotografias transmitidas por satélite, selecionadas e editadas, que mostraram que Marte não tem marcianos. O planeta é enferrujado, tem uma atmosfera densa, o nível de oxigênio muito baixo, o céu é rosa-amarelado, não tem água potável, não tem clorofila, não tem verde. A vida em Marte seria impossível até porque registraram tempestades globais com ventos tão poderosos que levantavam pedras de 300 quilos a até 6, 8 metros de altura e o planeta ficou disforme com a poeira global. Os jornalistas receberam as informações e as notas nos jornais foram bem pequenas. Por quê? Porque não vende jornal. Mas, se tivesse um marciano meio amarelo com os olhos esbugalhados, eles dariam duas ou três páginas. Tanta informação incrível, a primeira vez que o homem fez o estudo do solo de um outro planeta que não a terra e eles ocultaram da população porque não tinha valor comercial. Essa dificuldade do jornalismo científico é muito grave.

Estando no reduto da ciência na Europa, os pesquisadores sempre me dizem que o cientista começa a perder a credibilidade quando ele aparece muito em capas de revistas populares. Há todo um caminho de precaução com a imprensa. Eu lembro que em quase todas as entrevistas que eu dei, cerca de 70% delas, existem distorções fantásticas. Mesmo gravando, na hora em que o jornalista vai para a redação, ele muda a estrutura da idéia. Com o jornalismo científico isso tem mudado muito nos Estados Unidos, na Europa muitos profissionais estão se profissionalizando nessa área, o que é uma coisa fantástica. E no Brasil, me parece que já tem essa especialização. Na Unicamp, em São Paulo, ela já existe, e é uma coisa que tem que se tornar mais comum no nosso país. Porque hoje, com a globalização, a necessidade de saber ciência é importante para quem vai tratar do assunto na mídia. No Brasil, ao meu ver, essa cultura de jornalismo científico está chegando agora. A interpretação é muito sensacionalista mas, pouco a pouco, a gente vem colocando isso de uma maneira melhor, dentro das possibilidades. Alguns programas têm dado o enfoque correto ao assunto, mas ainda está muito longe do que merece.

ALTERNATIVOX: O que você achou da edição feita pelo Fantástico do seu debate com o Padre Quevedo exibido no quadro O Caçador de Enigmas? O que aconteceu e não foi ao ar?

CLÓVIS NUNES: O debate com o Padre Quevedo tem toda uma história oculta que o público não sabe. Quando eles me convidaram, aquele quadro não tinha ido pensado. Eles pensaram em fazer uma discussão na Rede Globo, no programa Fantástico, tratando a paranormalidade em alto estilo, falando do espírito, e me convidaram para falar sobre transcomunicação. Essa foi a proposta inicial. Eu fui a convite dos organizadores do programa e eles me perguntaram se eu tinha alguma dificuldade em debater com o Padre Quevedo sobre o assunto. Então, o pano de fundo da reportagem seria a transcomunicação com a participação do Padre Quevedo. Esse era o perfil psicológico da idéia. Gravamos em estúdio e combinamos que nada poderia ir ao ar que não tivesse sido gravado ali, não teria edições externas, nenhum dos dois poderia gravar depois. O Padre Quevedo tem uma formação católica, eu sou pesquisador com uma formação espírita, mas nós ali não seríamos religiosos. Nem ele falaria do ponto de vista católico, nem eu do ponto de vista espírita. Ambos somos parapsicólogos. Ele faz parte da Escola de Parapsicologia Européia, que é uma escola de idosos, já em decadência, que tem um ponto de vista muito radical com os fenômenos psíquicos. Eles acham que todos os fenômenos paranormais são frutos da mente; se não são frutos da mente, é truque; se não for truque, é um produto da mente.

Parte deles acredita também que paranormalidade é sinônimo de transtorno mental, que é uma doença. As outras duas escolas de parapsicologia que são a Escola Russa e a Americana não aceitam isso. Eu transito muito bem nas três escolas, não tenho nenhuma posição radical, mas tenho uma vivência maior com a Escola de Parapsicologia Americana. Eles acreditam que existem dois grandes grupos de fenômenos: os psíquicos, que são produzidos pelo próprio paranormal, que são frutos de sua mente (o paranormal seria o agente do fenômeno, ele próprio seria a fonte geradora desse canal); e os fenômenos mediúnicos ou espirituais cujo agente é uma consciência sem corpo e o paranormal, nesse caso, é o médium, um intermediário (ele não é o agente do fenômeno, mas um instrumento por onde ele acontece). E eu iria opinar como parapsicólogo, assim como o Padre Quevedo. Na hora do debate, que levou uma hora e dez minutos em estúdio, ele não sabia do assunto transcomunicação, ele estava completamente por fora e ele também não tem muito acesso aos fenômenos mediúnicos. Como padre, reconhecidamente na mídia ele tem 40 anos dizendo que isso não existe, as pessoas que convivem com esses fenômenos não o convidam. E ele, também por preconceito, não vai ver. O acesso que ele tem é ao fenômeno psíquico.

No imaginário dele todos os fenômenos acontecem psiquicamente e ele não se permite estudar e conviver com outros paranormais que produzem fenômenos além do psiquismo, ele não tem contato com muitos médiuns. E como nesse meio tem muitos charlatões, ele teve a possibilidade de desmascará-los e acha que o que não é da mente é um charlatão que faz. É uma posição um tanto radical. Voltando ao debate: eu tinha ido gravar um seminário no Rio de Janeiro e a Rede Globo estava presente. Eu estava ensinando as técnicas de contato e lá, ao vivo, nós colocamos quatro rádios e sugerimos o contato direto com o espiritual. A Rede Globo tinha levado um gravador, mas a platéia colocou mais três gravadores, totalizando quatro. Se tivesse acontecido um fenômeno físico, os quatro gravadores teriam captado a mesma coisa no mesmo ponto da fita (qualquer voz humana ou fenômeno que saísse eletronicamente produzido pelo rádio, seria gravado simultaneamente). Nós deixamos os rádios entre as estações produzindo um ruído branco, que é um chiado peculiar que faz parte da técnica, depois baixamos o volume do rádio, rebobinamos a fita e vamos escutar o que foi gravado. As vozes dos espíritos se entremeiam naqueles ruídos e aparecem com clareza as mensagens deles.

No primeiro gravador, a 1min30 dizia: "O rádio está esperando". No segundo gravador, a 2 min dizia: "O rádio está pronto". No terceiro gravador, aos 3min20 dizia: "Vai ficar bom". E no quarto, quando nós escutamos, tinha uma frase que dizia: "Ramatis presente". Cada gravador captou uma frase diferente, num ponto diferente da fita, e ninguém tinha escutado essas quatro vozes. Se a Rede Globo quisesse fazer um trabalho de pesquisa sério com a transcomunicação, teria um quadro maravilhoso, teria mandado averiguar essas fitas. A maneira como essas vozes são gravadas é bem estranha: elas não são registradas de fora para dentro da fita pelo microfone, são produzidas dentro do campo magnético da fita. Há como se averiguar se é uma voz normal ou se ela chegou de maneira paranormal ao campo magnético da fita mas, como o fenômeno foi muito simples, muito evidente, eles acharam que não precisavam investigá-lo. E, depois que eu fui embora para casa, dois meses depois, na hora de produzir o programa, alguém teve a idéia de colocar o Padre Quevedo com um quadro chamado O Caçador de Enigmas. Num país dominantemente católico, o Brasil é o maior país católico do mundo, um padre que deveria dizer que existe vida após a morte (que é isso que prega as religiões), estaria negando a vida após a morte. E isso poderia colocar muita gente em frente da cadeira e dar "Ibope".

O motivo pelo qual a Rede Globo se envolve nesses assuntos não é porque ela está interessada em provar nada. O que ela quer é audiência, uma quantidade x de telespectadores sentada na poltrona. E se outro padre tivesse aquele quadro, poderia dar uma melhor audiência. Mas a Rede Globo pensou mal, porque além dele ser radical, ele não fala Português e é desatualizado. E o Brasil é um país espiritualista, onde a maioria dos católicos não tem uma visão cética, crê na vida após a morte. Quando aparece um padre dizendo que isso não existe, ele traz uma mensagem de pessimismo negando a esperança que todo cristão tem, que é uma vida futura. Mas o Padre Quevedo não convencia, não dizia coisa com coisa, não conseguia negar o fenômeno, porém não acreditava que fosse verdadeiro. Eu apresentei as imagens todas, e já estava na minha cidade quando vi a chamada do quadro. O Padre Quevedo ficou com o quadro e a transcomunicação ficou como coadjuvante.

ALTERNATIVOX: Qual foi a sua posição em relação a essa mudança de ângulo na edição da matéria e como foi a sua repercussão?

CLÓVIS NUNES: Eu liguei para a direção e quis tirar o quadro do ar, tirar a minha participação. Mas entramos num acordo. Eles queriam que o Padre Quevedo gravasse por fora, porque ele estava estressado no debate. Eu não permiti que o Padre Quevedo gravasse por fora. Na verdade ele não estava estressado, ele estava inseguro, inconsistente, não dominava o assunto e visivelmente sem argumentos. E, para não ficar feio, ele tinha que gravar por fora. Depois de muita insistência, entramos num acordo. Eu propus que eles me dessem a fita de tudo o que tinha acontecido dentro do estúdio, e permiti que Padre Quevedo gravasse por fora, desde que fosse acordado o que ele iria dizer. Eles me falaram "Não... ele vai dizer a mesma coisa que ele disse, só que com mais calma". Foram mais quatro dias de telefonemas, trocamos fax, e eles me garantiram a fita com 60 dias após o fax. E aí o quadro foi ao ar. Eu fiquei com 2min30, ele com 2min e o Cid Moreira com 2min30. A reportagem saiu com oito minutos, foi a primeira vez que as imagens foram mostradas ao vivo na televisão, 92 milhões de telespectadores assistiram naquele dia, a palavra "transcomunicação" se tornou pública para o brasileiro, os meus livros tiveram uma vendagem estupidamente grande naquele ano, e até hoje começou a sair com mais velocidade.

Eu fiz 36 entrevistas após o Fantástico, a reportagem ficou na internet, nove países assistiram através da Globo Internacional. Concedi entrevistas para a TV da Espanha, para a do Chile, para TVs a cabo e muitos jornais. Depois a revista Isto É colocou quatro páginas sobre transcomunicação (inclusive foi destaque na capa) e o SBT Repórter fez um documentário inteiro sobre esse tema. E, mais tarde, o Globo Repórter evidenciou também o assunto. Então a transcomunicação se tornou algo mais conhecido no Brasil, o que foi útil. O Padre Quevedo colocou a paranormalidade em evidência, e logo depois do meu debate, caiu o "Ibope" dele. Ele começou a perder pontos, chegou a quase zero, tanto que já tinha quatro quadros gravados e a Globo o tirou do ar porque chegaram milhares de e-mails pedindo que ele saísse. Ele já não dava mais audiência e o quadro não emplacou. Para mim o resultado foi muito positivo, até porque as pessoas puderam ter outra visão. A fita bruta chegou e eu já comercializei mais de três mil cópias. Milhares de pessoas já assistiram em suas casas e em grupos de estudos...

ALTERNATIVOX: Sobre o Arquivos do Insólito, quadro que você foi convidado a apresentar no Fantástico, o que você pode nos falar? Como surgiu o convite?

CLÓVIS NUNES: Eu fiz a reportagem de capa do último domingo de outubro do ano passado, que foi o Museu das Almas do Purgatório. É um museu católico, que estaria ocupado pela igreja por mais de cem anos, e que guarda peças de comunicação de padres e freiras com espíritos dentro da Igreja Católica. E aí aconteceu uma outra coincidência incrível. Eu estava ajudando no Globo Repórter, onde eu dou consultoria desde 1994, e encontrei o diretor do Fantástico (Luis Petri) no corredor. Ele comentou que no debate com o Padre Quevedo, eu fiz referência a esse museu e ele mandou uma correspondente internacional na igreja e os padres negaram a existência dele. Eu disse para ele que já tinha estado no museu de passagem em 1996 e que o museu existia. Começamos a conversar e fomos para a sala dele. Aí ele disse: "Clóvis, você poderia fazer essa reportagem em Roma, viajar com a gente, entrar nesse museu? Você garante isso?". Eu disse: "Garanto. Eu já estive no museu". A conversa começou a render, tomou a dimensão de que hotel, quando poderia ser, de qual jornalista iria comigo (era a jornalista que já estava lá Ilze Scamparine). Aí eu perguntei: "Mas você está pensando em colocar essa reportagem aonde?". E o Petri, que já tinha um quadro na época falou: "Ah, eu estou com um quadro que se chama Isso é um Espanto. Nós poderíamos fazer uma adaptação...".

Eu falei que era melhor não porque o nome era sensacionalista demais e era um assunto que envolvia a igreja, envolvia fenômenos velhos e que, além de não ficar bom, eu teria que ter cuidado com isso porque eu estou escrevendo um livro sobre esse assunto. Ele perguntou: "Ah, você está escrevendo um livro sobre isso?" Eu falei: "Para falar verdade o livro fala sobre vários fatos e o museu é o primeiro capítulo". E ele me perguntou: "Como é o nome do livro?". Eu disse: "Arquivos do Insólito". Ele parou e disse: "Espera aí... qual é o título?". E eu repeti: "Arquivos do Insólito". Aí ele cruzou os braços, botou a caneta na mesa e disse assim: "Aonde você achou esse título?". Eu falei: "Olhe, eu tenho isso na minha cabeça há cinco anos. Na verdade eu pensei em Arquivos do Invisível. Mas depois eu achei a palavra Insólito mais pertinente e que esse era o título". E aí ele parou, ficou me olhando, foi lá dentro, e voltou com uma cartolina azul, envelhecida, com umas letras douradas em cima, como se fosse a tampa de uma pedra e botou em cima da mesa com o nome Arquivos do Insólito: era o nome do próximo quadro da Rede Globo. Aí foi a minha vez de perguntar: "Aonde você achou esse nome?". E ele disse: "Nós também temos esse nome há algum tempo".

Nós ficamos nos entreolhando e, nesse momento entrou o Pedro Bial (que eu já me conhecia de algumas reportagens) e perguntou: "Luis, como é que vão os fenômenos?". E Petri falou: "Acabou de acontecer um aqui. O nosso quadro Arquivos do Insólito tem o mesmo nome do livro que ele está escrevendo". E aí, com aquela feliz coincidência, ele fez uma proposta que a gente fizesse o quadro e que eu fosse o âncora, a pessoa que iria abrir os arquivos. E fomos para Roma com o intuito de fazer o primeiro com o Museu das Almas. Quando eu cheguei lá, a reportagem era muito inédita, era um furo de reportagem jornalística maravilhoso, mas a Rede Globo não conseguiu entrar, quem entrou fui eu. O cinegrafista quem conseguiu foi um amigo brasileiro, também cineasta, que mora na Escócia e tinha trabalhado lá há muito tempo. Eu fiz amizade com os italianos e eu fechei contrato com o cineasta que ele indicou. A Rede Globo não conseguiu entrar, as imagens são minhas. Eu apenas cedi para o Fantástico. Fizemos um contrato e a Globo não pode exibir essas imagens em nenhum outro programa sem a nossa autorização, a não ser naquele quadro. Foi uma reportagem bonita. E eu estou fazendo um documentário de 75 minutos com esse título, Arquivos do Insólito, dando uma linguagem diferente da que o Fantástico deu e contando toda a história do museu que estava por trás desses fenômenos.

Aí eles colocaram um quadro agora, que é o Desafio Paranormal, onde um empresário americano oferece um milhão de dólares para quem provar que existe um fenômeno paranormal, para aquecer o nosso quadro. Após esse quadro, entram os Arquivos do Insólito. Mas a Rede Globo é muito imprevisível com datas. Sempre o que está funcionando eles estão deixando acontecer. O nosso quadro já está garantido, aprovado, inclusive o orçamento, mas o Desafio Paranormal serve para garantir a audiência e o sucesso do programa, que é o mais disputado do Brasil. Estamos ainda na fase de construção do quadro, do roteiro, já temos os passos a seguir, os seis primeiros quadros já foram pensados, os contatos e lugares de filmagem já estão estabelecidos, ou seja, já existe todo um projeto. E o meu livro vai sair para todo país paralelo à mídia brasileira. Vai ser um momento bonito para a parapsicologia.

ALTERNATIVOX: Existe alguma previsão para o lançamento do seu documentário?

CLÓVIS NUNES: Já deveria estar pronto. Uma parte foi feita na Rede Globo e a formatação externa nós estamos fazendo em estúdio. Nós fizemos uma permuta, uma negociação, por causa da reportagem. O que fez a reportagem sair foi que o SBT queria botar no ar. Esse museu iria ser dividido em três partes para o Arquivos do Insólito mas, como o SBT se interessou em colocar a reportagem antes, a Rede Globo, para não deixar uma concorrente colocar um furo na qual ela estava envolvida, antecipou e fez a reportagem de capa precedendo o Dia dos Mortos. Todo mundo estaria reunido nas igrejas em comemoração a esse dia e apareceria uma semana antes o Museu das Almas do Purgatório, falando da comunicação com os mortos por padres e freiras dentro da própria Igreja. E foi um impacto muito forte. O documentário vai sair agora. Creio que até o final de julho, no máximo, o vídeo está pronto. Falta pouca coisa. E o título? Arquivos do Insólito.

Bom, a nossa entrevista fica por aqui. Agora cabe a você tirar suas conclusões mas, para isso, você deve procurar se informar mais, pesquisar mesmo sobre o assunto. Aí sim você poderá decidir se acredita ou não no fenômeno da Transcomunicação Instrumental. Ainda nessa edição, nós trazemos dicas de alguns livros que tratam o tema.

 

JUNHO/2011

 

Autor de várias obras de grande sucesso, colaborando assiduamente na imprensa espírita. Apresentamos RICHARD SIMONETTI em entrevista ao GAZETA ESPÍRITA.

GAZETA ESPÍRITA – O que nunca lhe perguntaram numa entrevista e você gostaria que lhe fosse perguntado ?

RICHARD SIMONETTI – Não me ocorreu ... (risos). Eu nunca pensei nisso. Fica meio complicado responder, porque realmente eu não me lembro de alguma coisa que eu gostaria que me perguntassem e que não tenham perguntado. São tantas coisas e normalmente tudo gira em torno do trabalho, da doutrina espírita, das minhas experiências. Eu não posso dizer para você que tenha alguma coisa que não me perguntaram que eu gostaria.

G.E. – Você acha que tudo que existe já lhe perguntaram ?

R.S. – Não. Tudo não, mas coisas que envolvem o meu trabalho, a doutrina espírita, sobre temas de meus livros, são as perguntas mais freqüentes. Não tem nada assim que eu possa dizer: - gostaria que me perguntassem tal coisa, mas tudo bem.

G.E. – Qual a sua visão da Arte no Espiritismo ?

R.S. – A arte é importante em qualquer setor de atividade humana, principalmente no Espiritismo. É uma forma de elevar as pessoas, de divulgar a doutrina, de sensibilizar as pessoas em relação a um aspecto importante da nossa vida, que é o cultivo do belo. O cultivo do sublime, de algo espiritualizado que é a arte no seu sentido mais puro. Sou francamente favorável a que o Movimento Espírita desenvolva iniciativas envolvendo a arte, a música, o teatro, o cinema, a televisão, enfim todas as formas de manifestação artística, eu acho que devem ser bem vistas, bem recebidas no Movimento Espírita.

G.E. – Qual a virtude indispensável que todo espírita deve ter ?

R.S. – Eu acho que o fundamental como espírita é termos coerência doutrinária. Coerência em relação aos princípios da doutrina. Se eu sou espírita, o mínimo que eu posso fazer é buscar vivenciar os princípios espíritas, no campo social, no moral e em relação a minha vida de um modo geral. Essa coerência é fundamental. Aliás o que caracteriza o desvio do religioso é exatamente o fato dele se despreocupar do sentido de vivenciar os princípios que diz esposar. Então a coerência é fundamental.

G.E. – Depois do “Ovo de Colombo” que fez espalhar livros por todo esse Brasil, com a criação dos Clubes do Livro Espírita, surgiu alguma outra idéia na área de divulgação ?

R.S. – Não. Eu tenho me empenhado muito na divulgação em relação a livros, como escritor. Na imprensa espírita, como colaborador de vários órgãos. Tenho participado de programas de televisão. Eu acho que a mídia deve ser usada, tanto quanto possível e o que eu sinto necessidade do Movimento Espírita, na atualidade; não estou assumindo o movimento, mas simplesmente tenho procurado destacar; a importância de conquistarmos a televisão. O Movimento Espírita, como um todo, ter um programa de âmbito nacional. Programa bem preparado, bem feito e com o tempo, quem sabe até conseguirmos um canal de televisão. Entendo que isso é fundamental para a divulgação da doutrina espírita. Nós vemos que outros segmentos religiosos, como o catolicismo, o protestantismo, as igrejas evangélicas, hoje têm esse segmento já bem desenvolvido. Nós espíritas estamos um pouco atrasados em relação a isso. Não tem havido da parte dos órgãos de direção do Movimento Espírita, tanto a nível Municipal, Estadual e Federal, essa preocupação. Vamos arregaçar as mangas e vamos fazer alguma coisa. No dia em que nós nos decidimos a fazer, a gente vai conseguir, há possibilidade, o que está faltando é a vontade !

G.E. – O Alamar Regis de Salvador já tem um programa semanal, o “Espiritismo via Satélite” que é levado ao ar todos os domingos, será um embrião dessa idéia ?

R.S. – É um começo. Entendo que o Alamar é um idealista, alguém que está fazendo um trabalho muito interessante, que começou e acho que na esteira do trabalho do Alamar haveria necessidade de que os órgãos de unificação do Movimento Espírita se interessassem pelo assunto. O Alamar está trabalhando quase que sozinho, pouca colaboração e ele luta com dificuldades. Entendo que um movimento assim de projeção Nacional, no sentido de envolver a mídia deveria estar vinculado, principalmente, aos órgãos de unificação do movimento, teriam mais força para isso.

G.E. – Sua mensagem aos espíritas cearenses.

R.S. – Estou voltando ao Ceará, depois de aproximadamente dez anos, vejo com satisfação que o Movimento Espírita está se desenvolvendo, está organizado. Acontece no Ceará o que está acontecendo no Brasil de um modo geral. Os espíritas vão se conscientizando da necessidade de divulgação da Doutrina num primeiro momento e de aplicação prática dos princípios doutrinários. Vejo que o trabalho no campo social vai se disseminando no meio espírita, o que é muito importante, até porque a Doutrina nos conduz a esse tipo de trabalho. Ela prega a construção de um mundo melhor, mas a partir do nosso esforço no campo do bem, do nosso empenho em participar de uma forma efetiva da comunidade em que vivemos. Isso é ser espírita de fato. É arregaçar as mangas e fazer alguma coisa. E eu vejo com satisfação os companheiros aqui do Francisco de Assis, em Fortaleza, desenvolvendo um trabalho dessa natureza, o pessoal interessado em participar, de divulgar a doutrina. Enfim de sair fora do âmbito fechado, restrito, daquele espiritismo familiar, em que pequenos grupos desenvolvem um trabalho quase que a portas fechadas, sem permitir assim uma ampliação do trabalho, um desenvolvimento. Percebe-se que vai acontecendo no Brasil todo, isso é muito importante! A doutrina tem que ir por ai mesmo, é o processo de conscientização do espírita e o seu empenho de participação.

 

MAIO/2011

Neste mês, em homenagem às mães, trazemos uma entrevista exclusiva com Zíbia Gasparetto. A confiança na vida eterna, na reencarnação são o leme para uma vida mais plena. Queremos saber mais sobre a espiritualidade e, com isso, viver melhor a vida.

Quando a gente pensa em romance espírita, lembra da Zíbia Gasparetto. Desde 1994, a escritora e médium se tornou uma das presenças mais marcantes na lista dos livros mais vendidos. São mais de 9 milhões de exemplares vendidos. São livros cuja trama nos prende do começo ao fim. Vivemos emoções novas e gratas lições de amor, coragem e superação. A leitura dos seus livros é muito gratificante.

Através dos seus livros aprendemos a modificar nossas vidas para melhor. Aprendemos também que a morte não existe! É apenas uma separação momentânea! Quantas pessoas não encontraram consolo e esperança através das obras psicografadas de Zíbia Gasparetto!

Freqüentemente, ouço os seguintes comentários em meu consultório: "Não me interessava por essas coisas de espírito até que perdi alguém da família... Um dia me presentearam com um livro da Zíbia Gasparetto... Agora comecei a aprender sobre espiritualidade e que a morte não é o fim”.

Uma grande amiga comentou sobre o romance "Esmeralda", de Zíbia Gasparetto. Ao sair do trabalho, minha amiga ia direto para casa para continuar a leitura. A trama do romance é tão instigante que a pessoa não sossega enquanto não chega ao final. Afirmou minha amiga:

"Quando você lê o livro é como se entrasse dentro de um filme. Vê as cenas, se deslumbra com cada personagem e acaba se identificando com a história. Lendo os livros da Zíbia compreendemos a natureza do sofrimento humano, a espiritualidade,numa linguagem acessível e objetiva.”

Meu contato com a escritora e médium Zíbia Gasparetto foi através do telefone. Eu me senti envolvida por uma forte expectativa ao cumprimentá-la. E, através de suas palavras meigas e tranqüilas, reconheci uma senhora extremamente simpática, inteligente e de uma vivacidade incrível. Através dessa entrevista aprendemos que o conhecimento sobre a espiritualidade é o consolo para os sofrimentos e perdas inevitáveis da vida.

A seguir, uma condensação do diálogo estabelecido:

Quando exatamente começou o seu dom de psicografia?

Contou-me que seu primeiro livro foi escrito aos 22 anos. E foi escrito à mão. O romance "O amor venceu" tinha 400 páginas e demorou mais de cinco anos para terminá-lo. Pelas suas palavras: "Naquela época, dava muito trabalho escrever porque tinha que datilografar tudo depois. E, também havia a casa e os filhos para cuidar".

Como foi seu primeiro contato com o espírito de Lúcius, um dos seus mentores espirituais?

Zíbia não gosta muito de fazer perguntas para os espíritos. De início, ela não sabia de quem eram as mensagens. Só ao final do livro é que ela conheceu Lúcius, seu mentor espiritual. Ela o viu espiritualmente.Contou que ele tinha uma aparência jovem. No livro "O fio do destino", Lúcius conta sobre duas encarnações: uma, como juiz na França e outra como parlamentar inglês. 

Como é o seu processo de psicografia atualmente? A senhora acha que o computador facilita a conexão com os mentores espirituais?

Atualmente, Zíbia afirma que digita suas obras direto no computador, pois que, sendo ótima datilógrafa, tecla "rapidinho". Tem hora para começar, mas não para terminar. Ela acha que o computador não facilita a conexão com os espíritos, pelo contrário. E quando seu computador "trava" ou dá problemas acredita que possa ser por conta das interferências espirituais. Zíbia procura não ver muitas notícias ruins pela televisão para não se deixar influenciar. 

Ao ler Esmeralda, a trama da história me envolveu de tal forma que não sosseguei enquanto não terminei o livro. Perguntei a Zíbia como é esse processo de inspiração e escrita através do mentor Lúcius:

Zíbia escreve através de um transe consciente. O espírito dita o romance através de uma "voz mental" (assim ela justifica). E que só fica conhecendo o desenrolar da história, à medida que vai escrevendo. Ela fica cada vez mais curiosa em saber o que vai acontecer, o que tem provocado, às vezes, "situações complicadas". Por conta disso, já levou um "pito" do Lúcius, porque ele não quer que ela fique pensando muito na história para não interferir no roteiro. 

Durante o trabalho de sua escrita em transe consciente Zíbia conta que vê cenas importantes e que até ““sente” o cheiro do lugar. Presenciou o misterioso mundo cigano. O espírito de Lúcius garante que os romances são baseados em histórias reais. Os nomes são mudados e que na atualidade, a linguagem também é mais moderna para melhor compreensão do leitor.

Quanto tempo demora a escrever um livro?

A escritora comenta que já chegou a escrever 4 livros ao mesmo tempo: um em cada dia! Atualmente, escreve um livro por ano. 

Está escrevendo outro livro? Pode-nos adiantar o tema abordado?

Zíbia comenta sobre o livro "Conversando Contigo" de sua autoria. Não é um livro mediúnico. Resultado do tempo em que escrevia para a revista Contigo. Durante 3 anos, ela respondeu às cartas dos leitores aconselhando e dando orientações. Daí surgiu o livro.

Mais adiante na entrevista, Zíbia Gasparetto informou que vai lançar outro livro contando sobre sua experiência de aconselhamento para os ouvintes da Rádio Mundial. Pedia que os ouvintes contassem suas histórias e ela os presenteava com um livro. As pessoas permitiram a publicação. Nesse livro, além das histórias reais que serão abordadas, Zíbia também explica os fenômenos através de uma abordagem mais científica. 

O livro se chamará: "Eles continuam entre nós.”

Como vê atualmente o aumento do índice de violência no Brasil, as tragédias e crimes entre as famílias?

Ela vê isso com muita tristeza. Disse que o planeta está mudando. Brasil vai evoluir um pouco mais, mas as pessoas têm que melhorar o seu comportamento. Muitos espíritos não vão mais voltar a reencarnar no Brasil, por conta das suas atitudes violentas. Eles estão perdendo a chance de retorno à Terra. Lamenta que as notícias tristes estão sendo muito comentadas na mídia e isso faz muito mal, porque nem sempre podemos ajudar. 

Um sonho realizado

Seu sonho foi sempre ter uma gráfica para publicar seus livros e divulgar também livros de outros autores, porque, atualmente, ela afirma: "ainda existe muito preconceito com livros espíritas". As pessoas não têm como publicar suas obras porque não é toda editora que aceita editar esses livros. Ela editava seus livros numa gráfica, mas ela fechou. Um gerente de uma gráfica lhe propôs arrendar sua oficina. Zíbia alugou a gráfica. 

Uma colocação muito significativa de Zibia é afirmar que sempre espera os sinais da vida para realizar seus sonhos. E, que sempre "espera para ver se a vida faz isso.

"Quando vem o sinal, é a vida que conversa com a gente.”- afirma com sabedoria.

Isso me lembrou aquela frase conhecida e sábia: "Quando é para ser o Universo conspira a favor”.

Zíbia comentou sobre o seu casamento e a morte súbita do esposo. Disse que esta passagem muito a entristeceu e que se isolou dos amigos. Mas, agora, entende o motivo da perda do amado. Talvez se ele não se desencarnasse ela não poderia se dedicar à editora e à gráfica como tem se dedicado. Sente muito a falta do marido, mas ele está sempre se comunicando através da mediunidade do seu filho Irineu Gasparetto.

Contou que a Gráfica da Editora Vida e Consciência tem um serviço muito bom. As máquinas são importadas. E que, agora, ela oferece a oportunidade para outros autores publicarem suas obras. Sua neta,Vanessa Gasparetto, a ajuda muito lendo e analisando os originais.Luiz Antonio Gasparetto e Silvana Gasparetto, filhos de Zíbia, também participam ativamente do trabalho junto à editora. 

Comentei sobre Luiz Gasparetto, Irineu, filhos médiuns, família de médiuns:

Zíbia relatou que obteve do saudoso médium Chico Xavier a confirmação de que sua família fez um trato na espiritualidade antes de nascer. Havia uma tarefa programada 30 anos antes de reencarnarem na Terra. 
Os mentores espirituais queriam muito que a Editora saísse. Os espíritos prediziam: "Você vai abrir uma Editora". 

"Eu ficava com muito medo mais fazia" afirmou Zíbia convicta. "Minha fé é muito positiva"- afirma. 
Relatou que, na família, todos se combinam muito.

Comentamos a falta que Luiz Gasparetto está fazendo na televisão. Muitas comunidades no orkut foram feitas para ele e comentam seus ensinamentos. Querem a volta dele na televisão.

Ela falou com muita alegria que Gasparetto está preparando uma ótima notícia para os internautas. Preparando um estúdio na web onde fará seu próprio programa. Gostava muito de ajudar as pessoas através da televisão. Ele está viajando em férias e volta dentro de alguns dias. 

Perguntamos a Zíbia Gasparetto o que ela faz para relaxar durante as tensões do dia a dia:

Quando sente que a energia está pesada no ambiente, Zíbia prepara um copo com água e sal grosso. O sal vai absorvendo a energia negativa do ambiente. E assim melhora bastante as energias do ambiente. 

Como ela mesmo se expressa: "gosto de entrar dentro de mim mesma" e sente "o espírito ligado com Deus". Descreveu que sente uma sensação muito boa. Como sentisse "uma luz dentro do peito".

Uma paisagem inesquecível.

Foi no astral.- ela disse.- Vi um lugar maravilhoso que nunca mais esqueci e, que, não deve ser muito distante da crosta terrestre".

Foi durante um transe consciente que foi para esse lugar em outra dimensão.

Um estilo de música

Zíbia adora o ritmo de samba, bolero, enfim todos os ritmos.

Cor preferida

Gosta de cores alegres como rosa e vermelho. Roupas coloridas.

A virtude que mais aprecia nas pessoas:

Lucidez

Pedimos para Zíbia passar uma mensagem para os internautas que navegam no site Relax Mental.

Ensina que as pessoas devem pesquisar mais sobre a espiritualidade através de livros científicos que a comprovam. Com a perda de entes queridos as pessoas passam por um grande desafio onde "somente a fé interior " muito pode confortar. Sua visão é "Saber que a perda não é para sempre". 

“Quando você procura a vida dá."- disse. 

A vida coloca nas suas mãos o que você mais precisa (expressões sábias da escritora)

A conversa com Zíbia Gasparetto foi para Relax Mental uma lição de vida, esperança e otimismo. 

Os Gasparetto: uma família batalhadora que espera o melhor da vida, mas também luta para conquistar seus objetivos. Uma família de médiuns, cada qual com seu dom específico nos ajudando a trilhar o caminho da evolução.

Zíbia se expressou com grande sabedoria. Depois da entrevista, fiquei algum tempo com as expressões sábias da escritora em minha mente.

Senti uma deliciosa sensação de RELAX MENTAL!



Entrevista realizada no dia 15 de julho de 2008


ABRIL/2011


Clóvis Sousa Nunes é professor, projetista técnico, parapsicólogo, pesquisador de fenômenos paranormais, escritor e conferencista espírita, especialista em Transcomunicação Instrumental. Membro da Sociedade Suíça de Parapsicologia em Zurique; Membro da Metascience Foundation Inc. em Miami, EUA; Membro-representante, no Brasil, do CELT - Círculo de Transcomunicação em Luxemburgo - Europa. Autor de conferências proferidas na maioria dos estados brasileiros e no exterior, como: Inglaterra, França, Espanha, Alemanha, Índia, Japão, Estados Unidos, dentre outros. Consultor de programas sobre assuntos paranormais da Rede Globo de Televisão, tendo sido entrevistado mais de 50 vezes em diversos programas de TV como Fantástico, Globo Repórter, Sem Censura, Jô Soares, Silvia Popovic, Márcia Peltier. Concedeu também mais de 400 entrevistas sobre paranormalidade em jornais, revistas e rádios do Brasil e exterior.

 

 "Duvidar Hoje do Espírito Não é Mais Uma Questão de Crer ou Não Crer"
 

Estabelecer comunicação com aqueles que já passaram desta para uma melhor... É isso o que proporciona a Transcomunicação Instrumental (TCI), também conhecida como fenômeno das vozes eletrônicas. Fenômeno esse que vem despertando polêmica tanto no meio científico como no meio religioso. Há quem acredite que essa comunicação não passa de farsa, ilusionismo ou produto da mente de quem vê, lê ou ouve. Mas também há os que afirmam manter contato com o além e, ainda, aqueles que se dedicam a estudar o fenômeno seriamente, destacando o seu aspecto científico, e se propõem a divulgá-lo.

 

Em visita a João Pessoa, o parapsicólogo e pesquisador baiano Clóvis Souza Nunes, especialista no assunto, nos concedeu uma entrevista e procurou esclarecer algumas dúvidas sobre a TCI. Além de contar como conseguiu trazer para o Brasil as primeiras imagens paranormais, explicar o fenômeno e como ele se dá, Clóvis Nunes nos fala a respeito de como a mídia brasileira lida com as questões do além, da edição do seu debate com o Padre Quevedo e seus projetos futuros. Tentamos editar minimamente a entrevista para que você não perca nenhum detalhe. Nossa conversa foi longa, mas vale a pena ser lida...

 

ALTERNATIVOX: Como surgiu o seu interesse em pesquisar a Transcomunicação Instrumental?

CLÓVIS NUNES: O meu interesse pela Transcomunicação Instrumental surgiu através da parapsicologia e da psicobiofísica. Eu ouvi falar pela primeira vez nos fenômenos das vozes eletrônicas, ou EVP (Eletronic Voice Phenomenon), no final dos anos 70 e começo dos 80, através do Henrique Rodrigues, um amigo parapsicólogo que hoje vive em Belo Horizonte e tem mais de 80 anos de idade. Ele percorreu vários países e teve contato com os pioneiros da transcomunicação no mundo. E tive acesso ao primeiro livro de transcomunicação estrangeiro publicado em Português chamado Telefone para o Além, Editora Época, de Friedrich Jürgenson, primeiro homem a gravar vozes humanas entremeando cantos de pássaros. Nesse livro ele relata a história do seu primeiro contato com o fenômeno das vozes eletrônicas. E também tive acesso ao primeiro livro sobre o assunto na Europa, em Alemão, Vozes do Universo, que causou uma grande repercussão. E, a partir disso, eu comecei a me corresponder com pessoas que tiveram acesso a esse fenômeno.

 

ALTERNATIVOX: Como e há quanto tempo você começou a estudar o fenômeno?

CLÓVIS NUNES: Em 1989 eu soube do I Congresso Mundial de Transcomunicação da Europa, que aconteceu na cidade da Basiléia na Suíça de 9 a 12 de novembro. Fui o mais jovem dos congressistas e primeiro brasileiro presente, isso há 13 anos atrás. O congresso tinha 850 participantes e eu estive em companhia de dois amigos que chegaram depois. Nós éramos os únicos sul-americanos. Todos conferencistas eram pesquisadores, escritores, autores de trabalhos. E a transcomunicação estava numa fase avançada. Nesse ano já tinham sido capturadas as primeiras imagens do além e muitas vozes já estavam sendo estudadas em laboratório. Também já existiam textos recebidos por computadores e vozes captadas através da telefonia (e de secretárias telefônicas). Lá eu conheci o presidente oficial do congresso, Dr. George William Meek, autor do Spiricom (Spirit + Communication), que era uma máquina americana para falar com os espíritos. Ele era um cientista muito conceituado e respeitado nos Estados Unidos. Ele investiu, de seus recursos pessoais, 500 mil dólares em equipamentos para fazer contato bidimensional com o espiritual. E aconteceu um fato interessante: ele havia escrito um livro que foi traduzido para 32 idiomas, chamado Cura dos Paranormais, juntamente com outros pesquisadores, físicos, biólogos e médicos. O livro, resultado de 12 anos de pesquisa, chega à conclusão de que nenhum paranormal havia se auto-cirurgiado. Mas eu conhecia um médium, João de Abadiânia, que havia feito uma cirurgia nele mesmo (por causa de um pré-enfarto) e, a meu pedido, cedeu as fotos da operação para eu levar a esse congresso.

 

Eu consegui marcar um encontro com o Dr. George Meek no terceiro dia, através de indicação do Dr. Hernani de Guimarães Andrade, um grande pesquisador brasileiro que tinha o conhecia. Ele me atendeu durante um jantar com sua secretária que falava espanhol e fui direto ao assunto: disse que conhecia um fato no Brasil que contrariava a sua tese, contei a história e mostrei as fotos. Quando ele viu as fotos ele se impressionou, porque o homem, quando está comprometido com a verdade, tem um comportamento diferente do religioso, que está comprometido com a crença. Ele se apaixonou pela hipótese e a entrevista que deveria durar meia hora, durou quase duas horas e meia. Depois disso, ficamos amigos e eu pedi que ele me apresentasse aos principais congressistas porque eu queria trazer material para os jornais do Brasil. Ele marcou (até hoje eu não sei se ele fez isso de propósito ou por falha na comunicação) as entrevistas nos países onde os pesquisadores viviam. E havia um pesquisador, o Ernest Senkowski, físico e engenheiro alemão (entre muitas outras coisas!), que está para a Transcomunicação na Europa como Chico Xavier está para o Espiritismo no Brasil.

 

O Dr. George Meek marcou com ele na Alemanha, na quarta-feira após o congresso que acabaria no domingo. Eu estava com poucos dólares, na época com muita dificuldade financeira, e um amigo meu, do Rio de Janeiro, sabendo a quantidade de dólares que eu tinha para viajar, me deu 18 pedras de Topázio Imperial com certificado de garantia - ele tinha uma mina de extração em Minas Gerais. Quando estávamos de viagem marcada, saímos vendendo pedras. Ninguém quis as nossas pedras. Andamos três dias tentando economizar, sem dinheiro para gastar com táxi ou metrô. Até que um comerciante desconfiou que nós éramos contrabandistas, nós percebemos que ele iria chamar a polícia, saímos da loja e desistimos de vender as pedras. Fomos para o hotel e nos contentamos em ver o Dr. Senkowsky, pois o dinheiro não dava para ver os outros que estavam agendados (um total de quatro países). Foi uma viagem de sacrifícios e, como não tínhamos dinheiro para o hotel, fomos à noite para dormir no trem e deixar as malas nas estações. E o Dr. Senkoswky havia apresentado um vídeo com as primeiras imagens do além, que aqui no Brasil ninguém tinha visto. Imagens belíssimas, de entidades espirituais, que ele tinha levado para mostrar aos pesquisadores. Eu vi aquilo tudo e tinha muita vontade de trazer para cá.

 

Se eu chegasse aqui dizendo que estava num evento de pesquisa internacional onde tinha visto espíritos se comunicando através da tela de tv e não tivesse um vídeo para mostrar, iria ser difícil de acreditar. Nós chegamos à casa dele as nove da manhã e ele nos atendeu. Eu pedia o vídeo e ele não me dava. E toda vez que eu pedia a fita de vídeo, ele me dava uma fita k-7. Eu deixava bem claro que não queria a voz, que precisava das imagens. Mas ele deu um arquivo, livros, material de pesquisa e, perto da hora de ir embora, eu pedi a fita novamente. Ele me deu a quinta fita k-7. Para trocar gentileza, eu sugeri ao meu amigo que a gente oferecesse uma daquelas pedras para que ele escolhesse. Ele não cobrou pelo material, mas se interessou muito pelas pedras. Para nossa sorte, ele era colecionador de pedras preciosas. Ele foi a uma sala cheia de gavetas, todas elas repletas de jóias, e examinou a pedra que tínhamos dado. Viu que eram verdadeiras. E ele não tinha aquelas pedras. Ficou muito agradecido e saiu ligando para todos com quem nós tínhamos entrevista agendada para nos esperar nas estações. Saiu com a filha e voltou com as passagens de trem, disse também que todos os hotéis estavam pagos pelos meus anfitriões e me deu 500 dólares. E ele acabou me dando a fita de vídeo. Esses dois fatos me colocaram no circuito da transcomunicação e me fizeram começar a trabalhar para disseminar a transcomunicação no Brasil: o contato com o Dr. George Meek e o contato com o Dr. Ernest Senkowsky.

 

ALTERNATIVOX: Como se dá esse processo de comunicação? O que é necessário para manter comunicação com os mortos?

CLÓVIS NUNES: Olha, os primeiros contatos se deram através de rádio e gravadores. Aconteciam de maneira involuntária, sem que os pesquisadores envolvidos desejassem que isso acontecesse. A tentativa de falar com os espíritos por aparelhos é uma coisa antiga e envolveu grandes nomes como Thomas Alva Edison, que tentou durante sete anos contato através de um aparelho que ele tinha construído na época e foi o precursor dos gravadores atuais. Thomas Edison usou produtos químicos, como o permanganato de potássio na tentativa de ouvir vozes do além. Morreu sem lograr êxito, porque a ciência do seu tempo não lhe ofereceu suporte para isso. Ele declara suas experiências num material que eu trouxe da Biblioteca Nacional de Washington. Eu estive lá por três dias pesquisando isso, coloquei no meu livro esse material, é a primeira vez que alguém publica essa informação sobre Thomas Edison. Nenhum biógrafo jamais falou sobre isso. Nesse documento ele revela o interesse do homem que foi considerado o cérebro mais útil das Américas, o inventor da lâmpada elétrica, da bateria alcalina e muitas outras coisas, que tem mais de 1.500 patentes registradas, que se ocupou durante esse período para tentar falar com os espíritos através do aparelho eletrônico.

 

E Thomas Edison dá notícia de outros pesquisadores que também tentaram e não conseguiram. Todos esses pesquisadores estavam na época em que a ciência era toda eletromecânica. Somente mais tarde, quando a ciência tornou-se eletroeletrônica, que nós desenvolvemos os transistors e começamos a dominar a matéria radiante, as ondas de rádio ficaram em evidência nas relações humanas e os espíritos conseguiram, através de Friedrich Jürgenson, na Suécia, em 1959, fazer os primeiros contatos. Os pesquisadores receberam essas primeiras comunicações como uma espécie de anomalia dentro da eletrônica. Mais tarde, com uma pesquisa apurada, se descobriu que essa anomalia era fruto de uma ação inteligente. Que havia uma consciência sem corpo, de outra dimensão, atuando no campo magnético desses aparelhos. O trabalho foi descobrir que ações eram essas e de quem eram essas interferências. E depois essa pesquisa constatou que eram de pessoas que tiveram seus corpos destruídos, pessoas falecidas, a quem chamamos de espíritos. Essas comunicações marcaram, nos anos 60, muitas pesquisas. Nessas épocas estavam em desenvolvimento as vozes sintetizadas. Nos anos 70, as pesquisas já ocupavam na Europa mais de 300 postos de observação e escuta. Nos anos 80, o engenheiro George Meek, a quem eu me referi anteriormente, desenvolveu o Spiricom, com um grupo da Metascience Foundation.

 

ALTERNATIVOX: Como surgiu o termo "Transcomunicação Instrumental" e o que significa?

CLÓVIS NUNES: Nos anos 80, o Dr. Ernest Senkowski, físico, engenheiro e professor alemão, criou a palavra "Transcomunicação", que reúne dois neologismos trans (de transcendente) e comunicação, do verbo comunicar. O termo Transcomunicação Instrumental significa uma comunicação por espíritos, transcendental, apoiada por meios técnicos. Ou, a comunicação com o além sem a necessidade da intermediação humana, envolvendo diretamente o campo magnético de aparelhos eletrônicos. Porque já existia a comunicação mediúnica pesquisada, estudada pelo Espiritismo e por outras áreas de pesquisa que se interessaram por esses fenômenos. Mas, no caso da transcomunicação, não se trata de um neologismo para explicar o mesmo fenômeno, já existente. É uma comunicação envolvendo instrumentação eletrônica. A palavra foi bem construída, seria muito difícil achar um novo vocábulo que definisse bem o fenômeno. Acreditamos que o Dr. Ernest Senkowski foi muito feliz na terminologia.

 

ALTERNATIVOX: Na sua opinião, por que a maioria das pessoas reluta em aceitar a Transcomunicação Instrumental? Por que é tão grande o ceticismo em relação ao fenômeno?

CLÓVIS NUNES: É porque nós temos, aqui no ocidente, um modelo de ciência que é muito fruto dos nossos sentidos. Existe um muro de ceticismo regido na ciência oficial que se instaurou dentro do modelo mecanicista. E essa ciência, com o seu método cartesiano, a maneira de construir o paradigma do palpável, do concreto, do visível, do que tem que ser visto para ser verdadeiro, é um paradigma que está sendo derrubado aos poucos. Hoje, o estudo que convém à ciência é o estudo do essencial, do invisível, do imponderável, da física quântica viva, onde tudo que nós vemos pode ser a parte mais grosseira de tudo que nós ainda não vemos. Então existe um novo paradigma emergente. Nascendo dentro da própria estrutura da ciência surge, uma nova forma de ver a ciência. Mas isso é muito lento. A ciência acadêmica se fechou muito dentro das estruturas desse paradigma do passado. Para entrar a sobrevivência, a indestrutibilidade do homem após a morte do corpo, para ficar evidente o espírito como elemento da natureza, muita coisa tem que sair. Nós estamos falando aqui da maior descoberta do século XX, que aconteceu alcançando o século XXI. E quase ninguém está se dando conta disso. Na hora em que a ciência considerar o espírito como elemento da natureza, nós sofreremos a maior revolução cultural que já se ouviu falar em toda a história, porque terá que se fazer uma revisão dos currículos acadêmicos em todas as profissões.

 

Haverá que se fazer uma revisão na Medicina, na Psicologia, na Educação, nas leis do Direito, nas comunicações de uma forma geral, para admitir que o homem é dois: é corpo de massa que se move sob o chão do planeta, mais um psiquismo, uma mente indestrutível que antecipa o nascimento e sobrevive à dissolução cadavérica. Existem suspeições sobre isso na ciência, evidências de que é um fato, mas isso ainda não se tornou uma afirmação concreta, metodológica. Temas como a transcomunicação tende a legitimar esses conceitos. A resistência é muito grande, toda idéia nova sempre sofreu a rejeição e a indiferença dos contemporâneos. Isso levou o pesquisador e físico do passado chamado Isaac Newton a asseverar de uma forma soberba que "mede-se a grandeza da idéia pelo tamanho da resistência que se opõe a ela". No começo a transcomunicação recebeu muitas oposições, muita resistência e ainda não é fácil. Mas eu poderia dizer que esse grande muro do ceticismo materialista que se insurgiu no seio da ciência oficial começou a receber as primeiras rachaduras no seu alicerce. Atrás da transcomunicação não estão religiosos, não é um fenômeno produzido por espíritas, nem é também um movimento dos parapsicólogos. A transcomunicação é um movimento de pesquisadores, de gente que está ligada à informática, à eletrônica, de gente que está por trás das universidades, que está no centro das tecnologias de pesquisa. Portanto, é um fenômeno que vem mudando a forma de ver dentro da própria ciência. É um fenômeno espontâneo, que foi tido como anomalia e depois passou a ser fato.

 

Hoje, dentro da ciência, eu posso dizer com muita naturalidade, que o além foi descoberto. Hoje, dentro da ciência, já se sabe que o espírito existe, que a morte não nos mata, que a nossa consciência após a morte do corpo conserva a sua personalidade e o seu caráter, a nossa inteligência se preserva, os nossos parentes nos esperam, os cemitérios do mundo inteiro estão vazios. Que a nossa personalidade e o nosso caráter continuam de uma maneira absolutamente real, viva e presente em uma realidade diferenciada do mundo físico, da massa dos nossos corpos. Isso dentro da ciência é um fato. Duvidar hoje do espírito, que nós conservamos a nossa consciência após a morte do corpo, não é mais uma questão de você crer ou não crer nessas coisas, não é mais um assunto de você ser ou não ser espírita. Isso é simplesmente uma questão de você estar bem ou mal informado do que a ciência está dizendo a respeito. Se você está atualizado com a ciência, isso é um fato.

 

ALTERNATIVOX: Quanto tempo você acredita que irá levar para a TCI ser aceita?

CLÓVIS NUNES: Vai demorar ainda um tempo... Creio que não vai levar 250 anos, como levou Galileu Galilei para provar que o sol não gira em torno da terra, porque as velocidades hoje são outras. Hoje nós evoluímos com mais velocidade, mas creio que daqui a umas quatro décadas a humanidade vai pensar diferente do que pensa hoje em relação ao que nós estamos fazendo aqui: qual a finalidade da nossa existência, quem somos nós e o que existe de fato depois da morte. Então há muita evolução dentro da ciência, nunca se falou tanto em espiritualidade dentro da ciência como agora. Mas esse atraso é natural porque somos frutos de uma cultura milenar de ceticismo. Durante muito tempo estamos condicionados a pensar reduzidamente. Nós temos que nos afastar dos sentidos para perceber certos fenômenos da vida: o nascimento, a vida, a morte e a sobrevivência. E isso é o que está acontecendo com o fenômeno da transcomunicação que evidencia no invisível uma realidade que os nossos olhos não alcançam. Existem maravilhas ocultas nas coisas aparentes. Somente agora, com a maturidade psicológica humana avançada, nós podemos alcançar essas maravilhas ocultas, saindo da dimensão dos sentidos, saindo da dimensão da forma, da dimensão da massa. Penso que o trabalho de aceitação vai ser lento, mas pouco a pouco, vai crescendo o número de pessoas que passam a saber sobre essas informações, não com a visão religiosa, nem de crendice, mas validada dentro da experimentação de verdade científica.

 

ALTERNATIVOX: Existem provas científicas de que esse fenômeno é real ou não?

CLÓVIS NUNES: Hoje, na ciência, não se fala mais em prova, mas em evidência. Até porque existe um axioma que diz: nem tudo que é verdadeiro pode ser provado, nem tudo que é provado pode ser verdadeiro. A ciência hoje pensa um pouco diferente. No passado, a ciência falava mais em prova. Mas, a prova por si mesmo não convence todo mundo. O que convence é a maturidade psicológica de quem está diante da prova. Porque, se você não tem maturidade psicológica, você pode vê-la escancarada na sua frente e você nega a evidência. Quando Alexander Graham Bell provou que o fio rígido poderia transmitir a voz, todos os seus colegas céticos foram contra e disseram: "Se você estivesse desenvolvendo um aparelho para enviar a voz por um tubo vá lá, mas por um fio rígido, impossível". Ele transmitiu a primeira mensagem a 500 metros de distância, com cinqüenta testemunhas. O amigo que ouviu a mensagem disse assim: "Ouvi tudo, mas não acredito". Então a ciência hoje tem outro axioma: você tem evidências de que existe a sobrevivência e elas constituem os elementos de prova. E isso aí nós temos em quantidades extraordinárias. As imagens dos espíritos não são suposições de videntes. Elas estão filmadas, registradas, aprisionadas em fitas cassetes, guardadas em laboratórios, e têm suas origens e formação estudadas metodologicamente.

 

Existe uma paranormalidade no mundo eletrônico que não tem explicação plausível a não ser que estamos diante de um fenômeno paranormal que a ciência ainda não domina. E quando ela chega a esse limite de descobrir que não sabe como funciona o fenômeno e se rende à necessidade de desvendar o conhecimento que está por trás dele, isso é fazer ciência. Podemos dizer que já existem muitas evidências inquestionáveis de que existe a vida após a morte e que a dimensão física é apenas uma parte da realidade. A própria ciência já caminha para outras formas de perceber esse mundo de necessidades, onde a forma não existe sem que existia a substância. O elemento da ciência agora é o essencial, e o essencial é invisível aos olhos. Mas o que importa é que há um conjunto imenso de metodologias sendo construído, uma quantidade imensa de pesquisadores se envolvendo nessas experiências. Eu posso dizer a você com muita serenidade e confiança: uma grande parte dos melhores técnicos e cérebros do mundo estão envolvidos nessas experiências. É algo que a gente deve ouvir e estudar, com uma recepção maior, com mais maturidade de reconhecer um fato do que de negar uma hipótese.

 

ALTERNATIVOX: Como você acha que a mídia brasileira vem tratando esse assunto?

CLÓVIS NUNES: Ainda com muito sensacionalismo, como é natural. Esses assuntos do além sempre foram ligados a idéias de assombrações, porque nós estamos dentro da cultura do amedrontamento. Quando se fala em espírito, você tem dezesseis séculos de religião dominante (Catolicismo) que colocou a idéia no popular de que morreu, virou fantasma. Um pai ou um amigo querido que morreu, virou fantasma que volta e lhe assombra. Então a imprensa trata, com raras exceções, por padrões sensacionalistas. Na minha experiência, eu lhe digo que eu já neguei mais de vinte entrevistas por causa do tom sensacionalista. Até mesmo para a Rede Globo, no começo, nós tivemos que interceptar as entrevistas porque as pessoas iriam dar um tom sensacionalista. Infelizmente, no Brasil não existe ainda uma imprensa investigativa, uma imprensa científica. Está chegando agora, tem pouco mais de dez anos o jornalismo científico. O jornalista, de uma forma geral, não sabe entrevistar cientista. Nem sabe falar sobre ciência. E os jornais precisam vender, precisam faturar.

 

Nos Estados Unidos, quando a Vicking 2 foi à Marte, a sala da NASA estava repleta de jornalistas de mais de 80 nações querendo ver as imagens do planeta e saber se havia marcianos. E aí vieram, imagine você, mais de oitenta mil fotografias transmitidas por satélite, selecionadas e editadas, que mostraram que Marte não tem marcianos. O planeta é enferrujado, tem uma atmosfera densa, o nível de oxigênio muito baixo, o céu é rosa-amarelado, não tem água potável, não tem clorofila, não tem verde. A vida em Marte seria impossível até porque registraram tempestades globais com ventos tão poderosos que levantavam pedras de 300 quilos a até 6, 8 metros de altura e o planeta ficou disforme com a poeira global. Os jornalistas receberam as informações e as notas nos jornais foram bem pequenas. Por quê? Porque não vende jornal. Mas, se tivesse um marciano meio amarelo com os olhos esbugalhados, eles dariam duas ou três páginas. Tanta informação incrível, a primeira vez que o homem fez o estudo do solo de um outro planeta que não a terra e eles ocultaram da população porque não tinha valor comercial. Essa dificuldade do jornalismo científico é muito grave.

 

Estando no reduto da ciência na Europa, os pesquisadores sempre me dizem que o cientista começa a perder a credibilidade quando ele aparece muito em capas de revistas populares. Há todo um caminho de precaução com a imprensa. Eu lembro que em quase todas as entrevistas que eu dei, cerca de 70% delas, existem distorções fantásticas. Mesmo gravando, na hora em que o jornalista vai para a redação, ele muda a estrutura da idéia. Com o jornalismo científico isso tem mudado muito nos Estados Unidos, na Europa muitos profissionais estão se profissionalizando nessa área, o que é uma coisa fantástica. E no Brasil, me parece que já tem essa especialização. Na Unicamp, em São Paulo, ela já existe, e é uma coisa que tem que se tornar mais comum no nosso país. Porque hoje, com a globalização, a necessidade de saber ciência é importante para quem vai tratar do assunto na mídia. No Brasil, ao meu ver, essa cultura de jornalismo científico está chegando agora. A interpretação é muito sensacionalista mas, pouco a pouco, a gente vem colocando isso de uma maneira melhor, dentro das possibilidades. Alguns programas têm dado o enfoque correto ao assunto, mas ainda está muito longe do que merece.

 

ALTERNATIVOX: O que você achou da edição feita pelo Fantástico do seu debate com o Padre Quevedo exibido no quadro O Caçador de Enigmas? O que aconteceu e não foi ao ar?

CLÓVIS NUNES: O debate com o Padre Quevedo tem toda uma história oculta que o público não sabe. Quando eles me convidaram, aquele quadro não tinha ido pensado. Eles pensaram em fazer uma discussão na Rede Globo, no programa Fantástico, tratando a paranormalidade em alto estilo, falando do espírito, e me convidaram para falar sobre transcomunicação. Essa foi a proposta inicial. Eu fui a convite dos organizadores do programa e eles me perguntaram se eu tinha alguma dificuldade em debater com o Padre Quevedo sobre o assunto. Então, o pano de fundo da reportagem seria a transcomunicação com a participação do Padre Quevedo. Esse era o perfil psicológico da idéia. Gravamos em estúdio e combinamos que nada poderia ir ao ar que não tivesse sido gravado ali, não teria edições externas, nenhum dos dois poderia gravar depois. O Padre Quevedo tem uma formação católica, eu sou pesquisador com uma formação espírita, mas nós ali não seríamos religiosos. Nem ele falaria do ponto de vista católico, nem eu do ponto de vista espírita. Ambos somos parapsicólogos. Ele faz parte da Escola de Parapsicologia Européia, que é uma escola de idosos, já em decadência, que tem um ponto de vista muito radical com os fenômenos psíquicos. Eles acham que todos os fenômenos paranormais são frutos da mente; se não são frutos da mente, é truque; se não for truque, é um produto da mente.

 

Parte deles acredita também que paranormalidade é sinônimo de transtorno mental, que é uma doença. As outras duas escolas de parapsicologia que são a Escola Russa e a Americana não aceitam isso. Eu transito muito bem nas três escolas, não tenho nenhuma posição radical, mas tenho uma vivência maior com a Escola de Parapsicologia Americana. Eles acreditam que existem dois grandes grupos de fenômenos: os psíquicos, que são produzidos pelo próprio paranormal, que são frutos de sua mente (o paranormal seria o agente do fenômeno, ele próprio seria a fonte geradora desse canal); e os fenômenos mediúnicos ou espirituais cujo agente é uma consciência sem corpo e o paranormal, nesse caso, é o médium, um intermediário (ele não é o agente do fenômeno, mas um instrumento por onde ele acontece). E eu iria opinar como parapsicólogo, assim como o Padre Quevedo. Na hora do debate, que levou uma hora e dez minutos em estúdio, ele não sabia do assunto transcomunicação, ele estava completamente por fora e ele também não tem muito acesso aos fenômenos mediúnicos. Como padre, reconhecidamente na mídia ele tem 40 anos dizendo que isso não existe, as pessoas que convivem com esses fenômenos não o convidam. E ele, também por preconceito, não vai ver. O acesso que ele tem é ao fenômeno psíquico.

 

No imaginário dele todos os fenômenos acontecem psiquicamente e ele não se permite estudar e conviver com outros paranormais que produzem fenômenos além do psiquismo, ele não tem contato com muitos médiuns. E como nesse meio tem muitos charlatões, ele teve a possibilidade de desmascará-los e acha que o que não é da mente é um charlatão que faz. É uma posição um tanto radical. Voltando ao debate: eu tinha ido gravar um seminário no Rio de Janeiro e a Rede Globo estava presente. Eu estava ensinando as técnicas de contato e lá, ao vivo, nós colocamos quatro rádios e sugerimos o contato direto com o espiritual. A Rede Globo tinha levado um gravador, mas a platéia colocou mais três gravadores, totalizando quatro. Se tivesse acontecido um fenômeno físico, os quatro gravadores teriam captado a mesma coisa no mesmo ponto da fita (qualquer voz humana ou fenômeno que saísse eletronicamente produzido pelo rádio, seria gravado simultaneamente). Nós deixamos os rádios entre as estações produzindo um ruído branco, que é um chiado peculiar que faz parte da técnica, depois baixamos o volume do rádio, rebobinamos a fita e vamos escutar o que foi gravado. As vozes dos espíritos se entremeiam naqueles ruídos e aparecem com clareza as mensagens deles.

 

No primeiro gravador, a 1min30 dizia: "O rádio está esperando". No segundo gravador, a 2 min dizia: "O rádio está pronto". No terceiro gravador, aos 3min20 dizia: "Vai ficar bom". E no quarto, quando nós escutamos, tinha uma frase que dizia: "Ramatis presente". Cada gravador captou uma frase diferente, num ponto diferente da fita, e ninguém tinha escutado essas quatro vozes. Se a Rede Globo quisesse fazer um trabalho de pesquisa sério com a transcomunicação, teria um quadro maravilhoso, teria mandado averiguar essas fitas. A maneira como essas vozes são gravadas é bem estranha: elas não são registradas de fora para dentro da fita pelo microfone, são produzidas dentro do campo magnético da fita. Há como se averiguar se é uma voz normal ou se ela chegou de maneira paranormal ao campo magnético da fita mas, como o fenômeno foi muito simples, muito evidente, eles acharam que não precisavam investigá-lo. E, depois que eu fui embora para casa, dois meses depois, na hora de produzir o programa, alguém teve a idéia de colocar o Padre Quevedo com um quadro chamado O Caçador de Enigmas. Num país dominantemente católico, o Brasil é o maior país católico do mundo, um padre que deveria dizer que existe vida após a morte (que é isso que prega as religiões), estaria negando a vida após a morte. E isso poderia colocar muita gente em frente da cadeira e dar "Ibope".

 

O motivo pelo qual a Rede Globo se envolve nesses assuntos não é porque ela está interessada em provar nada. O que ela quer é audiência, uma quantidade x de telespectadores sentada na poltrona. E se outro padre tivesse aquele quadro, poderia dar uma melhor audiência. Mas a Rede Globo pensou mal, porque além dele ser radical, ele não fala Português e é desatualizado. E o Brasil é um país espiritualista, onde a maioria dos católicos não tem uma visão cética, crê na vida após a morte. Quando aparece um padre dizendo que isso não existe, ele traz uma mensagem de pessimismo negando a esperança que todo cristão tem, que é uma vida futura. Mas o Padre Quevedo não convencia, não dizia coisa com coisa, não conseguia negar o fenômeno, porém não acreditava que fosse verdadeiro. Eu apresentei as imagens todas, e já estava na minha cidade quando vi a chamada do quadro. O Padre Quevedo ficou com o quadro e a transcomunicação ficou como coadjuvante.

 

ALTERNATIVOX: Qual foi a sua posição em relação a essa mudança de ângulo na edição da matéria e como foi a sua repercussão?

CLÓVIS NUNES: Eu liguei para a direção e quis tirar o quadro do ar, tirar a minha participação. Mas entramos num acordo. Eles queriam que o Padre Quevedo gravasse por fora, porque ele estava estressado no debate. Eu não permiti que o Padre Quevedo gravasse por fora. Na verdade ele não estava estressado, ele estava inseguro, inconsistente, não dominava o assunto e visivelmente sem argumentos. E, para não ficar feio, ele tinha que gravar por fora. Depois de muita insistência, entramos num acordo. Eu propus que eles me dessem a fita de tudo o que tinha acontecido dentro do estúdio, e permiti que Padre Quevedo gravasse por fora, desde que fosse acordado o que ele iria dizer. Eles me falaram "Não... ele vai dizer a mesma coisa que ele disse, só que com mais calma". Foram mais quatro dias de telefonemas, trocamos fax, e eles me garantiram a fita com 60 dias após o fax. E aí o quadro foi ao ar. Eu fiquei com 2min30, ele com 2min e o Cid Moreira com 2min30. A reportagem saiu com oito minutos, foi a primeira vez que as imagens foram mostradas ao vivo na televisão, 92 milhões de telespectadores assistiram naquele dia, a palavra "transcomunicação" se tornou pública para o brasileiro, os meus livros tiveram uma vendagem estupidamente grande naquele ano, e até hoje começou a sair com mais velocidade.

 

Eu fiz 36 entrevistas após o Fantástico, a reportagem ficou na internet, nove países assistiram através da Globo Internacional. Concedi entrevistas para a TV da Espanha, para a do Chile, para TVs a cabo e muitos jornais. Depois a revista Isto É colocou quatro páginas sobre transcomunicação (inclusive foi destaque na capa) e o SBT Repórter fez um documentário inteiro sobre esse tema. E, mais tarde, o Globo Repórter evidenciou também o assunto. Então a transcomunicação se tornou algo mais conhecido no Brasil, o que foi útil. O Padre Quevedo colocou a paranormalidade em evidência, e logo depois do meu debate, caiu o "Ibope" dele. Ele começou a perder pontos, chegou a quase zero, tanto que já tinha quatro quadros gravados e a Globo o tirou do ar porque chegaram milhares de e-mails pedindo que ele saísse. Ele já não dava mais audiência e o quadro não emplacou. Para mim o resultado foi muito positivo, até porque as pessoas puderam ter outra visão. A fita bruta chegou e eu já comercializei mais de três mil cópias. Milhares de pessoas já assistiram em suas casas e em grupos de estudos...

 

ALTERNATIVOX: Sobre o Arquivos do Insólito, quadro que você foi convidado a apresentar no Fantástico, o que você pode nos falar? Como surgiu o convite?

CLÓVIS NUNES: Eu fiz a reportagem de capa do último domingo de outubro do ano passado, que foi o Museu das Almas do Purgatório. É um museu católico, que estaria ocupado pela igreja por mais de cem anos, e que guarda peças de comunicação de padres e freiras com espíritos dentro da Igreja Católica. E aí aconteceu uma outra coincidência incrível. Eu estava ajudando no Globo Repórter, onde eu dou consultoria desde 1994, e encontrei o diretor do Fantástico (Luis Petri) no corredor. Ele comentou que no debate com o Padre Quevedo, eu fiz referência a esse museu e ele mandou uma correspondente internacional na igreja e os padres negaram a existência dele. Eu disse para ele que já tinha estado no museu de passagem em 1996 e que o museu existia. Começamos a conversar e fomos para a sala dele. Aí ele disse: "Clóvis, você poderia fazer essa reportagem em Roma, viajar com a gente, entrar nesse museu? Você garante isso?". Eu disse: "Garanto. Eu já estive no museu". A conversa começou a render, tomou a dimensão de que hotel, quando poderia ser, de qual jornalista iria comigo (era a jornalista que já estava lá Ilze Scamparine). Aí eu perguntei: "Mas você está pensando em colocar essa reportagem aonde?". E o Petri, que já tinha um quadro na época falou: "Ah, eu estou com um quadro que se chama Isso é um Espanto. Nós poderíamos fazer uma adaptação...".

 

Eu falei que era melhor não porque o nome era sensacionalista demais e era um assunto que envolvia a igreja, envolvia fenômenos velhos e que, além de não ficar bom, eu teria que ter cuidado com isso porque eu estou escrevendo um livro sobre esse assunto. Ele perguntou: "Ah, você está escrevendo um livro sobre isso?" Eu falei: "Para falar verdade o livro fala sobre vários fatos e o museu é o primeiro capítulo". E ele me perguntou: "Como é o nome do livro?". Eu disse: "Arquivos do Insólito". Ele parou e disse: "Espera aí... qual é o título?". E eu repeti: "Arquivos do Insólito". Aí ele cruzou os braços, botou a caneta na mesa e disse assim: "Aonde você achou esse título?". Eu falei: "Olhe, eu tenho isso na minha cabeça há cinco anos. Na verdade eu pensei em Arquivos do Invisível. Mas depois eu achei a palavra Insólito mais pertinente e que esse era o título". E aí ele parou, ficou me olhando, foi lá dentro, e voltou com uma cartolina azul, envelhecida, com umas letras douradas em cima, como se fosse a tampa de uma pedra e botou em cima da mesa com o nome Arquivos do Insólito: era o nome do próximo quadro da Rede Globo. Aí foi a minha vez de perguntar: "Aonde você achou esse nome?". E ele disse: "Nós também temos esse nome há algum tempo".

 

Nós ficamos nos entreolhando e, nesse momento entrou o Pedro Bial (que eu já me conhecia de algumas reportagens) e perguntou: "Luis, como é que vão os fenômenos?". E Petri falou: "Acabou de acontecer um aqui. O nosso quadro Arquivos do Insólito tem o mesmo nome do livro que ele está escrevendo". E aí, com aquela feliz coincidência, ele fez uma proposta que a gente fizesse o quadro e que eu fosse o âncora, a pessoa que iria abrir os arquivos. E fomos para Roma com o intuito de fazer o primeiro com o Museu das Almas. Quando eu cheguei lá, a reportagem era muito inédita, era um furo de reportagem jornalística maravilhoso, mas a Rede Globo não conseguiu entrar, quem entrou fui eu. O cinegrafista quem conseguiu foi um amigo brasileiro, também cineasta, que mora na Escócia e tinha trabalhado lá há muito tempo. Eu fiz amizade com os italianos e eu fechei contrato com o cineasta que ele indicou. A Rede Globo não conseguiu entrar, as imagens são minhas. Eu apenas cedi para o Fantástico. Fizemos um contrato e a Globo não pode exibir essas imagens em nenhum outro programa sem a nossa autorização, a não ser naquele quadro. Foi uma reportagem bonita. E eu estou fazendo um documentário de 75 minutos com esse título, Arquivos do Insólito, dando uma linguagem diferente da que o Fantástico deu e contando toda a história do museu que estava por trás desses fenômenos.

 

Aí eles colocaram um quadro agora, que é o Desafio Paranormal, onde um empresário americano oferece um milhão de dólares para quem provar que existe um fenômeno paranormal, para aquecer o nosso quadro. Após esse quadro, entram os Arquivos do Insólito. Mas a Rede Globo é muito imprevisível com datas. Sempre o que está funcionando eles estão deixando acontecer. O nosso quadro já está garantido, aprovado, inclusive o orçamento, mas o Desafio Paranormal serve para garantir a audiência e o sucesso do programa, que é o mais disputado do Brasil. Estamos ainda na fase de construção do quadro, do roteiro, já temos os passos a seguir, os seis primeiros quadros já foram pensados, os contatos e lugares de filmagem já estão estabelecidos, ou seja, já existe todo um projeto. E o meu livro vai sair para todo país paralelo à mídia brasileira. Vai ser um momento bonito para a parapsicologia.

 

ALTERNATIVOX: Existe alguma previsão para o lançamento do seu documentário?

CLÓVIS NUNES: Já deveria estar pronto. Uma parte foi feita na Rede Globo e a formatação externa nós estamos fazendo em estúdio. Nós fizemos uma permuta, uma negociação, por causa da reportagem. O que fez a reportagem sair foi que o SBT queria botar no ar. Esse museu iria ser dividido em três partes para o Arquivos do Insólito mas, como o SBT se interessou em colocar a reportagem antes, a Rede Globo, para não deixar uma concorrente colocar um furo na qual ela estava envolvida, antecipou e fez a reportagem de capa precedendo o Dia dos Mortos. Todo mundo estaria reunido nas igrejas em comemoração a esse dia e apareceria uma semana antes o Museu das Almas do Purgatório, falando da comunicação com os mortos por padres e freiras dentro da própria Igreja. E foi um impacto muito forte. O documentário vai sair agora. Creio que até o final de julho, no máximo, o vídeo está pronto. Falta pouca coisa. E o título? Arquivos do Insólito.

 

Bom, a nossa entrevista fica por aqui. Agora cabe a você tirar suas conclusões mas, para isso, você deve procurar se informar mais, pesquisar mesmo sobre o assunto. Aí sim você poderá decidir se acredita ou não no fenômeno da Transcomunicação Instrumental. Ainda nessa edição, nós trazemos dicas de alguns livros que tratam o tema.

 

 "Duvidar hoje do espírito não é mais uma questão de crer ou não crer nessas coisas. É simplesmente uma questão de você estar bem ou mal informado”.

Por Milena Melo

 

MARÇO/2011

 

Trazemos esse mês, A Chance de Cooperar com Deus: Em entrevista, o orador e médium José Raul Teixeira relata como chegou ao Espiritismo e comenta a finalidade do centro Espírita e a evolução do Movimento Espírita.

 

P: – Como você tornou-se espírita?
R: – A partir do convite de um querido amigo, José Luiz Vilaça, colega de escola, a quem relatei acontecimentos que comigo se davam, envolvendo a visão e a audição de seres espirituais, os quais o meu orientador religioso à época, afirmava serem “demônios”, aceitei o convite do amigo, após grande relutância, porque nunca ouvira nada a respeito do Espiritismo, e isso me amedrontava.

P: – Qual a sua relação com o movimento de Mocidades Espíritas?
R: – Bem, o convite feito por meu amigo Vilaça era para que eu visitasse a Mocidade Espírita a qual freqüentava, pois, quando ouviu meus relatos sobre aparições espirituais, disse-me que no grupo de jovens espíritas do qual participava tal questão era conhecida como mediunidade. Quem sabe ali eu encontraria resposta para os fenômenos?

Desde aquele dia 8 de abril de 1967, que assinalou a minha primeira visita a um Centro Espírita, tornei-me membro ativo da Mocidade Espírita Ranulpho Xavier, do Grupo Espírita Leôncio de Albuquerque, em Niterói (RJ), minha cidade natal. Mais tarde, a Mocidade passou a ser designada tão-somente como Mocidade do Grupo Espírita Leôncio de Albuquerque. Nos estudos e trabalhos desenvolvidos, então, nessa Instituição, fui convidado a lecionar para grupos de crianças quanto de jovens, o que se delongou por vários anos, ensejando-me profundas alegrias e grandes aprendizados da formosa Doutrina Espírita.

Dessa forma, sempre estive vinculado ao trabalho com jovens espíritas, participando de inúmeras confraternizações no Estado do Rio de Janeiro como em outros Estados brasileiros, trocando experiências e aprendendo sempre, apaixonando-me sempre mais pelo pensamento espírita, por sua lucidez e inquebrantável lógica.

P: – O que teria a relatar sobre sua vivência como conferencista, visitando todas as regiões do país?
R: – Considero que é uma das mais expressivas experiências de minha vida, uma vez que jamais pudera supor que um dia viesse a tornar-me pregador, dado ao meu temperamento tímido até o período da adolescência, exatamente quando conheci o Espiritismo.

Quando da minha primeira visita a um Centro Espírita, a professora, talvez por observar-me a timidez, pediu-me que dissesse algo sobre o tema que estava sendo tratado pelos jovens – Moisés: a primeira revelação – e senti algo extraordinário: o peito pareceu-me intumescido e a língua parecia ter crescido. Sem qualquer raciocínio, falei sobre Moisés durante 20 minutos, tocado por forte emoção, e, como se desligasse uma “chave”, parei de falar, restando-me demorada taquicardia. Aí tudo começou no meu contato com o Espiritismo.

A partir dos comentários doutrinários realizados em nossa Instituição, dos pequenos estudos desenvolvidos na Escola Paulo de Tarso, mantida pelo Grupo Leôncio, numa instituição penal de nossa cidade, fui sendo convidado para pregar em outros Centros da cidade. Após, comecei a pregar na cidade do Rio de Janeiro. Alguém que me conheceu nesses labores foi-me convidando para visitar Minas Gerais, São Paulo, e, quando me vi, estava visitando o país inteiro. A minha família se ampliara, o tempo se fizera mais apertado, pois tinha que saber bem distribuí-lo entre a faculdade, a vida profissional, a família e as atividades espíritas.

Até hoje, cada vez que me levanto para falar da nossa Doutrina Espírita, onde quer que seja, sou tomado pela mesma emoção, pelo mesmo entusiasmo da primeira hora, imensamente honrado pela oportunidade que Jesus-Cristo me oferece de trabalho no bem.

P: – E sobre as visitas ao Exterior?
R: – Imagino que não estivessem nos planos da minha presente reencarnação as viagens ao Exterior. Curioso é que foram surgindo convites, e elas foram sendo incrementadas, após um grave acidente automobilístico do qual os Benfeitores retiraram-me ileso e afirmaram que eu recebera uma significativa “moratória”, um tempo a mais para aprender e servir. Hoje, com 38 países visitados, identifico naqueles que estão lutando por apresentar e disseminar o pensamento espírita, com devotamento e seriedade, a extensão da nossa família espírita brasileira, ou melhor, a ampliação da nossa família espírita mundo afora.

P: – Você tem responsabilidades cotidianas em alguma Instituição Espírita?
R: – Sim, tenho. Sou fundador e atual presidente da Sociedade Espírita Fraternidade, em Niterói, onde temos as várias atividades espíritas de domingo a sábado. A SEF tem seu braço assistencial, que chamamos Remanso Fraterno, onde nos ocupamos em atender com escolaridade, saúde física, odontológica e psicológica, alimentação, etc., a uma comunidade de quase oito centenas de pessoas, distribuídas entre crianças, adolescentes e seus pais ou responsáveis.

P: – Como conceitua o objetivo do Centro Espírita?
R: – O Centro Espírita deverá propor-se ensejar aos seus freqüentadores o estudo da Doutrina Espírita, na condição de Escola das almas, ou, como bem posicionou Bezerra de Menezes, através da mediunidade de Chico Xavier, “o Centro Espírita é a universidade do Espírito”. No seu bojo, igualmente, aprendemos a conviver na sociedade dos confrades, verdadeiro laboratório, onde mil e uma experiências são vivenciadas, amadurecendo-nos para os objetivos mais altos de Jesus para as nossas vidas.

P: – Qual a sua opinião sobre a evolução do Movimento Espírita nas últimas décadas?
R: – É com alegria que acompanho o gradual crescimento numérico do nosso Movimento Espírita, muito embora tenha que admitir a necessidade de um incremento qualitativo, ou seja, maior engajamento dos que buscam os benefícios propiciados pelo Espiritismo, seja aprofundando seu conhecimento, a fim de que a vida terrena seja vista com maior clareza e responsabilidade, seja no esforço por vivenciar seus ensinamentos excelentes.

P: – Teria uma mensagem ao leitor de Reformador?
R: – Importante reafirmar nossos compromissos com o Cristo, quando retornamos à Terra sob o Seu amparo, guardando a certeza de que esse é um tempo muito especial, considerando a confiança que o nosso Modelo e Guia deposita em nossas possibilidades, sem que haja nenhum prurido messianista de nossa parte. Importante fazer do pensamento luminoso do Espiritismo a nossa filosofia de vida. Importante imprimir maior qualidade aos nossos labores pela Causa, convictos de que estamos sendo agraciados com a grande chance de cooperar com Deus nesse momento complexo do progresso humano.

Assim, quero abraçar os irmãos leitores de Reformador, com especial carinho, agradecido pelas orações, e pela acolhida afetiva que venho recebendo em todos os lugares que tenho tido a honra de visitar a serviço do Espiritismo.

FEVEREIRO/2011

 

Trazemos carinhosamente este mês, uma entrevista realizada pelo terapeuta e médium Wanderley Oliveira com o médico Presidente da Associação Médico-espírita de Minas Gerais, Andrei Moreira.

Andrei Moreira é médico formado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Integra, desde 2005, uma equipe do Programa de Saúde da Família, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Especializado em Homeopatia.

Preceptor do Internato em Atenção Integral à Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade de Alfenas, campus BH, desde 2008.

Participa ativamente do movimento espírita nacional e internacional, proferindo palestras e seminários. Integra equipes de atendimento a pacientes com a metodologia médico-espírita na Amemg. Presidente da Associação Médico-Espírita de Minas Gerais, desde 2007. Autor do livro: "Cura e autocura – uma visão médico espírita" – AME Editora, 2010 . ammsouza@hotmail.com Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. -  www.amemg.com.br

 

Wanderley Oliveira -   Homossexualidade é ou não uma doença à luz do Espírito imortal?

 
Andrei Moreira - “Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria. Em 1975 a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento, deixando de considerar a homossexualidade como doença. No Brasil, em 1985, o Conselho Federal de Psicologia deixa de considerar a homossexualidade como um desvio sexual e, em 1999, estabelece regras para a atuação dos psicólogos em relação à questões de orientação sexual, declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura da homossexualidade. No dia 17 de Maio de 1990 a Assembléia-geral da Organização Mundial de Saúde (sigla OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação internacional de doenças (sigla CID). Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passa a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos” - Wikypedia A Homossexualidade, segundo a ciência, é uma orientação afetivo-sexual normal. Sob o ponto de vista espírita, tem sido catalogada por muitos escritores espíritas como doença ou distúrbio da sexualidade, em franco desrespeito ao conhecimento científico atual. Não há base no conhecimento espírita para se afirmar tal coisa. Não há uma visão que seja consenso sobre o assunto no movimento espírita, mas há excelentes textos dos espíritos André Luiz e Emmanuel nos direcionando o pensamento e a reflexão para o respeito, acolhimento e inclusão da pessoa homossexual, entendendo a homossexualidade como uma condição evolutiva natural (e o termo “natural” como sinônimo de “presente na natureza”), decorrente de múltiplos fatores, sempre individuais para cada espírito, construída ou escolhida pelo espírito, em função de tarefas específicas ou provas redentoras, incluindo aí as condições expiativas e reeducativas devidas a abusos afetivo-sexuais no passado, que parecem ser a causa determinante da maior parte das condições homossexuais, segundo a literatura espírita.

 

Wanderley Oliveira -  Qual a diferença entre orientação e escolha sexual?

Andrei Moreira -  Orientação sexual representa o desejo e o interesse afetivo-sexual (note bem: não somente sexual, mas também afetivo) do indivíduo, decorrente de múltiplos fatores, os quais determinam com qual sexo ele se sente realizado para uma parceria íntima.  A orientação sexual é fruto da história pessoal do indivíduo, presente e passada; é influenciada pela cultura e pelas identificações psicológicas, porém não controlada ou determinada conscientemente pelo indivíduo. Nasce-se com ela. Escolha é fruto da decisão consciente de se viver ou não a orientação, aceitá-la ou reprimi-la, de acordo com as idealizações e a pressão familiar-social-cultural do meio em que o indivíduo se encontra reencarnado.



Wanderley Oliveira -  O homem homossexual se sente uma mulher? A mulher homossexual se sente um homem?

Andrei Moreira -  De forma alguma. Identidade e orientação sexual são coisas distintas. Identidade é como o indivíduo se sente, a qual sexo pertence, com qual sexo se identifica psicologicamente. A orientação homossexual representa exclusivamente o direcionamento do afeto e do interesse sexual para indivíduos do mesmo sexo. O homem homossexual tem a sua identidade masculina, sente-se homem, embora possa ou não ter trejeitos afeminados, conforme sua história e identificação psicológica. Igualmente, a mulher homossexual tem a identidade feminina, embora possa ter ou não trejeitos masculinizados. Quando o indivíduo está em um corpo de um sexo, e sua identidade é a do sexo oposto, dizemos que ele é transexual, que é diferente do homossexual.



Wanderley Oliveira -  Em todos os casos, o espírito já renasce homossexual? É possível reverter essa orientação?

 
Andrei Moreira -  Há uma diferença entre comportamento homossexual e identidade afetivo-sexual homossexual. Observamos comportamentos homossexuais em indivíduos com doenças psiquiátricas, entre presidiários e soldados em guerra; nessas condições, na ausência da figura feminina, a prática sexual entre iguais praticada por muitos como campo de liberação das tensões sexuais e da busca do prazer. Isso não quer dizer que eles sejam homossexuais. O indivíduo com identidade homossexual é aquele que se sente atraído afetiva e sexualmente por pessoa do mesmo sexo, o que pode ser percebido ou descoberto em diferentes fases da vida do indivíduo. Não podemos afirmar que todos os homossexuais tenham nascido com essa orientação, pois a variedade de manifestações nessa área nos remete a múltiplas causas, embora a literatura mediúnica espírita nos informe de que em boa parte dos casos as pessoas homossexuais trazem de seu passado espiritual a fonte de sua orientação presente.

Não sendo, em si, uma condição maléfica para o indivíduo, mas neutra, podendo ser positiva ou não, dependendo da forma como for vivenciada, não há necessidade de reverter essa condição. A orientação da ciência médica e psicológica atual é de que o indivíduo homossexual que não se aceita e sofre com isso deve ser classificado como portador de transtorno egodistônico, e os esforços devem se direcionar no sentido de auxiliá-lo a se aceitar e se amar tal qual é, sentindo-se digno de amor e respeito, buscando relações que lhe fortaleçam o autoamor e nas quais possa ser natural, espontâneo e verdadeiro, em busca de sua felicidade e de seu progresso.

Há religiosos e profissionais fundamentalistas que oferecem terapia e assistência espiritual, sobretudo em igrejas evangélicas, para que o indivíduo se “cure” da homossexualidade. Não há registros de casos bem sucedidos. O que frequentemente se observa são indivíduos bissexuais alterando o direcionamento do seu afeto para indivíduos do mesmo sexo, porém muitos deles têm relações sexuais clandestinas com pessoas do mesmo sexo e nos procuram nos consultórios cheios de culpa, medo e vergonha por não se sentirem “curados”. Além disso, há os indivíduos homossexuais que decidem vestir a máscara de heterossexuais e por algum tempo formam famílias; frequentemente, saem de casa após algum tempo para viverem o que sentem como sua real atração afetivo-sexual.



Wanderley Oliveira -  Existem casos de homossexualidade desenvolvida exclusivamente pela educação na infância? Em caso afirmativo, é possível reverter o processo?

Andrei Moreira -  Segundo Freud, sim, o que não significa que seja passível de reversão ou que haja necessidade disso. Segundo o Conselho Federal de Psicologia a identidade e a orientação sexual estruturadas na infância não são passíveis de reversão, e a homossexualidade não é uma condição que necessite reversão, já que não é uma doença e muito menos um desvio moral. Porém, na visão espírita, os benfeitores espirituais nos informam que o espírito, ao reencarnar, já escolhe a natureza de suas provas e as condições familiares sociais e pessoais necessárias ao seu progresso, conforme sua consciência indique a necessidade de reparação dos equívocos do passado e de melhoramento pessoal. Em outras situações, quando o espírito não se encontra maduro para definir suas provas, elas são estabelecidas por orientadores evolutivos, mas, ainda assim, são definidas previamente à reencarnação. Assim, a família, o corpo que a pessoa tem e os principais pontos da existência já estão definidos para patrocinar as condições necessárias ao progresso do indivíduo. Além disso, o espírito traz impressos em si o fruto de suas escolhas, o resultado de suas experiências passadas, em seu psiquismo e no corpo espiritual, a determinar a identidade e a orientação sexual da presente encarnação.



Wanderley Oliveira - Muitos consideram que a abstinência é uma recomendação educativa no caso de homossexualidade. O que você acha?

Andrei Moreira -  Abstinência não representa educação do desejo e da prática sexual. Contudo, pode ser uma etapa necessária em certos casos, para a disciplina dos impulsos íntimos, de heterossexuais e homossexuais, quando se percebam necessitados de controle do desejo e da prática sem limites. Também pode acontecer que tenham a condição de abstinência imposta pela misericórdia divina como recurso emergencial de salvação perante circunstâncias de abusos reiterados nessa área.

Diz Ermance Dufaux, no livro Unidos para o Amor: “Abstinência nem sempre é solução e pode ser apenas uma medida disciplinar sem que, necessariamente, signifique um ato educativo. Por educar devemos entender, sobretudo, a desenvoltura de qualidades íntimas capazes de nos habilitar ao trato moral seguro e proveitoso com a vida. (...) A questão da sexualidade é pessoal, intransferível, consciencial e a ética nesse campo passa por muitas e muitas adequações.”

O Espiritismo recomenda a todas as criaturas a conscientização a respeito da sacralidade do corpo físico e da sexualidade, como fonte criativa e criadora, destinada a ser fonte de prazer físico e espiritual, sobretudo de realização íntima para o ser humano, em todas as suas formas de expressão.

Sintetiza Emmanuel, na introdução do livro Vida e Sexo: “(...) em torno do sexo, será justo sintetizarmos todas as digressões nas normas seguintes: Não proibição, mas educação. Não abstinência imposta, mas emprego digno, com o devido respeito aos outros e a si mesmo. Não indisciplina, mas controle. Não impulso livre, mas responsabilidade (grifos nossos). Fora disso, é teorizar simplesmente, para depois aprender ou reaprender com a experiência. Sem isso, será enganar-nos, lutar sem proveito, sofrer e recomeçar a obra da sublimação pessoal, tantas vezes quantas se fizerem precisas, pelos mecanismos da reencarnação, porque a aplicação do sexo, ante a luz do amor e da vida, é assunto pertinente à consciência de cada um”.



Wanderley Oliveira - O homossexual não consegue de forma alguma ter atração por pessoa do sexo oposto ou isso pode acontecer de forma natural?

Andrei Moreira -  Segundo o relatório Kinsey, extensa pesquisa sobre o comportamento sexual humano realizada nos EUA na década de 60 do século XX, pelo biólogo Alfred Kinsey, tanto a homossexualidade como a heterossexualidade absoluta são condições raras em nossa sociedade. A grande maioria das pessoas tem uma condição de desejo predominante, em graus variáveis. Por exemplo, uma pessoa pode ser 80% heterossexual e 20% homossexual ou vice-versa. É natural, portanto, que uma atração heterossexual possa ocorrer na vida de um indivíduo homossexual, o que muitas vezes é entendido pelo leigo como “cura” da homossexualidade.

Emmanuel nos esclarece a respeito dessa realidade no livro Vida e Sexo, cap.21: “através de milênios e milênios, o Espírito passa por fileira imensa de reencarnações, ora em posição de feminilidade, ora em condições de masculinidade, o que sedimenta o fenômeno da bissexualidade, mais ou menos pronunciado, em quase todas as criaturas. O homem e a mulher serão, desse modo, de maneira respectiva, acentuadamente masculino ou acentuadamente feminina, sem especificação psicológica absoluta.”

Podemos compreender assim que todos os indivíduos trazem em sua intimidade a possibilidade de se sentirem atraídos e se apaixonarem por alguém do mesmo sexo (afinal de contas, a pessoa se apaixona por um indivíduo completo, e não pelo seu corpo apenas). Isso não significa que vá ou necessite viver essa situação.  O psiquismo atende e responde ao impulso do espírito, que é assexuado, mas que cumpre programas específicos em um ou outro sexo, conforme definição anterior e necessidade evolutiva, inserido em um contexto sociocultural que o limita na percepção e expressão do que vai em sua intimidade profunda.

Wanderley Oliveira - Homem ou mulher que tenham fantasias com pessoas do mesmo sexo podem ser considerados homossexuais?

Andrei Moreira -  Na adolescência as experiências homossexuais são naturais, definidas pela psicologia como experiências de experimentação de uma identidade sexual em formação; não atestam, necessariamente, a orientação homossexual. Já no adulto a fantasia é uma das formas de expressão do desejo e da atração homoafetiva e atestam a intimidade da criatura, mesmo que não sejam aceitas pela personalidade consciente.



Wanderley Oliveira -  Qual sua avaliação sobre como a comunidade espírita trata a homossexualidade?

Andrei Moreira -  Em geral, observamos uma abordagem superficial e discriminatória por parte da comunidade espírita com os homossexuais e a homossexualidade. É compreensível que seja assim, pois todo meio religioso lida com idealizações e preconceitos seculares. Todavia, tal postura pode ser modificada por meio do que recomenda Allan Kardec: estudo sério e aprofundado de um tema para que se possa opinar sobre ele. É lamentável que nós, adeptos de uma fé raciocinada, nos permitamos o mesmo comportamento dos religiosos fundamentalistas.

Observa-se muita opinião pessoal sem fundamento tomada como regra e lei. Tais opiniões costumam ser destituídas de compaixão e amorosidade terminam por isolar o indivíduo homossexual, tachando-o de doente, perturbado, promíscuo e/ou obsediado. Às vezes ele é até mesmo afastado das atividades espíritas habituais, como se fosse portador de grave moléstia que devesse receber reprovação e crítica por parte da parcela heterossexual “normal” da sociedade. Tais posturas são frequentemente embasadas no tradicional preconceito judaico-cristão-ocidental de que a única e exclusiva função da sexualidade é a procriação humana, tomando a parte pelo todo.

O Espiritismo é uma doutrina livre e libertária, compromissada com o entendimento da natureza íntima do ser humano e o progresso espiritual. Nos dá bases muito ricas de entendimento do psiquismo e da sexualidade do espírito imortal, como instrumentos divinos dados por Deus ao homem para seu aprimoramento e felicidade. Além disso, nos oferece esclarecimento a respeito das condições e situações determinadas pela liberdade do homem, que desvia esses instrumentos superiores de suas funções sagradas.

É imprescindível que se extinga em nosso movimento o preconceito e que os homossexuais tenham campo de trabalho, se dediquem ao estudo e à prática da doutrina espírita, com a mesma naturalidade de heterossexuais. Isso, para que compreendam o papel de sua condição em seu momento evolutivo e a utilizem com respeito e dignidade com vistas ao equacionamento dos dramas internos, ao cumprimento dos planos de trabalho específicos em sua proposta encarnatória e ao seu progresso pessoal, da família e da sociedade da qual faz parte, da mesma maneira como deve fazer o heterossexual. 

 

Wanderley Oliveira -  Como devem se comportar os pais espíritas de um indivíduo que se descubra homossexual?

Andrei Moreira -  Aos pais de uma pessoa homossexual cabe o acolhimento integral e amoroso do indivíduo, com aceitação de sua condição, que nada mais é que uma das características da personalidade. Ser homossexual não é sinônimo de ser promíscuo, inferior, afeminado (para homens) ou masculinizado (para mulheres). Simplesmente atesta que o indivíduo se realiza sexual e afetivamente no encontro entre iguais. A pessoa homossexual deve receber a mesma instrução e educação a respeito da sexualidade que os heterossexuais, a fim de bem direcionar as suas energias e esforços no sentido da construção do afeto com quem eleja como parceiro (a). A postura na vivência da sexualidade, para homossexuais, deve ser a mesma aconselhada pelos espíritos a heterossexuais: dignidade, respeito a si mesmo e ao outro,  valorização da família, da parceria afetiva profunda no casamento e dedicação da energia sexual criativa em benefício da comunidade em que está  inserido.


O acolhimento amoroso da família é fundamental para que o indivíduo homossexual possa se aceitar, se compreender, entendendo o papel dessa condição em sua vida atual, e para que se sinta digno e responsável perante suas escolhas. A luta, para aqueles que vivem essa condição, é grande, a fim de afirmar a sua autoestima em uma sociedade que banaliza a condição sexual e vulgariza a diferença. A família é o núcleo onde se encontram corações compromissados em projetos reencarnatórios comuns, com vínculos pessoais de cada um com o passado daqueles que com eles convivem, devendo ser cada membro dessa célula da sociedade, um esteio para que o melhor do outro venha à tona, por meio da experiência amorosa.

Os pais de homossexuais poderão ler e compartilhar interessantes experiências de outros pais no site e nos livros de Edith Modesto: https://www.gph.org.br e Livros em: https://www.gph.org.br/publica.asp



Wanderley Oliveira -  Gostaria de acrescentar algo?

Andrei Moreira -  Romanos 14:14 “Eu sei, e estou certo no Senhor Jesus, que nada é de si mesmo imundo a não ser para aquele que assim o considera; para esse é imundo.”

Todas as experiências evolutivas onde estejam presentes o autorrespeito, a autoconsideração, a autovalorização e o autoamor são experiências evolutivas promotoras de progresso e evolução, pois aquele que se oferece essas condições naturalmente as estende ao outro na vida. A homossexualidade, independentemente da forma como se haja estruturado como condição evolutiva momentânea do indivíduo, pode ser vivenciada com dignidade e ser um rico campo de experimentação do afeto e construção do amor, desde que aqueles que a vivam se lembrem de que são espíritos imortais e de que a vida na matéria é tempo de plantio para a eternidade, no terreno do sentimento e das conquistas evolutivas propiciadas pelo amor, em qualquer de suas infinitas manifestações.

Diz-nos Emmanuel no livro "Vida e Sexo", lição 21 – Homossexualidade, ed. Feb:
“A coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos ou a deprime pelo mal que causa com a parte que assume no jogo da delinqüência.”

E complementa André Luiz, no livro Sexo e destino –  Cap. 5,  pág 155 - ed. Feb:
“(...) no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignidade humana, reparando-se as injustiças achacadas, há séculos, contra aqueles que renascem sofrendo particularidades anômalas, porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade humana lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir incessantemente para viver, sob o sol que a Bondade Divina acendeu em benefício de todos.”
Para saber mais:
Indico, entre outros, os seguintes livros espíritas, com abordagens responsáveis e bem fundamentadas sobre o assunto:

1- Vida e sexo, Emmanuel/Chico Xavier, em especial cap. 21 - ed. Feb
2- Sexo e destino  e Ação e reação - ambos de André Luiz/Chico Xavier - ed. feb
3- Além do Rosa e do Azul - Gibson Bastos - Ed. Celd
4- O Preço de ser Diferente (romance) - Ed. Vida e Consciência
5- Quem Perdoa, Liberta – José Mário/Wanderley Oliveira – Capítulo: "Homoafetividade e Mediunidade"



* Wanderley Oliveira é Terapeuta Master e Practitioner em PNL, médium e palestrante espírita de Belo Horizonte. Visite o seu trabalho no site: www.wanderleyoliveira.com.br ou escreva para coachenergetico@wanderleyoliveira.com.br Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

Entrevista publicada originalmente em : https://www.wanderleyoliveira.blog.br/ 

 

JANEIRO/2011

 

Iniciamos o Ano com uma entrevista brilhante. Um adepto do corporativismo, de uma vivência espírita voltada para a defesa da dignidade humana e da construção de uma sociedade justa, livre e fraterna, Aylton Guido Coimbra Paiva, 73 anos, vê no espiritismo um grande aliado na construção de um mundo melhor: “com sua doutrina social, tem uma grande contribuição a oferecer para a melhoria espiritual e social da humanidade”. Bacharel em direito, agente fiscal de rendas aposentado e escritor.

 

“O espiritismo rompeu o “ninho do centro espírita”

 

PENSE (P) - Seus primeiros artigos, publicados em periódicos espíritas nos anos 1970, tinham como tema recorrente o cooperativismo, sistema de produção que você defendia na época. Qual sua opinião hoje? Foi o espiritismo que lhe inspirou em defender essa forma de produção?

Aylton Paiva (AP) - Sim, essa visão ocorreu-me lendo livros sobre cooperativismo e espiritismo. A partir da leitura e reflexão sobre O Livro dos Espíritos, especialmente em sua Terceira Parte - Das Leis Morais, conscientizei-me a respeito do cooperativismo, da justiça, da solidariedade e do amor. Acho que o sistema de produção pelo cooperativismo é um passo adiante do atual sistema econômico em que ainda vivemos.

(P) - O livro Espiritismo e Política, lançado no início dos anos 1980, não foi visto com muita simpatia por amplos setores do movimento espírita, de mentalidade mais conservadora. Era um país recém-saído da ditadura militar com a retomada das lutas democráticas e da cidadania perdida. Hoje, passados quase 30 anos, o que mudou em seu pensamento político? O lançamento deste livro, hoje, causaria a mesma polêmica?

(AP) - O meu pensamento político prossegue balizado pelos conceitos emitidos pelos mentores espirituais, organizados e sistematizados por Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, em sua parte terceira: Das Leis Morais.
Quanto à outra questão, acredito que não. Ainda é grande o desconhecimento do que seja a política como a arte e a ciência da administração justa para o bem comum. Entre os cidadãos e, consequentemente, entre os espíritas é comum a confusão entre a política como ciência social, a política partidária e a “politicalha” exercitada por pessoas e ou grupos inescrupulosos movidos pelo egoísmo individual e coletivo.
O avanço haverá de se realizar com o desenvolvimento da educação e da cultura com o exercício da cidadania; o que, embora timidamente, já vem sendo feito.

(P) - O trabalho social do espiritismo no Brasil desde que surgiu por aqui tem sido o assistencialismo. E os espíritas são justamente respeitados pela sociedade brasileira também por esse trabalho social. Como você vê essa atuação social? É possível avançar? É possível desenvolver um trabalho que aproxime o espiritismo de movimentos como o Greenpeace, ONGs e organismos alternativos não-estatais?

(AP) - A prática do chamado assistencialismo, da assistência e da promoção e a ação social precisam ser vistos em um panorama histórico, econômico, social e político, não só em momentos que já se foram, mas que, ainda, existem em determinados segmentos sociais e regiões geopolíticas.
Somente com a Constituição da República Federativa do Brasil, em l988 é que tivemos o assistencialismo estatal (quando aparecia) transformado no direito do cidadão e de dever do Estado, pelo artigo 203, disciplinado na Lei nº 8.742/1993 - LOAS, artigo 1º: “A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado...”.
Acho que o movimento espírita se aproxima do Greenpeace, ONGs e outros organismos sociais alternativos, não estatais, quando ele atua para a preservação da vida no planeta, para suprir as omissões ou deficiências do Estado: nas áreas da saúde, da educação e de prover os “mínimos sociais” necessários aos cidadãos.

(P) - Como você analisa essa atual valorização do trabalho voluntário e do chamado Terceiro Setor? Que experiência acumulada tem o espiritismo para oferecer uma contribuição nesse contexto?

(AP) - É importante a atuação e valorização do trabalho voluntário e do Terceiro Setor para suprir, até o momento, as deficiências do Estado que não atende adequadamente aos direitos dos cidadãos nas áreas da saúde, da educação, da assistência social, da segurança, da segurança alimentar e da habitação.
O movimento espírita, no sentido amplo, e o organizado, ao longo de sua história, veem desenvolvendo esse trabalho suplementar. Conta, por consequência, com muita experiência acumulada, embasada no princípio da solidariedade. Por isso, surgiram hospitais, escolas, lares sociais que acolhem crianças e idosos; e os espíritas, por conta dessa vivência e experiências, já oferecem suas contribuições aos conselhos municipais, estaduais e federais, em diversas áreas como: da infância e juventude, da saúde, da educação, do idoso, da segurança e outros. E devem intensificar, cada vez mais, essa contribuição.

(P) - Suas análises da questão política e social fundamentam-se principalmente nas Leis Morais de O Livro dos Espíritos. Você acha que esse conteúdo ético é suficiente para um estudo mais aprofundado da questão política e social sob a ótica espírita? Qual sua opinião a respeito das referências que faz Kardec à temática social em A Gênese e em Obras Póstumas?

(AP) - De fato, nossa análise da questão social com base no espiritismo, está fundamentada na terceira parte de O Livro dos Espíritos - Das Leis Morais. O conteúdo é balizador das reflexões nessa área. As outras obras são complementares no sentido de detalhar, particularizar os conceitos ali expressos pelos mentores espirituais que estruturaram a Doutrina Social Espírita e aí, as reflexões e comentários de Allan Kardec, emitidos no próprio O Livro dos Espíritos, tanto quanto em A Gênese e Obras Póstumas, são imprescindíveis para a amplitude de entendimento.

(P) - Nos últimos anos, várias novelas, filmes, séries e minisséries têm o espiritismo como tema central. Qual sua opinião a respeito? Isso é positivo para a divulgação espírita ou é apenas um modismo, uma questão de mercado, de obtenção de lucro?

(AP) - Isso significa que, como esperava Allan Kardec, os conceitos espíritas sobre a reencarnação, comunicabilidade dos espíritos, lei de ação e reação, a evolução espiritual já estão no contexto da sociedade brasileira e são pensados por pessoas que não se dizem espíritas e nem frequentam centros espíritas.
O espiritismo já rompeu o “ninho do Centro Espírita”, voa livre para pousar nas consciências que desejarem a vivência espiritual livre, racional e norteada por elevados e nobres princípios.
É claro que em um contexto social alimentado pela economia capitalista há aqueles que buscam associar, por exemplo, o livro espírita ao lucro que advem da sua venda. Podemos observar que já existem empresas e editoras não espíritas ou pseudo-espiritas com esse foco.

(P) - A atuação social junto ao chamado movimento espírita unificado tem tido resultado prático? A burocracia e a timidez institucional das federativas e entidades coordenadoras do espiritismo não são um obstáculo muito forte?

(AP) - Sim, a atuação social junto ao movimento espírita organizado tem produzido resultados práticos no sentido de esclarecer, orientar e ajudar na aplicação da teoria espírita na prática espírita, pelos centros e entidades espíritas que lhes são adesas. No momento, por exemplo, em um trabalho da nossa federativa USE-São Paulo, pelo Departamento de Assistência e Promoção Social Espírita, trabalho na divulgação, estudo e aplicação do Manual de Apoio ao Serviço de Assistência e Promoção Social Espírita que foi elaborado com a contribuição da Área de Assistência e Promoção Social Espírita das federações que compõem o Conselho Federativo Nacional.
Então, não é um trabalho personalístico e autoritário, mas democrático e participativo no qual todas as federações deram as suas contribuições, inclusive a nossa federativa USE-São Paulo, como instrumento de ajuda aos centros e entidades espíritas que, livremente, poderão dele fazer uso.
Quanto à segunda questão, não vejo burocracia e timidez institucional nas federativas e entidades coordenadoras que se erijam como obstáculo. Obviamente, ao se organizar com a adesão de centros e entidade espíritas precisam se estruturar e ter ações que são necessárias. O excesso de organização e controle é que estabelecerá a burocracia, que, obviamente, será dispensável.
As federações têm um trabalho muito importante na preservação dos postulados básicos do espiritismo, conforme a organização e sistematização feita por Allan Kardec.
Como já me expressei, esses “conceitos” ganharam “as ruas” e a eles podem tentar acoplar distorções, preconceitos e elementos do sincretismo religioso, próprios da cultura brasileira. Destarte, as federações precisam zelar pela fonte cristalina donde emana o espiritismo; e assim sendo, aquelas pessoas que quiserem encontrá-lo em sua limpidez terão possibilidade de defrontá-lo em sua fonte original.

(P) - Você acha hoje viável um movimento espírita universitário como foi o MUE (Movimento Universitário Espírita) nos anos 60 e o NEU (Núcleo Espírita Universitário) nos anos 80/90? Qual deveria ser o perfil dessa atuação acadêmica dos jovens universitários espíritas?

(AP) - Eu penso que os estudantes universitários, os espíritas com títulos universitários, ao lado de pedreiros, mecânicos, professores, enfim todos os profissionais, independentemente do seu nível educacional, devem se integrar no movimento espírita e oferecer as suas contribuições, sem arrogância, pedantismo ou autoritarismo. Deverão participar e partilhar da necessária construção pessoal e social que o espiritismo propõe.

(P) - Você foi um dos expositores e participantes do I Encontro Nacional Sobre a Doutrina Social Espírita realizado em Santos, em 1985. Hoje, que avaliação você faz desse movimento? Por que não temos mais iniciativas como essa no espiritismo? O que mudou na sociedade e no movimento espírita?

(AP) - A humanidade e a sociedade passam por fases históricas. Hoje não há mais o movimento para as “diretas já”, jovens com o rosto pintado com as cores da nossa bandeira, palanques e discursos; surgiu em uma época, por necessidades daquele momento. Igualmente, entendo que os espíritas comprometidos com a visão social do espiritismo continuam agindo e atuando, hoje, dentro de outro contexto e outra realidade.
Desde aquela época até hoje não deixei de achar que o espiritismo, com sua doutrina social, tem uma grande contribuição a oferecer para a melhoria espiritual e social da humanidade e, no meu cantinho insignificante e com parcos recursos, continuo, diariamente, trabalhando pelo mesmo sonho ou ideal.

(P) - O mundo está melhor? Você é otimista em relação à busca de um mundo sem desigualdades, livre e solidário? Que contribuição pode dar o espiritismo para a construção desse mundo melhor?

(AP) - Acho que o mundo está melhor. Sinto que ele melhora dia a dia. Eu acredito e vivo a evolução pessoal e coletiva da humanidade. Quem tem “olhos para ver” observará que as leis, instituições e agentes sociais melhoram progressiva e constantemente.
A criança não atinge a maioridade de inopino. A nossa humanidade vai passando, também, por seus estágios. Talvez, esteja agora na sua pré-adolescência, todavia, ela prosseguirá no seu desenvolvimento e quem sabe não estaremos muito longe do planeta de regeneração como anunciaram os espíritos. Lembremos, porém, que esse tempo pode ser considerado no tempo cósmico. Todavia, o trabalho para a sua concretização é de hoje.
Por derradeiro, agradeço-lhe a atenção e a oportunidade para expressar os pensamentos acima.


(PENSE - PENSAMENTO SOCIAL ESPíRITA - AGOSTO/2010)

 

DEZEMBRO/2010

 

Este mês, nós apresentamos entrevista com o versátil no universo de dedicação à causa espírita, o publicitário pernambucano Frederico Menezes, que também é escritor, orador espírita há vinte e nove anos, além de manter diversos trabalhos de assistência social, que nos fala sobre aspectos mais solicitados nas temáticas: família, juventude, relacionamentos em geral e comportamentos.

 

RIE - Quais os principais desafios da juventude atual?
Frederico Menezes - Como para qualquer faixa de idade, buscar o equilíbrio da postura de vida. Estar inserido no mundo sem se escravizar aos apelos imediatistas do mundo, vencendo o hedonismo, buscando valores mais profundos, relacionados à nossa natureza espiritual. Sem dúvida, encontrar o sentimento de que a felicidade inicia no ponto em que somos para com os outros como gostaríamos que eles fossem para conosco. Os jovens, com o seu extraordinário poder transformador, devem enfrentar o desafio de conhecer-se a si mesmo, investido numa consciência ética apurada, num humanismo prático e praticado e em um profundo respeito a si mesmo e aos outros. Viver em si o que esperam encontrar na sociedade: amor, justiça e respeito à vida.

RIE -   Como pais e filhos devem agir para contornar conflitos oriundos de drogas, aborto, liberdade sexual etc?
Frederico Menezes – Estabelecendo a permanente prática do diálogo, com abertura mental, a fim de encontrar-se as pontes para que os pais alcancem as dificuldades dos filhos e estes possam contar com a orientação de que necessitam para superação dos seus conflitos, dependências e entendimento quanto à imensa responsabilidade que existe  no exercício da sexualidade. Onde exista um ambiente em que o respeito à vida pontifica, por exemplo, fica mais fácil esclarecer a questão do aborto, ampliando a consciência do jovem quanto a presença de um espírito no óvulo fecundado. Num lar em que questões da ética elevada pontifica habitualmente, a conversação sobre tais temas e dificuldades flui com mais segurança.

RIE -   Que tipo de educação os pais devem ministrar na infância para prevenir desvios comportamentais na juventude?
Frederico Menezes - Creio que a proposta imbatível de educação está perfeitamente delineada no Evangelho de Jesus. A estrutura pedagógica, que deflui de cada enunciado do Mestre, cintila como sublime roteiro para nossas crianças, almas que retornam às lutas terrenas com suas imperfeições e necessidades morais, exigindo dos pais, para bem cumprir a tarefa que lhe cabe, a observação atenta às tendências que os filhos apresentam. O Espiritismo, que revive tão extraordinária estrutura para o aperfeiçoamento do ser humano, traz para maior proximidade da realidade de nossas crianças e jovens a mensagem poderosa, libertadora, extremamente atual da boa nova. Meditando nessa proposta magnífica, saberemos colocar limites, energia e firmeza, sem abdicar, naturalmente, do amor, do carinho e da ternura que caracterizam nosso melhor sentimento. Criança respeitada cresce valorizando o respeito. E percebe o zelo amoroso, com o tempo, nas atitudes dos pais, ao dizerem um não aos seus pedidos. A correção da planta tenra propiciará a árvore frondosa do amanhã.

RIE -   E a evangelização infanto-juvenil, como deve ser aplicada? Fale sobre o papel dos evangelizadores.
Frederico Menezes -  É, no nosso entender, a grande tarefa da mensagem espírita. Nas esferas superiores são organizados os serviços da evangelização da criança e do jovem. As instituições espíritas, no entanto, devem se qualificar adequadamente, para que possam  apresentar uma evangelização dinâmica, atraente, motivadora, à altura das exigências das crianças e dos jovens da atualidade. O papel do evangelizador é o do facilitador do processo de internalização do evangelho. Óbvio que nossos evangelizadores sabem da imensa força que possui o exemplo que, acompanhado por recursos e técnicas adequadas, será capaz de mover a alma da criança e do jovem na direção das excelências do evangelho. Observamos, com alegria, os esforços encetados para  a implantação dessas atividades em inúmeras casas espíritas, que devem buscar oferecer a melhor infraestrutura física e preparação dos seus recursos humanos, a fim de alcançar o êxito esperado pelo Mundo Maior.

RIE -   Observamos os jovens um tanto atordoados, conforme análise de muitos especialistas. Como entender o momento vivido pela juventude?
Frederico Menezes - Vivemos um momento de transição do planeta e lamentavelmente tanto os jovens como os adultos apresentam-se prisioneiros de insegurança íntima e, consequentemente, com problemas emocionais que interferem na qualidade de vida e na saúde. A relação visceral entre nossa situação mental e emocional e a saúde está cada vez mais explicitada pela medicina. A falta de educação espiritual, a ausência de compreensão à respeito da nossa natureza  espiritual e consequentemente a crise ético-moral respondem por este desnorteamento e conturbação pelo qual passa a humanidade.

RIE -   Você falou sobre estado emocional. Que contribuição o Espiritismo oferece nesse âmbito?
Frederico Menezes -  A linha de abordagem da ciência vem não só apoiando como vem confirmando diversas assertivas da revelação espírita quanto ao que é verdadeira saúde. Não por acaso vem crescendo o número de psicólogos e psiquiatras espíritas e a chamada psicologia transpessoal, cada vez mais estreita sua afinidade com o pensamento espírita. Nós somos energia e esta energia pensante emite um campo energético em torno e que, ao irradiar-se, influencia o organismo físico em toda sua integralidade: sistema hormonal, estrutura celular, sistema imunológico. O Espiritismo conecta a criatura ao pensamento de Jesus, atestando que a harmonia do ser para com a Lei de Deus, cujo reino está dentro de nós, e promove, então, um estado saudável no sentido mais profundo da palavra. Ao curar, o Mestre enfatizava: Vai e não tornes a pecar. O estado de equilíbrio da criatura exerce influência decisiva na condução de nossa saúde.

RIE -   E a família nesse contexto? Como podemos observar sua participação?
Frederico Menezes -  A família é fundamental para um ser humano saudável, um ser humano melhor. Creio que isto dá uma amostragem da magnitude  do grupo familiar. Um lar constituído por sentimentos nobres, valores mais espiritualizados, diálogo e respeito a tudo o que for ético, promove o desenvolvimento do cidadão, do indivíduo imortal. Sendo a célula estrutural da sociedade não podemos prescindir dela dentro do objetivo de termos uma sociedade formada por crianças, jovens e adultos moralizados, viabilizando um mundo mais justo, o mundo melhor que  desejamos.

RIE – O que o inspirou a criar uma instituição espírita, na linha filantrópica?
Frederico Menezes - Ao lado de vários amigos, companheiros dedicados do nosso ideal, temos procurado atingir a meta da promoção social dos nossos assistidos. E porque não vejo a tarefa espírita distante da comunidade, do povo com suas inúmeras necessidades, sem qualquer pretensão de substituir o poder público no que lhe compete. Afinal casa espírita tem perfeitamente delineado que sua tarefa primordial é a difusão da grande mensagem. Pois bem, temos atendido crianças e jovens na área educacional, bem como seus pais, ofertando a ação emergencial, porém buscando as saídas para que os assistidos possam reordenar suas vidas, inclusive com o conhecimento da doutrina espírita. Numa dessas ações emergenciais já conseguimos reinserir no grupo familiar alguns dos que recebem a sopa do nosso grupo da ronda  noturna.

RIE – Faça um histórico da instituição (nome, objetivo, funcionamento, o que oferece, que público contempla).
Frederico Menezes – Criamos no ano de 2001 a Sociedade Espírita Casa do Caminho. Entre as diversas atividades da casa, já corriqueiras numa instituição espírita, tais como reunião pública, passes, evangelização, temos ainda trabalhos sociais em três comunidades extremamente carentes de nossa cidade  Cabo de Santo Agostinho (PE). São atividades médicas, cursos profissionalizantes, visita aos barracos para atualizar as necessidades dos assistidos, além de um trabalho desenvolvido no município de Goiânia, próximo da divisa com a Paraíba, que intitulamos Núcleo de Apoio Cristão Casa do Caminho. Fundamos, também, há mais de dez anos, a Fundação Lar do Amanhã, ao lado do cantor Nando Cordel, que está à frente dessa instituição que  atende cerca de 116 crianças na atualidade. Sinto-me feliz por poder estar participando dessas atividades extremamente gratificantes.

RIE – E com relação à sua produção literária, como vai?
Frederico Menezes – Já publiquei 13 livros, dentre eles “Ajuda-te”, “A Luz da Morte”, “O Amor Agradece”, “A Outra Vez em que Morri”, “Luz para a vida sem fim” e “Os Filhos de Lázaro”, além de ter lançado diversos DVDs e CDs. Estamos completando 29 anos de serviços na oratória espírita e mantemos diversos trabalhos sociais ao lado dos companheiros de ideal.

RIE – Deixe uma mensagem especial para a juventude.
Frederico Menezes – Aos nossos jovens, se eu pudesse deixar algo que lhes estimulasse a caminhada, diria que vale à pena amar, buscar os valores espirituais. Vale acreditar no ser humano e na grandeza da vida. Vale que nos movimentemos para semear felicidade, esperança e paz. Recordando o nosso caro Chico Xavier, repetimos com o notável médium de Pedro Leopoldo: vivamos o inesquecível apelo de Jesus – amemo-nos uns aos outros. Obrigado à esta querida revista a honra de expressar em suas respeitadas páginas, nossos pensamentos e sentimentos.

 

NOVEMBRO/2010

Agora em Novembro, temos o prazer de apresentar entrevista com Divaldo Pereira Franco,um dos maiores médiuns e oradores Espíritas da atualidade e o maior divulgador da Doutrina Espírita por todo o Mundo.

 

"A VIDA PROPÕE O CRESCIMENTO INTERIOR"

 

Revista de Espiritismo - Quais as possíveis conseqüências para o autor de abusos sexuais?

Divaldo Franco - Todo e qualquer atentado que o homem perpetra gera-lhe em conseqüência distúrbios na área correspondente. É natural, portanto, que os abusos de ordem sexual de uma existência ressurjam em expressão de limite ou de conflito numa nova experiência carnal. Seria difícil definir como se manifestará o impositivo da Lei, já que inúmeros fatores constituem atenuantes ou agravantes, que somente a Consciência Cósmica pode avaliar. Igualmente, os efeitos do mau uso não se dão necessariamente de imediato, tendo-se em vista que não há nos códigos divinos determinações punitivas, mas atitudes que facultam a reparação do equívoco, propondo crescimento interior. A verdade irrefragável é que ninguém viola as leis de equilíbrio sem sofrer-lhe os efeitos dolorosos.

RE - Passando o planeta Terra a mundo de regeneração, que alterações terá de fazer ao seu modus vivendi (alimentação, hábitos)?

DF - Naturalmente escapam-nos as ocorrências que terão lugar no porvir da humanidade. O que podemos sentir é que na Era Nova o sofrimento não mais constituirá uma forma de espada de Dâmocles oscilando sobre as nossas cabeças, em ameaça constante de aflição e dor. A Terra terá as suas condições climatéricas mais harmônicas, sem os frios congeladores nem os calores tórridos, porque o próprio planeta experimentará modificações estruturais, facultando aos seus habitantes menos angústias e padecimentos. Da mesma forma, a qualidade moral das pessoas estará modificada para melhor e o relacionamento dos seres estará trabalhado na verdadeira fraternidade. É lógico que a alimentação será mais compatível com o amor aos seres vivos, particularmente os animais, nossos irmãos em processo de evolução, ocupando momentaneamente posição inferior na escala do progresso. A ciência e a tecnologia desenvolverão recursos nutrientes mais consentâneos com a organização fisiológica mais delicada, porquanto menos carregada de vibrações deletérias, tendo-se em vista a psicosfera vigente.

Os hábitos serão saudáveis, a crueldade, as guerras, os ódios, as traições, os crimes, a violência, os ressentimentos, e outros males que caracterizam o nosso atraso moral, passarão a figuras de museu, onde o futuro lerá as páginas primitivas do nosso estágio atual.

RE - O problema das vacas loucas poderá ser um alerta para a necessidade do homem investir noutras áreas da alimentação?

DF - Sem dúvida. Estamos a ser convidados a uma análise mais profunda a respeito dos nossos hábitos alimentares, passando a alterar o nosso comportamento nessa como em outras áreas por onde nos movimentamos.

Quando a Divindade deseja modificar a estrutura comportamental dos seres humanos faculta que determinadas ocorrências tenham lugar, de forma que os mesmos se dêem conta da sua fragilidade diante da vida e passem a reflexionar melhor sobre a sua transitória organização física. A Terra dispõe de recursos, alguns ainda inexplorados, para atender às necessidades de todos aqueles que a habitam, sem a necessidade premente dos matadouros...

RE - Que acontecerá aos cerca de 30 bilhões de espíritos que são inquilinos da Terra?

DF - As tradições espirituais asseveram que a população do planeta terrestre seria de cerca de 28 bilhões de espíritos que, através dos milênios vêm desenvolvendo as suas aptidões e avançando no rumo da grande luz. Considerando-se a infinidade de mundos no Universo, o processo da evolução não se restringe apenas à Terra. Desse modo, quando adquirirem elevação intelecto-moral poderão continuar no nosso planeta, à medida que ele cresça e se transforme, como poderão habitar outros mundos mais felizes, conforme acentuou Jesus: na Casa do Pai há muitas moradas.

Todo esse processo dá-se através das leis naturais de afinidades e de sintonia. O mundo espiritual superior utiliza os valores que cada espírito possui e, graças à irradiação psíquica, por intermédio de vibrações que se harmonizam são expulsos, qual ocorreu com os nossos primeiros habitantes mais intelectualizados, que teriam vindo de outro sistema, ou são promovidos. Não há repouso, no sentido de paralisia, inutilidade, na obra de Deus.

RE - Que ilações tirar do 1.º Congresso Espírita Mundial, que teve como tema «O Centro Espírita»?

DF - Os espíritas descobriram que se encontram em condições de promover o progresso da sociedade, desde que reúnam pessoas de 32 países em Brasília, a fim de estudarem o centro espírita e as suas implicações no conceito social, ampliando os horizontes do trabalho em favor de toda a humanidade.

Verificamos o amadurecimento psicológico com que transitamos no momento, podendo desenvolver um labor de fraternidade e de esclarecimento como dantes jamais houvera acontecido. Atingimos, dessa forma, a fase pressentida por Allan Kardec, na qual o espiritismo contribuiria para a renovação social.

RE - Qual será o impacto que o espiritismo terá na sociedade do futuro? Algumas pessoas sonham com a possibilidade do planeta se tornar num centro espírita: não será isso um pouco de presunção?

DF - Como previu o codificador, mudar as paisagens morais do planeta mediante a transformação moral das criaturas, demonstrando-lhes a imortalidade, confirmando-lhe o processo dos renascimentos corporais, mediante os quais se evolui e, por efeito, a vivência de um comportamento perfeitamente concordante com as propostas de Jesus, a respeito do amor. É certo que isso não se dará de um para outro momento, senão pelo processo habitual estabelecido pela própria evolução.

Acredito que a possibilidade de o planeta se tornar num centro espírita não passa de um sonho profundamente fanático, eliminando a hipótese do crescimento moral da criatura sem determinado tipo de rotulagem. O espiritismo preconiza a liberdade de consciência de todos os indivíduos, que podem evoluir também mediante outras filosofias de vida e doutrinas religiosas, desde que sejam coerentes com aquilo em que acreditam, e que se resolvam pela transformação moral para melhor. Allan Kardec ensinou que o espiritismo completa as demais doutrinas religiosas, porque confirma o que elas preconizam nos seus pontos essenciais e completa-as aumentando a fé naqueles que já a possuem, dando-a àqueles que não a têm.

RE - Quais são as falhas dos movimentos espíritas, e o que poderiam fazer para remediar essas lacunas?

DF - Seria presunção, de minha parte, colocar-me em posição de apontar erros e falhas nos movimentos espíritas, considerando que somos todos aprendizes da vida e que tudo aquilo que hoje constitui equívoco, logo mais se transforma em experiência, aprendizagem, amadurecimento.

No entanto, o codificador da doutrina asseverou que o maior adversário do espiritismo, capaz de perturbar-lhe a marcha, seria a falta de unidade, assim como Léon Denis escreveu que o espiritismo será o que dele fizerem os homens.

RE - Havendo tanta procura de espiritismo e havendo tão pouca preparação no atendimento às pessoas, nos centros, existem alternativas?

DF - Devemos considerar que o movimento espírita é ainda muito jovem, portador, portanto das dificuldades de qualquer ação em começo, não sendo justo exigirmos qualidade superior às possibilidades de pessoas e grupos, talvez ainda desinformados da excelência da doutrina espírita. Por isso mesmo os órgãos federativos empenham-se em melhor qualificar os centros, de modo a poderem atender com mais eficiência àqueles que os buscam. O convite ao estudo sistematizado da doutrina deve ser uma constante nas atividades espíritas, apesar da reação daqueles que se acreditam conhecedores de toda a verdade, o que lhes denota a imensa ignorância.

A melhor maneira, portanto, de auxiliar as pessoas que se dizem desencantadas com determinados centros é convidá-las à vivência correta da mensagem, deixando de lado o que lhes pareça censurável e que as teria decepcionado, sugerindo que, ao invés de beneficiárias, já que possuem tão bem formada visão do conteúdo do espiritismo, passem à condição de benfeitoras. É muito fácil esperar-se bom atendimento, assistência constante; no entanto, dispensá-los a quem chega é muito mais difícil.

RE - Está no carma dos terrenos passarem por uma nova guerra mundial?

DF - A ninguém, na Terra, é lícito prever algo desse porte, porquanto o comportamento das pessoas em particular e das nações em geral modifica, a cada instante, o destino do planeta. No entanto, devemos ter sempre em mente que Jesus vela pela nau terrestre e conforme responderam os espíritos ao codificador, a guerra, quando necessária, tem por objetivo promover o progresso, desde que as criaturas, não se permitindo crescer pelo amor, são convidadas a fazê-lo pelo sofrimento que a si mesmas se impõem.

RE - Quais são as áreas prioritárias da divulgação doutrinária de um modo geral e em Portugal em particular?

DF - Penso que a divulgação do espiritismo é dever de todos aqueles que o abraçam, como indivíduos ou como associações. Em qualquer lugar onde nos encontremos, aí está a nossa oportunidade de servir, oferecendo com elevação o pão do espírito ao espírito faminto. Ser-me-ia, portanto, muito difícil informar onde, em nosso querido Portugal, esse investimento exigiria maior esforço.

RE - Como médium já assistiu ao desenlace de alguém a ponto de o poder descrever?

DF - Na longa jornada mediúnica nesta existência tem-me sido uma constante acompanhar pacientes terminais e vê-los partirem da Terra. Cada caso é uma experiência muito pessoal, variando, dessa forma, de pessoa para pessoa. Entretanto, as ocorrências habituais - quando se trata de indivíduos de conduta saudável, elucidados quanto ao fenômeno da morte - caracterizam-se pela irrestrita confiança em Deus, assistidos pelos bons espíritos, que sempre trazem técnicos em desencarnação para impedirem o choque da desencarnação e que começam o processo do desprendimento, liberando o perispírito pelos chakras menos nobres, que dizem respeito às extremidades do corpo, e, lentamente, culminam com o desvinculamento do coronário. Dá-me, às vezes, a sensação de que o espírito, à semelhança de um balão, ao ser liberado dos pés, pernas, coxas e vai flutuando no ar até ficar totalmente de pé, quando passa a experimentar a nova gravidade, assim recuperando a postura convencional. Alguns permanecem no recinto algo aturdidos, acompanham as exéquias fúnebres, o sepultamento, quando então são conduzidos à erraticidade.

No entanto, quando se trata de pessoas sensualistas, imediatistas, apegadas à matéria, ignorantes da realidade do espírito, assistidas por entidades perversas, o desprendimento é muito diferente e doloroso.

RE - Como médium já visitou alguma cidade no plano espiritual?

DF - Quando estava psicografando o livro «Além da Morte», do espírito Otília Gonçalves, ela levou-me a visitar a Colônia Redenção, onde vivia. Essa comunidade encontra-se localizada na área que atende parte da cidade de Salvador, onde resido. Tive o ensejo de constatar que se tratava de uma cidade real com o mesmo aspecto da Terra, sendo, porém, mais nobre e subtil, rica de vida e de beleza. O que me chamou a atenção entre outras ocorrências foi a delicadeza das flores e a sua constituição. Advertiu-me, a amiga espiritual, que ali não se colhiam as flores, senão quando necessário, isto é, quando recém-desencarnados traziam fixados no perispírito determinados sofrimentos que demoravam. Por orientação dos mentores, o recém-chegado podia colher alguma e cheirá-la, ocorrendo, então a desmaterialização da mesma, que se transformava em medicamento balsâmico, sendo aspirada pelo paciente.

A ilação que tirei é que a vida é um todo harmônico, apresentada em diferentes níveis vibratórios, todos porém completando-se no conjunto feliz.

RE - Como médium, já efetuaram curas através de si?

DF - Todos os indivíduos, e particularmente os portadores de mediunidade, podem ser instrumentos de cura, quando em sintonia com o Divino Médico através dos seus mensageiros. Nesse aspecto, por várias vezes ocorreram experiências dessa natureza, que a discrição e a proposta de simplicidade recomendada pela doutrina nos conduzem ao silêncio. Suely Caldas Schubert, entretanto, no livro «O Semeador de Estrelas», refere-se a uma ocorrência dessa natureza muito interessante.

RE - Já alguma vez psicografou textos ao contrário? Por que fazem isso os espíritos?

DF - A minha primeira experiência nessa área ocorreu na cidade de Uberaba, em 1981, durante um programa de televisão, após ser bombardeado por perguntas de diferentes pessoas convidadas para a entrevista. O espírito Joanna de Ângelis escreveu por meu intermédio em inglês especular, isto é de trás para a frente, a fim de ser lida a mensagem com a ajuda de um espelho. Posteriormente, a façanha se repetiu na cidade de San António, no Texas (EUA), após uma conferência. Mais tarde, novamente em outra cidade, S. Pittesburg, na Florida, depois de outra conferência, mais uma vez, na residência do sr. Salim Haddad, em Elon College, na Carolina do Norte, também nos Estados Unidos da América, num 18 de Abril - data da comemoração do lançamento de «O Livro dos Espíritos». Os amigos espirituais pretendem demonstrar que não se trata de fenômeno anímico ou de telepatia, ou outro qualquer catalogado pelas doutrinas que negam a comunicabilidade dos espíritos, embora isto não signifique uma demonstração absoluta para convencer a quem quer que seja.

RE - Tem conhecimento de experiências atuais de cientistas que evidenciem as teses espíritas?

DF - No Brasil o eng.º Hernâni Guimarães Andrade tem imensa documentação em torno dos mais variados fenô9menos que oferecem evidências científicas sobre a imortalidade da alma, a reencarnação, a comunicabilidade dos espíritos, sendo dos cientistas mais respeitados da atualidade, nas áreas da parapsicologia, da psicobiofísica, da psicotrónica, e autor de muitas obras portadoras de contribuição insofismável em torno das teses espíritas. Por outro lado, psicólogos de nomeada, psiquiatras valorosos, psicanalistas admiráveis, ao criarem a chamada Quarta Força em psicologia, possuem uma volumosa e incontestável documentação em torno da imortalidade da alma, da comunicação dos espíritos, da reencarnação, das obsessões, que seria fastidioso enumerar.

O doutor Joseph Banks Rhine e a doutora Louise Rhine, considerados pais da parapsicologia, chegaram à conclusão da imortalidade da alma e da sua comunicabilidade, não obstante reconhecendo os fenômenos também como de diferentes ordens.

O célebre astrônomo Carl Sagan defendeu a tese da probabilidade de mundos habitados, utilizando cálculos matemáticos sobre a idade do Universo e o surgimento de vida em outros planetas, conforme ocorreu na Terra.

RE - Que notícias nos traz das suas últimas viagens pelo mundo, no último ano e meio?

DF - Há dois anos, embora não tenha visitado Portugal, estive duas vezes nos Estados Unidos, no Canadá, na República Dominicana, em Porto Rico, no Uruguai, na Argentina, no Paraguai, na Bolívia, na Colômbia, no México, na Guatemala, no Equador, na Suíça, por duas vezes em períodos diferentes, na Espanha, participando do seu Minicongresso Espírita na cidade de Réus, visitei também mais cinco cidades, na Áustria, na República Checa, na República Eslava, na Alemanha, na Suécia, na Noruega, na Dinamarca, na Inglaterra, na Escócia... Nos Estados Unidos, em Outubro participei do lançamento da mais moderna tradução ao inglês de «O Livro dos Espíritos», de Allan Kardec, na cidade de Filadélfia, na Praça da Independência, em memorável solenidade. Diversos livros mediúnicos recebidos por meu intermédio foram vertidos ao inglês, ao espanhol, ao esperanto, ao francês e, no corrente ano, além de novas traduções e publicações nos idiomas citados, acrescentamos os que estão sendo lançados em sueco, em checo, em turco, em albanês e em húngaro...

Neste corrente ano já estive na Colômbia, no Peru, nos Estados Unidos, agora em Portugal, devendo seguir à Inglaterra e Escócia, para depois, a partir de Maio, prosseguir pela Suíça, Áustria, República Checa e República Eslava, Alemanha, Suécia, Noruega, Dinamarca, posteriormente Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, novamente Estados Unidos, Espanha (para novo Minicongresso Espírita, em Valencia)...

RE - Quando se faz fecundação in vitro, pode acontecer que reencarnem espíritos não programados, isto é, reencarnações compulsivas, apenas por afinidade vibratória, quer por vontade dos próprios espíritos, quer por vontade dos espíritos superiores?

DF - Nas soberanas leis do Universo, a palavra acaso é desconhecida. Afirma Joanna de Ângelis que aquilo que consideramos como acaso é resultado de um trabalho muito bem organizado, a fim de ocorrer no momento exato. Porque não se conhecem os mecanismos determinantes de tais acontecimentos, denominam-nos como sendo casuais. Tudo, porém, é causal, exceto a precipitação, a incoerência, a violência e outros males que o indivíduo gera para si mesmo sob a ação do seu livre-arbítrio.

Desse modo, na fecundação in vitro, o espírito que se vai reencarnando certamente está vinculado aos seus futuros pais, como é natural, qual ocorreria no fenômeno da fecundação convencional. Essa afinidade vibratória entre o reencarnante e aqueles que o receberão como filho está estabelecida na Lei, que organiza o evento. Funciona, portanto, por necessidades evolutivas de todos aqueles que se encontram envolvidos no processo da reencarnação.

RE - A Federação tem vindo a fazer um esforço notável para se afirmar no contexto social. Que conselho daria aos centros espíritas portugueses, em relação ao movimento?

DF - O Evangelho de Jesus narra uma parábola que pode ser aplicada à ação que devem desenvolver os centros em relação à Federação. Trata-se daquela que se denomina o feixe de varas. Em síntese, propõe que uma vara pode ser partida com facilidade por qualquer pessoa; duas igualmente; três já se fazem mais resistentes, portanto, mais difíceis de serem arrebentadas. No entanto, tratando-se de um feixe, é muito menos provável que alguém as arrebente, senão impossível. Equivale dizer que o indivíduo ou a associação, a sós, são muito vulneráveis a qualquer atentado, seja de natureza cultural, comportamental, ética, ou mesmo mais susceptível de desaparecer ante os desafios normais da vida. No entanto, quando se congregam, formando um todo unificado, adquirem resistência para os embates de vário tipo que têm de enfrentar no seu processo de evolução.

Desse modo, a Federação Espírita Portuguesa é a entidade-máter do movimento espírita neste país, que deve unificar todas as associações, núcleos, centros, a fim de que se torne forte e bem direcionado o trabalho doutrinário, que tem por objeto divulgar e levar à vivência todos aqueles que fazem parte do conjunto que constitui a lição viva da doutrina espírita.

Contribuir, mediante adesão, assistência, participação nas atividades desenvolvidas pela FEP é dever, não só das instituições como também dos espíritas em geral, porquanto, conforme ensinou Jesus, a casa dividida cai. Não é propósito de nenhuma federação espírita uniformizar os espíritas ou o movimento, mas sim unir os adeptos do espiritismo e as casas que se apresentam como espíritas.

RE - E aos espíritas em geral?

DF - Temos todos o dever de contribuir para o sucesso dos empreendimentos doutrinários e unificacionistas da Federação de cada um dos nossos países, e, no caso em tela, de Portugal, até porque ela é o resultado do que dela fizermos, especialmente das casas espíritas que a constituem, pois são essas que a formam, dão-lhe vida e sustentação.

Assim, qualquer movimento reacionário tem como meta infeliz conspirar contra o progresso da divulgação do espiritismo e transforma-se em exemplo negativo de comportamento moral daquele que assim proceda.

RE - Que dizer aos nossos leitores num momento tão especial como este em que nos visita com redobrada esperança para todos nós?

DF - Allan Kardec foi o jornalista espírita modelar. Em toda a «Revista Espírita», por ele redigida e publicada durante 11 anos e 3 meses, encontramos o exemplo do periodista de bem, sempre voltado para os valores da dignidade e do dever. Jamais utilizou a pena para infamar e nunca perdeu tempo em discussões inúteis. Todo o espaço de que dispunha, aplicou-o para ensinar, corrigir, educar. Quando atacado, esclarecia, sem permitir-se usar as armas da covardia ou da infâmia. Sempre recorreu à lógica e à razão, vendo, no adversário, alguém que merecia respeito, embora não concordando com as suas idéias ou métodos de combate. Estóico, sempre se manteve acima dos seus opositores, vivendo o ideal que esposava como verdadeiro espírita. Nele temos o modelo a seguir, o grande inspirador do jornalista espírita, portador dos excelentes recursos da mensagem de elevação, do pensamento edificante, do roteiro iluminativo. Diríamos aos nossos caros leitores que, não obstante a hora grave que vivemos na Terra, o espiritismo é a grande luz que verte do alto para apagar as sombras teimosas da ignorância e conduzir com segurança as mentes e os corações ao porto da paz.

FONTE: Revista de Espiritismo, Julho/Setembro de 1998

 

OUTUBRO/2010

Neste mês de Outubro, conforme anunciado, apresentamos entrevista exclusiva com o Médico, Filósofo e Psicólogo espírita André Luiz Peixinho.

Integração dos modelos terapêuticos na perspectiva evolucionista

Medinesp 2007 – 150 anos em busca da integração corpo-mente-espírito.

O médico André Luiz Peixinho, 56 anos, é graduado também em Filosofia e Psicologia, neste caso, com especialização em Psicologia Clínica, mestrado em Medicina Interna e doutorado em Educação. Atualmente, é professor adjunto da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública. No Medinesp, o congresso da Associação Médico-Espírita, ocorrido em junho de 2007, ele tratou do tema Integrando os Modelos Terapêuticos numa Perspectiva Evolucionista, sobre o qual conversou com a Folha Espírita.

Ismael Gobbo

Folha Espírita – Quais os modelos terapêuticos que devem ser integrados, para atender a saúde das pessoas, levando-se em consideração o espírito?

André Luiz Peixinho – Considero que é importante integrar, primeiro, as áreas do conhecimento, ou seja, a filosofia, a ciência, a religião e a arte. Se fizermos isso, veremos que em todos os campos existe um modelo terapêutico que leva em consideração o espírito. Precisamos aproveitar todas as experiências humanas e, na verdade, alinhá-las conforme o estágio evolutivo em que elas se encontram. A partir daí, então, devemos escolher os modelos que são mais adequados para cada situação, para cada pessoa, e para cada momento cultural e histórico. Então, todos os modelos hoje existentes, mesmo os fragmentários, podem servir, desde que contenham uma idéia diretora e organizadora das suas propostas.

FE – Por que muitos profissionais ainda resistem a essa integração?

Peixinho – Em primeiro lugar, porque cada um, ao trabalhar num determinado modelo, acostuma-se a ver a sua realidade como se fosse um todo. Então, define o mundo a partir de sua própria experiência, generalizando indevidamente. Este parece ser o motivo principal da resistência encontrada. Além disso, a comunicação entre os modelos ainda é difícil porque eles quase são incomensuráveis, isto é, lidam com realidades diferentes.

FE – Dentro de uma perspectiva evolucionista, é possível prever qual será o modelo terapêutico mais utilizado no futuro?

Peixinho – Eu não diria qual o modelo terapêutico, mas qual a idéia diretora que organizará os diferentes modelos terapêuticos. Uma das características é que ela leve em consideração que o ser humano é, ao mesmo tempo, um ser coletivo, porque é humano, e, ao mesmo tempo, individual, singular e único, porque está em fase evolutiva diferente. Uma segunda característica é considerar relevante a multidimensionalidade do ser humano. Há aspectos da saúde que são biológicos, sociais, psicológicos, afetivos, de um modo geral; há aspectos que são espirituais, mediúnicos, interexistenciais, palingenésicos. O modelo que conseguir integrar o maior número de dimensões e suas práticas terá mais chance de sucesso.

FE – O senhor acredita que os livros do professor de Física Quântica, Amit Goswami, têm trazido contribuição importante para essa integração? Que acrescentaria à contribuição dele?

Peixinho – Ele faz uma abordagem a partir da Física Quântica que desafia os profissionais da área de Saúde a praticarem a sonhada integração dos modelos. Isso é de extrema relevância, partindo de alguém que é de fora do campo, e constitui uma visão auxiliar muito importante. Ele consegue lidar, por exemplo, com a Medicina Ayurvédica, com a Homeopatia, a Acupuntura e com a Medicina Alopática. Não é a totalidade das possibilidades terapêuticas, mas é um significativo avanço tentar identificar uma estrutura comum para atuar com esses modelos. Além disso, falta uma perspectiva evolucionista na integração dos modelos supramencionados.

FE – O senhor tem feito palestras procurando difundir e aplicar o novo paradigma que visa à saúde do ser humano integral. Acredita que tem havido avanços na aceitação desse modelo?

Peixinho – É claro, acredito que tem havido muitas modificações culturais. Hoje, o tema espiritualidade já é estudado numa rede universitária; já temos algumas brechas na própria legislação, nos currículos de Medicina, de modo que o que falta agora é uma implementação, uma organização prática, para demonstrar a sua própria validade. Esse é o atual estágio em que estamos tentando nos organizar, lá na Bahia, com a instituição que fundamos, denominada Sociedade Hólon (SH).

FE – Que é a Sociedade Hólon?

Peixinho – A Sociedade Hólon é uma entidade sem fins lucrativos que desenvolve práticas profissionais com base na visão de mundo centrada no espírito. Por isso, atua em saúde e educação, por meio de seus centros de trabalho, todos eles voltados para a formação de estudantes de graduação e pós-graduação em parceria com universidades. Hoje, concentramos nossos esforços no Complexo Comunitário Vida Plena, que serve a uma comunidade de duas mil pessoas, no Centro de Estudos Universitários, que realiza diversos cursos de transdisciplinaridade aplicada, e o Centro de Aperfeiçoamento da Pessoa, com atividades de autoconhecimento e percepção espiritual. Recentemente, publiquei o livro A Face Eterna do Ser, uma coletânea de artigos populares que enfoca o pensamento espírita e suas contribuições para o conhecimento transdisciplinar, baseado no espírito, que fundamenta as atividades da SH.

FE – Você vem falando sobre a necessidade de o médico levar em conta o diagnóstico psíquico do paciente e não apenas as sintomatologias físicas. Isso tem sido usado por muitos médicos?


Peixinho – Não, evidentemente, pois a maioria dos médicos trabalha em sua especialidade. Quando esses profissionais trabalham com exames psíquicos, são psiquiatras, e com os exames médicos biológicos, são clínicos, de um modo geral. O que estamos tentando fazer é reconstruir o exame médico para que os estudantes da atualidade tenham acesso a uma abordagem integrada, como hoje já recomenda o Ministério da Saúde, ou seja, um exame biopsicossocioambiental, pelo menos.

FE – O registro do diagnóstico psíquico pode fazer parte do prontuário do paciente, ao lado das anotações dos sintomas físicos?

Peixinho – Em algum momento, esse registro vai se tornar comum. Tanto as observações e informes mediúnicos de sensitivos como também as experiências de variações da consciência do próprio paciente serão de muita utilidade. Isso vai demandar um certo tempo, mas entendo que os espíritas poderão ser um grupo de pacientes que facilite isto, até porque reconhecem tais informações como válidas. Quando forem pacientes, poderão permitir que se integre a base mediúnica no sistema diagnóstico, no sistema informacional, o que, sem dúvida, me faz antever um avanço significativo na qualidade da atenção à saúde.

FE – Você acha que a mediunidade curadora deve ser incentivada, nas nossas casas espíritas, pela formação de grupos que visitem enfermos para orar e aplicar passes?

Peixinho – Já existe uma base científica, inclusive fora do meio espírita, para justificar esse tipo de prática. A teia de relações humanas melhora a qualidade de vida das pessoas. As terapêuticas espirituais e a elevação espiritual dos pacientes seguramente são causa de bem-estar, de aceitação do sofrimento, afora os resultados de melhora psicofísica, já relatados na literatura especializada. Então, nesse aspecto, penso que isso já está justificado. Entretanto, há um campo que ainda não foi muito bem explorado, que é o da pesquisa interexistencial com produção diagnóstica, exames complementares, dentre outras. Seria interessante que nós, espíritas, tivéssemos, por exemplo, de alguma sorte, interlocutores-consultores que orientassem a terapêutica para uma visão evolutiva, para uma visão reencarnacionista, até porque algumas doenças orgânicas já são uma terapêutica para disfunções espirituais ou perispirituais. Essas informações melhorariam significativamente nosso cuidado com as pessoas.

FE – Tanto o senhor como muitos conferencistas internacionais falam em educação para a morte. Acredita que seria bom os médicos terem essa visão?

Peixinho – Penso que a educação para a morte não deve ocorrer apenas quando o evento esteja em vias de acontecer, porque, nessa circunstância, há pouco tempo para aprendizagem. Parece-me que o tema deve fazer parte dos currículos educacionais, de um modo geral. A morte é um evento esperado, variando para mais ou menos tempo. E, é claro, que ela desperta muita ansiedade, muita angústia existencial, num mundo que é eminentemente corporal e egóico. Assim, a educação para a morte deve ser voltada para o bem viver, processo do qual a morte é uma conclusão. Claro que atender os pacientes que chamamos de doentes terminais já é significativo, porém deveria ocorrer bem mais precocemente.

FE – Quais as contribuições mais importantes da Sociedade Hólon na produção de um modelo integral de atenção à saúde?


Peixinho – No estágio atual de sua organização, a Sociedade Hólon trabalha em algumas ações específicas preliminares. Entre elas, destacamos: um modelo de anamnese biopsicossocioespiritual, com uma equipe interdisciplinar, num centro de saúde da família; um grupo de pesquisa anímica e mediúnica para identificar sensitivos com capacidade diagnóstica e terapêutica; e um núcleo de estudos sobre saúde e transdisciplinaridade, para analisar os modelos de promoção, prevenção, terapia e reabilitação, e definição de um modelo integrativo.

O e-mail de André Luiz Peixinho é andrepeixinho@bol.com.br

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SETEMBRO/2010

Entrevista com o Escritor, Cientista, Expositor Espírita e Médico Psiquiatra Jorge Andréa dos Santos.

 

E o Papa João Paulo 2º pediu “perdão a Deus e desculpas ao mundo”


No ano de 2000, o falecido Papa João Paulo 2º, falando como soberano Pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana, pediu formalmente desculpas ao mundo  num evento penitencial solene e sincero. O Pontífice também pediu oficialmente perdão a Deus, “em nome da Santa Igreja”, diante dos pecados cometidos pela Instituição  desde a sua fundação há dois mil anos. E, mais adiante, João Paulo 2º pediria, também,  desculpas ao mundo pelos  “dramas relacionados com a Inquisição e pelas  feridas deixadas na memória”, referindo-se à reminiscência coletiva  registrada depois daquele funesto e longo  período histórico".
O gesto, sem precedentes na História da Igreja Católica, ocorreu  na Basílica de São Pedro, em Roma, durante a Missa do primeiro domingo da Quaresma. Segundo a imprensa da época, sete confissões de culpas foram formuladas por sete dignitários da Cúria Romana, seguidas de sete pedidos de perdão pelo próprio Papa. Também se registrou  uma confissão geral  pelas culpas do passado e um pedido formal de perdão pelos “erros cometidos a serviço da verdade por meio do uso de métodos que não têm relação com a palavra do Senhor"; pela separação dos cristãos; pelas perseguições impiedosas aos judeus; pelo desrespeito às  culturas e religiões de todos os povos; e, finalmente, um mea culpa pelas longas e reconhecidas violações dos direitos humanos..
"Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; 15 se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas".(Mateus 6:14-15)

A posição do Espiritismo diante do pedido de perdão do Papa


Entrevista com Jorge Andréa dos Santos: “Todo pedido de perdão é um perdão e um grande começo”. A Revista Além da Vida foi buscar no escritor, cientista e famoso expositor espírita, o médico psiquiatra Jorge Andréa dos Santos, (90 anos) -   uma das maiores autoridades morais e intelectuais  do Espiritismo -  a síntese do que pensa a Religião codificada por Allan Kardec sobre essa longa noite histórica de perseguição religiosa. E Jorge Andréa concedeu a seguinte entrevista:


Revista Além da Vida -  Sabemos que o Livro dos Espíritos, o primeiro do  chamado  pentateuco kardequiano, foi incluído no Index Librorum Prohibitorum”, (índice dos livros proibidos)  criado ao tempo da Inquisição, como “obra capaz de corromper os fiéis”. O Espiritismo aceita o pedido de perdão do Papa?
Jorge Andréa - Todo pedido de perdão é um perdão e um grande começo para o equilíbrio das mentes. Este caminho nós não podemos nos furtar e separar. Quem perdoa tem necessidade imensa de cobrir as dificuldades pretéritas. A Doutrina Espírita, pelo seu grande movimento holístico, não poderia deixar de apreciar esse pedido que faz parte da sua estrutura de desenvolvimento pessoal, uma estrutura para o equilíbrio das mentes, para o equilíbrio do homem, para o equilíbrio de uma sociedade.  A Doutrina Espírita, que não se posiciona contra qualquer fórmula religiosa, seja de que natureza for,  tem naturalmente uma posição de equilíbrio para sentir na comunidade de cada setor desses, de cada formulário religioso, de sentir os seus limites e, mais do que isso, uma necessidade para um grupo que ainda não atingiu o potencial holístico universal que a Doutrina Espírita professa.
“Não importa de onde veio o ser humano e qual as suas paragens. O que temos de considerar é o seu cabedal moral e intelectual”.


Revista Além da Vida - Considerando que os seres humanos são os mesmos em todas as religiões, o senhor acredita que se o Espiritismo tivesse ocupado o lugar da Igreja, há dois mil anos, como Instituição religiosa organizada, estaria isento de qualquer culpa dessa natureza?
Jorge Andréa -  É preciso considerar a evolução da sociedade nessas épocas. Conforme o tipo de evolução, o homem poderia ser mais universal, ou menos  universal e coibido pelo seu interior, pelas suas necessidades pessoais, que devemos levar em conta no contexto da espécie humana. Tanto isso é verdade, que existe uma multiplicidade de conceitos religiosos pelo mundo, porque o homem é diferente, ainda não atingiu um patamar daquilo que podemos dizer -  da estrutura da Doutrina Espírita -   de irmandade. Quando seremos irmãos realmente na Terra? Esses rótulos religiosos todos desaparecerão, inclusive o próprio rótulo Espírita, uma vez que, de futuro, teremos uma Religião – porque isso não pode deixar de existir -  e que se vai chamar Fraternidade.
"A Religião precisa da Ciência para se estabelecer com equilíbrio”.


Revista Além da Vida - Nossos maiores ídolos Espíritas foram católicos: Francisco de Assis, Vicente de Paulo, Joanna de Angelis, Teresa D'Ávila e por ai em diante. Como o senhor vê essa realidade?
Jorge Andréa – Tudo é uma questão de evolução.  Não importa de onde veio o ser humano e qual as suas paragens. O que temos de considerar é o seu cabedal moral e intelectual. Vamos falar de Joanna de Angelis... Ela foi, segundo  Hermínio Miranda, com sua grande visão,  a Rainha  Nefertiti, mulher de Amenofis IV, da 19ª dinastia egípcia. Depois com a vinda do Cristo, retornou como Joanna de Cusa, vivendo as dificuldades que os cristãos da época passaram. Mais tarde, ela reencarna junto com Francisco de Assis, que foi um dos apóstolos do Cristo (João evangelista). E ela volta como Clara. Ela e Francisco sofreram, por assim dizer, um rebuliço intelectual, religioso, afetivo, muito grande. Ela funda as Clarissas e ele a fraternidade dos franciscanos. Depois não tenho mais notícia dele, mas ela volta, agora como Joanna de Ângelis, que marcou presença na época de nossa Independência, na Bahia, quando os portugueses invadiram o seu Convento e ela foi sacrificada por um soldado. Reencarnou, ainda, como Juana de la Cruz, no México, que fez jornadas fantásticas no movimento intelectual.  Então, não importa de onde ela veio, assim como não importa de onde veio um Francisco de Assis. Importa que foi um Espírito que se formou não só no intelecto, mas na moral, no amor e no amor através de grandes compromissos dolorosos, com dores físicas. Clara e Francisco não recusaram a vida, mas ficaram distante do processo normal de vida de todo mundo. Na sua característica, na sua formação, vieram de degrau em degrau num processo altamente produtivo e evolutivo. E isso é o que interessa e não a Religião a que pertenceram...


Revista além da Vida - A seu ver, o preconceito religioso ainda prejudica a evolução da Ciência?
Jorge Andréa - Considero que sim, se bem que houve uma abertura muito grande com Einstein, quando disse que a Ciência precisava da religiosidade, ou da religião (ele falava de uma Religião Superior, não rotulada), assim como a religião precisa da ciência para se estabelecer com equilíbrio. E este casamento da ciência com a religião está se dando através da Doutrina Espírita.


Revista Além da Vida -  Disse certa vez um político, ironizando, que “a lógica é a pior forma de convencimento”. Na sua avaliação esse princípio se aplica, ainda que a contragosto, no contexto da concepção religiosa, já que  as provas científicas de fenômenos espíritas (reencarnação e comunicação) ainda não conquistam as massas mundiais?
Jorge Andréa – O Espiritismo tem apenas 150 anos. Não é nada. Somos a Nação mais Espírita do mundo. Porém, somos apenas 6 milhões, incluindo simpatizantes. Para onde vamos caminhar? Claro que será sempre num processo de evolução. No dia em que a ciência colocar o Espírito dentro das células, como fica isso? Os processos religiosos vão entrar  em ritmo de acomodação. Não estranharei se amanhã os grupamentos protestantes e católicos vierem a colocar o processo de reencarnação em substituição ao de ressurreição...


Revista Além da Vida - Qual o papel do Espiritismo no futuro das Religiões?
Jorge Andréa - É de totalidade. O Espiritismo vai dar uma abertura muito grande. Estará   presente 24 horas. Só se vai trabalhar para o bem. No mundo, só vai preponderar o amor. Os indivíduos se entenderão.  As guerras fratricidas vão desaparecer. Os movimentos telúricos se abrandarão. Quem sabe se esses movimentos telúricos de hoje não tem  correlação com a massa imensa de pensamentos negativos. Somos uma tônica vibratória do universo. Cada indivíduo tem sua faixa, mas a comunidade humana tem uma faixa geral de irradiação. 6 bilhões de indivíduos irradiando. 18 bilhões de Espíritos do lado de lá, presos na atmosfera terrestre, irradiando. Como fica isso? No dia em que o homem tiver a irmandade que ele precisa alcançar, tenho a impressão que a vida na Terra abrirá um conceito fantástico da ciência. O trabalho não será mais esta obsessão de hoje. Todo mundo vai trabalhar com calma, com horas de lazer, de música, de literatura. E dentro desse contexto o Espiritismo estará irradiando o tempo todo, em todas as direções religiosas. E nesse sentido dizemos que o Espiritismo não será a Religião do futuro, mas o futuro das Religiões.